Última sessão da tarde. Cinema Nimas. Imitação da Vida representa o adeus de Douglas Sirk a Hollywood e é considerado o seu melodrama irrepreensível. O derradeiro do realizador. É uma versão do filme do mesmo nome dirigido na década de trinta pelo Nova Yorquino John M. Stahl. A história deste remake é a mesma do original com algumas mudanças na construção das personagens. Uma análise amarga dos indivíduos que vivem na insatisfação, Imitação da Vida conta a história de uma actriz em decadência e da sua filha, que acolhe em sua casa uma mulher negra. Lana Turner interpreta o papel de Lora Meredith (que confessou ter sido neste filme, pela primeira vez, tratada como uma actriz). Annie Johnson é a criada negra. As duas mulheres acabam por partilhar as suas vidas e os problemas das respectivas filhas. Inesperadamente um dos mestres do melodrama nos tempos clássicos está no centro da actualidade cinematográfica lusa. Com esta reposição tive a oportunidade de apreciar um exemplo rebuscado de uma arte que parte do mais íntimo para observar peculiares estilos sociais de conduta. Esta versão é indissociável de uma conjuntura em que o cinema arriscava competir com a medrante concorrência do pequeno ecran. Acresce que Imitação da Vida ilustra a subtil politização do género melodramático, numa dimensão astutamente social. Estamos perante um pérfido preconceito rácico protagonizado pela filha de uma negra que manifesta vergonha da sua origem e isso é um factor que atinge todos os que com que ela privam. Tudo isto entre os temores e as ansiedades, as decepções e as incoerências de uma América que, aureolada pela triunfo na II Guerra Mundial, está convencida de ser o exemplo.
A acutilância do realizador não é bastante para justificar a intemporalidade da obra. A admirável actualidade decorre de uma sapiente combinação do exame das emoções com um estilo que não teme os ardis do olhar cinematográfico. Atente-se, em pormenor, a energia das imagens.
Um filme de 1959 e a descoberta de uma obra resistente, ali do outro lado da avenida…
A acutilância do realizador não é bastante para justificar a intemporalidade da obra. A admirável actualidade decorre de uma sapiente combinação do exame das emoções com um estilo que não teme os ardis do olhar cinematográfico. Atente-se, em pormenor, a energia das imagens.
Um filme de 1959 e a descoberta de uma obra resistente, ali do outro lado da avenida…
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5 comments:
tantas máscaras por esse mundo fora! até na mesma cor da pele...
abraço
luísa
caro Luís,
Mais um filme a recordar...
"Brigados" por mais este post!!!!
Mais uma vez dou os meus parabéns ao Nimas. Durante os dois últimos anos exibiu clássicos como "O Leopardo", Profissão Repórter" ou este "Imitação da Vida". O DVD pode ser muito prático e confortável mas nada como ver um bom filme numa sala de cinema, de preferência sem pipocas.
Um abraço.
Caro Luís
andava eu pelos meus 16/17 anos, estudava os dois últimos anos do curso liceal, em Castelo Branco, Havia um jornal regional, que não sei se existe ainda, "A Reconquista", que me convidou para criar uma pequena crónica semanal, de crítica cinematográfica.
Quis o acaso, que o primeiro filme sobre o qual falei foi este drama de Douglas Sirk, ainda sem conhecer, como agora toda a obra do realizador; mas o filme tocou-me imenso e sei que disse maravilhas do filme, eu adorava a Lana Turner, já começava a "admirar" actoresw como o John Gavin (um canastrão, como actor, diga-se de passagem), mas o que jamais esquecerei foi aquele espiritual negro, perto do final, num funeral suponho (já vi o filme há tantos anos...), e que salvo erro era cantado pela Mahalia Jackson...
Já sabia da reposição do filme, uma iniciativa muito louvável do Nimas.
Abraço.
*
eu gosto muito dos excessos melodramáticos que ele imprime nos filmes. é uma ópera sem música.
mas confesso que de todos, fico ainda com Palavras ao Vento (na tradução brasileira para Written on the Wind, de 1956), em que o tom trágico começa na seqüência incial, com as folhas sendo sopradas na soleira da porta da mansão.
*
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