Wednesday, March 21, 2007

dir-te-ei em segredo...

O Dia Mundial da Poesia, instituído pela Unesco, é hoje celebrado, com homenagens ao poeta afegão Jalal al Din Rumi, que, neste ano, comemora 800 anos de nascimento.
Um dos mais expressivos poetas sufis, nasceu em 1207, em Balkh (actual Afeganistão). Jalal ud-Din Mohammed Ibn Mohammed al-Balkhi Rumi era filho de um sábio religioso. Aos 25 anos, foi enviado para a cidade de Aleppo, para frequentar o ensino superior e, mais tarde, para Damasco. Rumi tornou-se famoso pela sua introspecção mística, o seu conhecimento religioso e a sua poesia.

Vêm
Dir-te-ei em segredo
Aonde leva esta dança
Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteadas.

Cada átomo
Feliz ou Miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.

Ninguém fala para si mesmo em voz alta
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.

Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo

*

Não posso dormir quando estou contigo
por causa do teu amor
Não posso dormir quanto estou sem ti
por causa de meu pranto e gemidos.
Passo as duas noites acordado
mas, que diferença entre uma e outra!

Não temos nada além do amor
Não temos antes, princípio nem fim
A alma grita e geme dentro de nós:
- Louco é assim o amor
Colhe-me, colhe-me, colhe-me

À noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em seu ouvido:
- Isto não se pode dizer, isto se aprende

A fé da religião do Amor é diferente,
A embriaguez do vinho do Amor é diferente,
Tudo que aprendes na escola é diferente.
Tudo que aprendes do Amor é diferente.

Vem ao jardim da primavera, disseste.
- Aqui estão as belezas, os vinhos e a luz.
Que posso fazer com tudo isso em ti?

E se, estás aqui, para que preciso disso?
Jalal al-Din Husain Rumi

A escolha do poeta passou, quero crer, pelo reconhecimento da importância da poesia neste mundo conturbado, podendo o escritor ser a ponte necessária entre vários saberes. A poesia é, como diria Natália Correia, "a armadura da linguagem" através da qual o poeta luta contra o obscurantismo, a opressão e a ignorância e se bate pela justiça social, por uma elevação cultural e ontológica. Bem vindos ao Clube dos Poetas e da Poesia!!!

17 comments:

[[cleo]] said...

Olá Luis!

Tens sempre coisas interessantes no teu cantinho, como esta!

Talvez a poesia seja um escape para os males do mundo...
Um mundo visto e contado com palavras doces, saídas da alma de um poeta sonhador... quem sabe!
Cada alma possui um sentir diferente e único!

Gostei de saber que hoje se assinalava o Dia Mundial da Poesia e também gostei de conhecer um pouco da história e da obra deste poeta.

Um beijinho soprado

vida de vidro said...

Uma escolha de beleza e inteligência. Para construir as tais pontes. **

Leticia Gabian said...

Não consigo imaginar o mundo sem a poesia, sem a literatura. Não viveria sem a música, sem a pintura, sem o teatro, sem o cinema. Tudo isso se mistura ao ar que preciso respirar.

Jalal era filho de um sábio religioso... bem se vê.

Abração, daqui da linha de baixo do Equador

Luís said...

Mais uma excelente escolha Luís.

Tocou-me de uma forma especial as referências feitas a Natália Correia: o Verbo é, de facto, uma arma muito poderosa.

Um abraço

Moura ao Luar said...

Beijo poético

isabel said...

Que escolha interessante!

Poesia, a outra arma!

Beijos

Maria P. said...

Magnífico!

Boa noite.

PintoRibeiro said...

Bom. Sem polémicas. Rumî é um místico, ( e Poeta Grande certamente ), nascido no antigo Império Persa, logo, hoje República Islâmica do Irão. Mestre Sufi, também. Imenso. Tenho trabalhado muito nele. Estudei-o em Qom. Se puderes lê, na Assírio, Contos Sufis. O trabalho que deu apoiar a traduzir aquilo na Embaixada do Irão. O tradutor esteve nas celebrações em Lisboa da Revolução Iraniana. Ao Irão e aos xiitas o que é seu. Para acabar: não há sufismo sem Islão. Salam, um abraço,

PintoRibeiro said...

Aliás: " Contos do País dos Sufis ", acho.

Anonymous said...

Bela forma de uma retrospectiva ao passado,construído assim uma ligação entre o "nascimento" da poesia e o seu futuro,tendo como baluarte o poeta afegão Jalal al Din Rumi.

Uma escolha bastante interessante
Beijinhos Zita

Maria said...

Não conhecia este poeta. Vir aqui é uma aprendizagem constante.

Um abraço
(gosto do Ibrahim Ferrer)

Estranha pessoa esta said...

Acabei de vir de um blog cujo autor referia que foi graças à UNESCO que existia o Dia da Poesia.. perguntei onde poderia saber mais sobre esse assunto, e eis que vim agora aqui parar.. e encontro o que queria saber ;)

Não conhecia este poeta, fiquei curiosa, tenho que ler mais linhas e entrelinhas deste grande senhor.

Abraço Estranho sem Prosa

Vulcano Lover said...

que sería da vida sem poesia... com certeza cualquer coisa menos cheia de sonhos...

um abraço

Telejornalismo Fabico said...
This comment has been removed by the author.
Telejornalismo Fabico said...

*



confesso que eu gosto dos poetas que falam das coisas cotidianas, da vida pequena, do estranho sentimento de estar vivo.

gosto da linguagem simples, popular, fácil, aquela que qualquer um entende. mas que quando conjurada com o significado exato, transcende a alma.

aqui no brasil, há um poeta chamado mario quintana que resume bem isso. fez poemas curtos, limpos, quase aforismos.

talvez não o melhor, mas o mais recorrentemente citado seja esse:

POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


pueril e tolo como só um bom poeta sabe ser.



*

Jonice said...

Que posta maravilhosa, Luís!

Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo
...
...
- Isto não se pode dizer, isto se aprende

Sim, sim ... a poesia vem em socorro de um mundo conturbado. Ouçamo-la sempre!

Beijinho :)

Anonymous said...

Não conhecia este poeta que aqui está mas gostei muito de que li.
De facto os poetas têm o dom de pôr sentimentos traduzidos em palavras que muitas das vezes nos assentam que nem uma luva...

Uma poetisa que gosto bastante é Maria Teresa Horta, e apesar de gostar de quse todos os seus escritos, lembro-me neste momento do poema "a voz"

Beijo