Saturday, June 06, 2009

às dezoito horas e quarenta e cinco minutos…

(René Magritte, La Magie Noire, Musée Royaux des Beaux-arts, Brussels, Belgium)

Este amor
Tão violento
Tão frágil
Tão terno
Tão desesperado
Este amor
Belo como o dia
E mau como o tempo

Jacques Prévert

Ele ia a caminho do Chiado, para participar numa conversa com Ian McEwan sobre a importância dos mal-entendidos nas relações pessoais, a propósito do lançamento do libreto Por Ti, mas Brigitte ia sair na Avenida, de maneira que só tinham duas paragens para estarem juntos. Ainda conseguiram apresentar-se e trocar emails…Ficou a saber que ela integrara muito recentemente a Orquestra Sinfónica Portuguesa. Que era de Leipzig, mas tinha passado os primeiros treze anos em Seattle. O seu sorriso era amplo e aberto e o seu inglês era perfeito, não tinha nem a mais leve sombra de sotaque. Devem ter conversado para aí uns onze minutos – quinze minutos no máximo. Quando ela saiu, ele já sabia que tinha acontecido algo de gigantesco… pelo menos para ele. Não podia saber o que é que Brigitte estava a sentir mas, quando se despediram, ele sabia que tinha encontrado a mulher da sua vida… O amor reinventa as necessidades a uma velocidade alucinante. O Amar não acaba, como escreveu Clarisse Lispector, e tal como para a escritora, sentiu que o mundo era dele e estava à sua espera. E ele queria ir ao encontro do que o esperava. O seu sentir provava que Brigitte, cuja existência ele desconhecia poucos minutos antes, já adquirira o estatuto de desejo incontrolável. De súbito as palavras da Primavera de Grieg ecoaram na sua cabeça: “mais uma vez aconteceu o milagre, mais uma vez me foi concedida a felicidade”. Uma janela aberta para a própria quinta-essência da felicidade. Sentiu que ia morrer se a perdesse de vista naquela estação de metro – morrer por alguém que se entranhara na sua vida apenas às dezoito horas e quarenta e cinco minutos daquele chuvoso final de tarde do mês de Junho, nesta estranha cidade chamada Lisboa…
Luís Galego

13 comments:

Violeta said...

O Amar não acaba...
não, não acaba e é possível amar-se assim. Sim é!
com a certeza absoluta que aquela é pessoa que nso completa que nos faz sentir gigantescos ou pequenos para nos aninharmos nos braços um do outro.
Há amores assim mesmo que para amaioria da spessoas amar assim seja desinteressante, doentio ou qulaquer outra coisa.
mas como diz o poema:
Este amor
Tão violento
Tão frágil
Tão terno
Tão desesperado
Este amor
Belo como o dia
E mau como o tempo
Bom fim de semana

Unknown said...

Estranha cidade, sim, mas LISBOA!!!!
E essa Lisboa pode criar atmosferas muito especiais,contra todas as probabilidades mais científicas e absolutas...
Há mistérios em Lisboa...

Continuação de boas viagens!!!!

João Roque said...

As coisas boas não se procuram...simplesmente acontecem!
Abraço.

AnaLee said...

Lindo, lindo, lindo!

lusibero said...

Sábias palavras ,as de Prévert.Poema que ilustra, plenamente,o que é a vivência do AMOR...Diz-me, Luís...e "ele" que fez quando sentiu que ia perder o "seu" momento de felicidade,ao vê-la entrar no "metro"?Belíssima a imagem escolhida para ilustrar o teu texto...fala de memórias de um amor que podia ter sido e não foi...As coisaa só "são", quando têm que ser, penso eu...És um romântico ilustre, quanto a mim, e não vou mais tratar-te por "você"!
Beijo de lusibero

Vulcano Lover said...

"mais uma vez me foi concedida a felicidade”
E assim é, embora às vezes nen possamos acreditar...

Anonymous said...

Cada vez escreves melhor e com mais sensibilidade.

Os teus textos são cada vez mais poéticos e profundos e o meu prazer ao lê-los é cada vez maior.

Saímos com a alma lavada do teu blog e a acreditar mais que viver vale a pena. Em qualquer lugar do mundo, e em particular nesta nossa estranha cidade chamada Lisboa. E em qualquer lugar do mundo, nem que seja por breves instantes, pode acontecer amor, porque de facto, o Amar não acaba.

Um beijo e obrigada

Ana Paula Teixeira ou Paula Zegre para ti, amigo de há 27 anos

casa de passe said...

Vim trabalhar para Lisboa

Aqui é que me empregaram.

Mas não gosto d Lisboa.


Abração


NINI

Maria P. said...

Saudades também...
Depois volto para ler como mereces.

Beijinho, Luís.

kiduchinha said...

Olá Luís! Como estás? Espero q tenhas recebido a minha mensagem de parabéns!! Não tenho visitado os blogues... nem o teu. sorry! Mas não te esqueço! :)
Já pensaste em publicar os teus textos em livro?? Se não, pensa nisso!!! :)
Excelente semana! Fica bem! Bom descanso nos feriados
Beijocas grds

maria said...

“mais uma vez aconteceu o milagre, mais uma vez me foi concedida a felicidade”.
A felicidade, apesar de fugaz, é melhopr que heroína... é uma droga que tem o seu expoente máximo na partilha, no amor, numa paixão ainda que momentânea e pensada "que para a vida". Todas as paixões são para toda a vida... o amor tem destas coisas, isto é, destes milagres. Um milagre é também a partilha destes textos. Um abraço. agora que nos "conhecemos" também podemos partilhar de "uma certa intimidade".

GS said...

... gostei profundamente de seu texto, deste fluir de escrita onde a sensibilidade prepassa, das referências musicais [Grieg que ouvi esta semana na Casa da Música], das literárias [Prévert, McEwan, Clarisse Lispector, literaturas do mundo].

E depois pensei em Pedro Paixão! Uma escrita cosmopolita, natural, como quem conversa em voz alta!

A imagem soberba, como só Magritte!

Gostei de o 'revisitar'!

Unknown said...

Sou o antónio o filho do fernando antunes do planetadoantónio e era para te dizer que a minha mãe pintou esse quadro!!!!!!!!!!!!!