Monday, October 01, 2007

que farei quando tudo arde?

Dezarrezoado amor, dentro em meu peito
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.

Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força, faz, desfaz,
sem respeito nenhum, e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.

Doutra parte a razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo: em fim vem o seu dia.

Então não tem lugar certo onde aguarde
amor; trata traições, que não confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde?

Sá de Miranda

Que Farei Quando Tudo Arde? Titulo emprestado a António Lobo Antunes que por sua vez o pediu de empréstimo a Sá de Miranda. Era de noite, estremeço com o som do telefone, daqueles que causam um medo ruim, lágrimas e desespero do outro lado da linha, doença grave, uma vida por um fio, filhos em lista de espera, cenário dantesco, injusto de mais. Constato que todos os ângulos são desfavoráveis, enfermidade a rondar por todo o lado. A dor muda-nos a vida, o papel de conselheiro (de coisa nenhuma) tem que ser preenchido. Esse papel atormentado é meu. Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem acontecido todas as hecatombes no mundo, mas uma doença com uma janela virada para a morte, não. Tenho que fazer de conta que não choro, nem por dentro e embora de olhos secos, o coração permanece molhado. Tudo se torna complicado, mais do que se possa imaginar e, ao mesmo tempo, mais delicado do que se poderia conceber. O dedo gelado do medo, percorrendo o meu corpo, amornava-se à temperatura do sangue. Mas, não posso conceder demais aos meus medos, visto que, agora, não é tempo de agir, mas apenas de esperar. Que Farei Quando Tudo Arde?

30 comments:

João Roque said...

Amigo Luís
confesso que me assustas...
Espero ter interpretado mal este teu post.
Um abraço, tão forte quanto precisares.

avelaneiraflorida said...

Caro Luis,

ALA escreve ou reflecte sobre uma terrível experiência...

Quando ela passa por ou sobre nós...a pergunta torna-se indubitavelmente o início da caminhada para o MUNDO DA CORAGEM!
UMA BOA NOITE!

kiduchinha said...

Querido Luís, não sabendo o que se passa, espero que tudo corra pelo melhor! Muita força! As dores e os medos são tão difíceis... Estou contigo! Beijocas

Ka said...

Há alturas em que as palavras sobram...esta é uma delas.
Apenas te digo para teres fé em que tudo se resolva.

Um beijinho grande e fica bem

joshua said...

É preciso ir buscar outras energias e outros recursos ao silêncio supremo. É preciso reencontrar as fontes vivas.

É preciso ficar firme.

eu said...

(Amigo), porque o fim é sempre o mesmo
na paragem
à espera do transporte


ao

...norte...

Maria Eduarda Colares said...

Tudo parecia tão sereno. Entre o panorama de Lisboa, as considerações literárias e o recordar Marcel Marceau, corria um rio tranquilo. Subitamente vejo a perturbação destabilizar a harmonia. Embora sem saber o que se passa, não quero deixar de desejar que não seja tão mau como parece. Coragem e força.
Um beijo

BlueVelvet said...

Luis,
já tinha estranhado o silêncio de uma semana.
Fiquei baralhada com o ínicio do post, triste com a tristeza que nele escorre e assustada depois.
Se ficou com o papel de conselheiro, muito difícil embora, pelo menos não é o protagonista da peça que se passa nesse palco.
A fase da espera custa muito mais que a do agir, portanto agora tudo arde.
Fé, muitos pensamentos positivos, muita esperança,muita coragem e um abraço do tamanho que quiser.
BlueVelvet

Vulcano Lover said...

a vida sempre corre sobre nós em guerra... guerras justas e injustas. falta-me tua voz. A minha ficou muda.
Estas bem?
Um beijo forte, forte.

Jonice said...

A dor muda-nos a vida. A necessidade de cumprir o papel de conselheiro ajuda-nos a centrarmo-nos em meio a momentos dolorosos. Os nossos corações são fonte de coragem e força. Os nossos olhos permitem-nos chorar, ainda que escondidinhos. As nossas lágrimas são amigas de quem precisamos em tais momentos. Toda a força para ti, meu amigo.
Um abraço apertado...

pin gente said...

quando tudo arder?
ficamos impotentes
os braços doem, demais
pesam, demais
as chamas vão queimando tudo
a nós também
não há água que chegue
e, se o fogo não parar,
não haverá água para o resto da nossa vida

espero do coração, que o fogo apague e leve com ele apenas o susto.
um abraço
luísa

Sol da meia noite said...

Ter que esperar sem puder agir, é terrível! Gera no ser humano, um terrível sentimento de impotência...

Gostei deste espaço.
Deixo um beijo!

Shelyak said...

Um abraço...simples, solidário e sentido...

Ana Paula Sena said...

Luís, não sei se interpretei correctamente o seu post. De todo o modo, senti angústia. O que quer se passe, entendo-o, se passa por momentos de terrível ansiedade, dor, embaraço perante a vida, sofrimento...sentimento de impotência e de fragilidade... Entendo-o bem :(
Quando tudo arde, só deixarmos que tudo se consuma e conseguir ficar perto do arquétipo da Fénix renascida.
Mas as palavras conseguem ser vãs perante a vida no seu âmago.
Apenas posso deixo-lhe ficar a minha sincera solidariedade!
E beijinhos

Lúcia Laborda said...

