Friday, November 24, 2006

fado no museu...

"Os meus quadros contam uma história. São uma espécie de ícones de esperança…Nunca houve um artista como eu que manifestasse desta forma este interesse pelo fado. Gosto de calcorrear as ruelas, de ouvir os intérpretes do fado vadio. Há sempre uma lua no céu, um cão que ladra, um galo a cantar… Acho isto uma experiência muito valiosa. Eu sou fado, deambulo aqui como o fado, a minha vida é fado".
Guus Slauerhoff, The Soul of Fado

Guus Slauerhoff, artista plástico holandês, autor de uma obra plural no campo das artes visuais integra, na sua narrativa plástica, os discursos próprios da escultura, desenho, pintura, instalação e performance, encontrando-se representado em várias instituições da Europa e dos Estados Unidos. “The Soul of Fado” constitui o tributo do artista ao universo do Fado, entendido no quadro da sua plena universalidade. O fascínio pelo fado levou-o a visitar Lisboa por várias vezes, nos anos de 2004 e 2005. Alfama, bairro repleto de segredos históricos, e o Museu do Fado que aí se encontra, ganharam para ele um interesse primordial. Durante as suas estadas em Lisboa, desenhou fadistas nas casas de fado e vagueou quotidianamente por Alfama, cuja ambiência conseguiu assim encontrar mais de perto. A arte plástica de Guus Slauerhoff quer representar aquela vivência e experiência do fado, tocando-as, explorando-as, tornando-as palpáveis e visíveis como uma nova dimensão do fado. Paralelamente às suas pinturas, Guus Slauerhoff criou objectos com materiais que"são uma espécie de atributos da vida". Exemplo disso são uns sapatos, que comprou por um euro na feira da ladra, e que o artista deu nova vida caligrafando neles uma letra de fado e baptizando-os de "sapatos de fado". Porque, como confessa, "o fado possibilita-nos, enquanto seres humanos, contar a poesia intensamente profunda da vida". A agendar.

A uma princesa distante
Jamais voltaremos a ver-nos,
Entre nós dois há um mundo pelo meio.
Por vezes, de noite, à janela nos detemos
Mas são outras as estrelas que vemos...
Doutros tempos o enleio.

É tão longínquo o vosso país do meu:
Como a luz da mais funda escuridão - tão distante -
Que viajando sem parar nas asas do desejo, eu
Vos saudaria num suspiro agonizante.

Porém, se for verdade,
Que sonhando o impossível,
Se leva o maior dos anseios
À estrela mais intangível:
Então eu voltarei,
Voltarei todas as noites...
De saudade.
(J. Slauerhoff - Custódio Castelo; int. Cristina Branco)
* Quadro pintado pelo artista e inspirado na fadista Cristina Branco

6 comments:

Tino said...

Parece interessante, gosto bastante do quadro que escolheste para ilustrar o post! :)

Abração!

silvia said...

O quadro é lindo.
Um optimo fim de semana.
Beijos:)

Anonymous said...

"o fado possibilita-nos, enquanto seres humanos, contar a poesia intensamente profunda da vida".
***
Está tudo dito. o eco gritante do que aqui se espelha, testemunho vivo, é para mim Carlos do Carmo, no belíssimo poema "Estrela da Tarde", de Ary dos Santos...

Tenho o grato prazer de conhecer que está a elaborar a primeira grande enciclopédia da música portuguesa, que sairá em Dez. próximo.
Tenho o privilégio maior de trabalhar e ter como vizinhos os investigadores desta matéria ...
Sou sem dúvida uma privilegiada ...

O Fado? Está em permanência comigo ... no MP3, a par de Tangos, Valsas ... Viaja nas minhas deambulações nocturnas, pela voz,sim, mas muito pelos poemas ...
O quadro, belo com toda a certeza.
***
Bom fim de semana. Com Fado!

[[cleo]] said...

O quadro é simples e belo.
Ilustra uma das tuas paixões!
O fado...
O fado, a meu ver, é o declamar das emoções... é o cantar das dores e das alegrias da vida.É uma fórmula única de um estilo luso!

Beijo soprado

kiduchinha said...

LIndo Luís! Obrigada! Não conhecia o poema nem o artista. Bom fim de semana! Continua! Beijocas
sonialx

Maria P. said...

Fado o outro lado do Amor.

Boa noite.