Com projecto de autor desconhecido o Café Martinho da Arcada, o mais antigo de Lisboa, celebra hoje 225 anos. Julga-se que foi a 7 de Janeiro de 1782 que à luz dos candeeiros a óleo abriu portas a Casa da Neve, anos mais tarde baptizada Café Martinho da Arcada, actualmente o mais antigo da capital. O poeta Fernando Pessoa foi um dos seus clientes mais conhecidos e, reza a tradição, três dias antes de morrer, tomou café numa das suas mesas acompanhado do também poeta e pintor José Almada Negreiros. O poeta de «A Mensagem» adoptara o «Martinho» depois de ter sido o frequentador d´A Brasileira do Chiado e dizem que terá pago muitos jantares com poemas, como o que escreveu num menu e que está pendurado na parede até hoje. Ainda se pode ver a sua mesa habitual, como a chávena de café, e o copo de aguardente, assim como alguns dos seus livros. Se estas mesas do café falassem confirmariam que Fernando Pessoa foi um seu «habitué», como deixou registado no poema Sá Carneiro:
É como se esperasse eternamente
A tua vinda certa e combinada
Aí em baixo, no Café Arcada,
Quase no extremo deste continente.
Mas Mário Sá-Carneiro diria outras coisas, destoando do amigo, pois não simpatizava com o Martinho. Lembre-se a carta que datou de Paris (7.8.1915): «Espero uma resposta telegráfica do meu Pai a uma carta que lhe escrevi daqui no dia da minha chegada (...). Eu pedia-lhe nessa carta que me deixasse, por tudo, ficar aqui - pelo menos até me mandar ir para a África. Em suma, bem frisado: tudo menos Lisboa. (...) Acima de tudo me arrepia a ideia sem espelhos de, sem remédio, novamente fundear no Martinho... Não sei porquê esse café - não os outros cafés de Lisboa, esse só - deu-me sempre ideia dum local onde se vem findar uma vida: estranho refúgio, talvez, dos que perderam todas as ilusões, ficando-lhes só, como magro resto, o tostão para o café quotidiano - e ainda assim, vamos lá, com dificuldade. Tanto lepidopterismo!».
O café, esse, custava cinco tostões, já não custa essa delícia mas ainda é um café que mantém algumas tertúlias. Que tal saborear um almoço ligeiro sentado na sua esplanada, com vista para o Terreiro do Paço, espaço mágico que nos remete não só para Pessoa como para outras figuras nacionais que passaram pelas suas cadeiras, Bocage, Eça de Queirós, Cesário Verde, Columbano, Gago Coutinho, Duarte Pacheco,…?
A tua vinda certa e combinada
Aí em baixo, no Café Arcada,
Quase no extremo deste continente.
Mas Mário Sá-Carneiro diria outras coisas, destoando do amigo, pois não simpatizava com o Martinho. Lembre-se a carta que datou de Paris (7.8.1915): «Espero uma resposta telegráfica do meu Pai a uma carta que lhe escrevi daqui no dia da minha chegada (...). Eu pedia-lhe nessa carta que me deixasse, por tudo, ficar aqui - pelo menos até me mandar ir para a África. Em suma, bem frisado: tudo menos Lisboa. (...) Acima de tudo me arrepia a ideia sem espelhos de, sem remédio, novamente fundear no Martinho... Não sei porquê esse café - não os outros cafés de Lisboa, esse só - deu-me sempre ideia dum local onde se vem findar uma vida: estranho refúgio, talvez, dos que perderam todas as ilusões, ficando-lhes só, como magro resto, o tostão para o café quotidiano - e ainda assim, vamos lá, com dificuldade. Tanto lepidopterismo!».
O café, esse, custava cinco tostões, já não custa essa delícia mas ainda é um café que mantém algumas tertúlias. Que tal saborear um almoço ligeiro sentado na sua esplanada, com vista para o Terreiro do Paço, espaço mágico que nos remete não só para Pessoa como para outras figuras nacionais que passaram pelas suas cadeiras, Bocage, Eça de Queirós, Cesário Verde, Columbano, Gago Coutinho, Duarte Pacheco,…?
13 comments:
Pode ser.
Boa semana.
Se apagaron los fuegos artificiales y se acabó la champaña, hay que comenzar de nuevo, este nuevo ciclo que comienza sé que mi esclavo será más devoto, más servicial que años pasados, seguirá siendo mi objeto, mi cosa, mi juguete, quien lame mis botas sin derecho a poseerme...a menos que me dé la gana.E.
Esse café, jà ouvi falar dele, mais nunca achei... Na próxima visita minha a Lisboa tens de me mostrar, não?
Quem sabe se um dia ao tomar um café nessa esplanada, não nos dá vontade de escrever e virmos a ser um grande escritor?
Pessoalmente não conheço mas ouvi falar.
Um dia destes dou um pulo até lá para saborear o café.
Um beijo e um :)
Gosto tanto dessas casas! Só as tenho visto no cinema ... que vontade tenho de um dia tomar um café num local secular!
Beijinho
Em tempo: por aqui não os temos seculares, mas temos cafés muito simpáticos
Já lá fui várias vezes mas só tomar café. Sente-se o peso da história. **
Há algo em Pessoa que sempre me fascinou, é o poeta que mais gosto de ler, mas é mais que isso também. Não sei dizer ou explicar porquê mas tenho uma grande ligação com ele.
Também eu tenho visitar o Martinho, numa qualquer oportunidade, e tentar ver mais um bocado do que ele viu. Sentar-me onde ele se sentou, e sentir o lugar à minha volta.
Deve ser bom ter posse de tesouros como esse Café e poder comemorar sua permanência.
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De cá, longe, me maravilho das riquezas de Portugal, tão presente em tudo que somos.
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Grande abraço sertanejo.
Agora até ia lá beber um cafe Martinho da Arcada.
Gostei de saber a sua história.
Bj**
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esse é um dos grandes charmes de Lisboa: cafés seculares, histórias construídas sobre o tempo, e um povo que não deixa a tradição morrer.
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Já estive nesse café...apoderou-se de mim um sentimento enorme sem nome...só pq Pessoa esteve ali.
Como dizia o Malato: "já fui feliz no Martinho da Arcada!"...
Grandes e boas recordações!...
É o que eu digo! Farto-me de aprender contigo! Se queres que te diga, tenho a impressão que nem conheço este café! Mas vou conhecer! ;)
Grande abraço!
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