Luis! Espero que apenas seja uma poesia, um escrito... Mas conte com os amigos, viu? Sei que talvez nada possa fazer, mas fica minha energia positiva. Fique com Deus!
Beijos

pin gente said...

espero que a tormenta tenha passado... de vez
um abraço
luísa

avelaneiraflorida said...

CARO AMIGO LUÌS,

Voltei para dizer...ESTAMOS AQUI!!!
FORÇA!

EM FRENTE! CAMINHAREMOS A SEU LADO!!!!

Alexandre said...

Sublime, pena que Sá de Miranda não seja divulgado como merece!!!

Um forte abraço!!!!

Mar Arável said...

Será tempo de agir
ou contemplar.
Depende do fogo e do que arde.

Lobo Antunes - consta-me
que já ultrapassou as chamas
ileso.

Abraço

Jonice said...

Vim te dar um abraço.

tolilo said...

CHUAC|_

tolilo said...

vai tudo correr bem
ACREDITA !
pensa em rosa, eu sei que é difícil mas eu farei um pensamento
rosa
por ti !

santiago said...

Que por aqui tudo corra pelo melhor.

Isamar said...

Luís, amigo!

Creio que um dia passaste pelo meu blogue. Hoje, reencontrei-te na Avelaneira florida e vim fazer-te uma visita. Li Sá de miranda com gosto e reli o teu texto. Não sei se há diferença entre o narrador e o autor. Sei que todos os textos têm algo de autobiográfico.Gostei muito da escrita. Muito!!! Mas fiquei a pensar no que li.
Dá-me a tua mão. Dou-te a minha.
Beijinhosssss

Frioleiras said...

Os fogos apagam-se LG !

Vais ver, TUDO VAI CORRER BEM...

Desejo-te branco
um pensamento sereno e branco
e, olha,
eu acredito em Deus...
peço desculpa por isso...
mas
rezarei por ti
e por todos os que sofrem
é o que nos compete,
a todos e,
aos que não acreditam,
um pensamento positivo por ti, uma corrente de pensamentos positivos, emtre todos nós, os que te lemos
Vai tudo correr bem,
ACREDITA-ME!!!!

Kalinka said...

OLÁ LUIS
Começo por desejar um excelente Feriado.
Na minha teimosia de fazer um 3º post sobre a letra F, faço destaque a um evento – A Real Regata das Canoas 2007, que decorre hoje - dia 5 de Outubro, entre a Moita e Belém, é um evento organizado pelo Centro Náutico Moitense e a Associação Náutica Sarilhense, com o apoio da Associação Náutica do Seixal, da Associação Náutica da Marina do Parque das Nações e das Câmaras Municipais das regiões ribeirinhas do rio Tejo. Juntos voltam a dar vida a uma tradição perdida, quando os reis ordenavam a celebração de uma regata anual em homenagem aos fragateiros. Existem 42 embarcações tradicionais inscritas que, irão soltar velas ao vento e disputar o título entre a praia do Rosário, no Concelho da Moita, e o Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Existem alguns varinos e fragatas municipais disponíveis para embarcar aqueles que queiram assistir à Regata bem de perto. Os privilegiados soltaram amarras às 11:00 de dia 5, na porta Tejo do Parque das Nações. Mas ainda restam muitas opções para apreciar este belo evento ao ar livre. Em terra, pode assistir à saída ao ferro da Praia do Rosário, no Gaio-Rosário (concelho da Moita), às 13:00, e à chegada à meta, no Padrão dos Descobrimentos, a partir das 14:30, a que se seguirá um espectacular desfile das embarcações. Fora de pé há sempre a possibilidade de seguir em barco próprio ou apanhar boleia de um dos muitos barcos na Associação Náutica da Marina do Parque das Nações, bem como de embarcar num cacilheiro Belém-Cacilhas-Belém.
Aceitas a minha sugestão?

Beijokas.

Maria said...

Luís

Li o teu post pensando que poderia ser um novo livro, a sair, do ALA.
Lendo os comentários, coisa que normalmente não faço, deduzi que não. Ainda não.
A escrita dele mudou, ele próprio mudou. Já o tinha dito por aí.
Não sabendo o que se passa, quero dizer-te que tudo vai correr bem, tudo vai correr bem.
Nós queremos que tudo corra bem.

Um abraço muito apertado

Maria Faia said...

Boa pergunta a de Sá de Miranda...
"Que farei quando tudo arde?"
Quem não fez já essa pergunta ou outra similar a si próprio(a)?
Pois eu já a fiz meu Amigo...É dentro de nós que encontramos a resposta mais adequada, no silêncio da nossa alma, do nosso sentir.
Há coisas que nenhum fogo consegue consumir!

Deixo-lhe um abraço e um beijo amigos e solidários, com votos de dias de Luz e Sol.

Maria Faia

ninguém said...

Como já passei por fogueiras semelhantes, amigo Luis, neste distante além-mar, só te posso dizer que não existe noite sem dia subseqüente, por mais sombrio que ele venha, ele virá. E só nos resta viver.
beijo grande

Anonymous said...

Num Pomar de Laranjeiras fazes falta...