Sunday, February 17, 2008

duelo ao sol...

As eleições nos Estados Unidos da América atingem proporções nunca vistas. Multidões em delírio contra plateias atentas: a campanha e o público dos democratas Obama e Hillary são tão dissemelhantes quanto os candidatos. Auguro que Obama seja o próximo Presidente da nação mais poderosa do Mundo. As televisões mostram-me noite a dentro um distinto negro a discursar. O homem que disserta perante públicos arrebatados é um indivíduo de estado. A pose, a locução, as concepções, são a fusão irrepreensível do político no seu melhor, que desenvolve o que pretende fazer, em apontamentos precisos, de uma eficiência não contraditada pelas manchas de poesia. Faz tempo que não se ouvia discursos tão entusiasmantes. O candidato que quer ser o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos oferece uma nova forma de estar na política e um diferente modo de comunicar.

Incessantemente advogo a candidatura de mulheres e a satisfação que me daria ver uma assumir o cargo de Presidente é por demais evidente. Confio na energia de Hillary, a ex-primeira-dama diligente que quer ser a primeira mulher a ocupar a sala oval e que costuma afirmar que "se faz campanha com poesia, mas governa-se com prosa". Os rasgos de machismo que circundaram a sua candidatura ao Senado regressaram com furor mas ela assume um estilo rigoroso, em nome da seriedade que exige "o monte de problemas" deixados pela administração republicana de George W. Bush. Contra os “discursos”, Clinton propõe “soluções”: “My opponent makes speeches. I offer solutions”. É extraordinário como Hillary Clinton, cuja eleição representaria uma mudança histórica, pelo facto de ser a primeira mulher Presidente, deixou escapar esta ideia que tinha uma imensa mais valia eleitoral e, de repente, surge como o rosto do status quo de Washington, que é a última coisa que dá votos numa campanha política na América. Quando Obama surgiu, o aquartelamento da candidatura de Hillary desvalorizou a influência de um negro, com alguma verdura política. Não devia. Embora fosse considerado como um dos mais proeminentes políticos da nova geração, não esperavam que agora este Senador do Illinois, nascido no Hawaii, e descendente de camponeses do Quénia, que viveu em Jacarta, se encontrasse numa posição tão favorecida na corrida Democrata, especialmente contra uma candidata tão forte. No entanto, a disputa não é apenas entre uma mulher e um afro-americano e a probabilidade de um vir a ocupar a Casa Branca, sabendo-se no entretanto que se um deles for eleito fará história institucional e política e ainda bem. A controvérsia é entre estilos de actuação, oratórias e retóricas e rumos de governação. Obama rejeitou ceder sobre pressões convencendo os lobbys de que o mais importante não era o que eles exigiam mas as ideias que ele próprio defendia. Não foi imprescindível o apoio de Oprah Winfrey e do establishment do seu partido para que se percebesse que Obama erigira um projecto político assente em ideais e convicções. Os que arguiam que ele não tinha uma ideia reparam agora que as suas concepções podem arejar o codificado pensamento político americano. E o que observo amiúde nos media é um homem seguro, que votou contra a guerra do Iraque e que vai fazer história não só pela cor da sua pele mas, por mudar a América. Obama oferece a mais eficiente transformação da imagem dos EUA. Esta mudança não é frívola – é essencial para uma estratégia diplomática. A guerra contra o terrorismo islâmico tem duas vertentes: uma militar, a outra diplomática. Vimos o potencial militar face aos Talibã e a Hussein. E vimos o seu fracasso na actuação com o Iraque, nas suas evidentes limitações para defrontar uma demorada guerra contra o Islão radical. O (a) próximo (a) Presidente terá de criar um mix aprimorado de poder militar e diplomático, uma séria matriz ideológica. Não há candidato melhor do que Obama para isto. A vitória do indivíduo está na directa proporção da sua luta; a luta é justificada pela força e a força provém da esperança. Quem acumula uma história como a de Obama e venceu, está preparado para enfrentar os desafios que o aguarda caso seja eleito. Hillary, pragmática e eficiente e que daria uma excelente presidente, não consegue apagar a imagem de marca do seu adversário. E creiam que não deixo de lamentar profundamente que a presidência de um país, mais uma vez, não vá vestir saias…

24 comments:

avelaneiraflorida said...

Um duelo interessante, de facto!

Mas seja UM ou OUTRA...o importante é a verticalidade e a crença num poder que sirva o interesse comum!!!
A ver vamos!!!!

Leonor said...

Eu, que votaria sem dúvida em Obama, continuo sem querer acreditar nas sondagens... não sei realmente o que pense.
Mas de facto, estas eleições Americanas são marcadas por este duelo. Penso que os Clinton não avaliaram bem Obama e têm feito aliás alguma campanha "suja". Não deixo, no entanto, de reconhecer o mérito de Hillary, mas para mim ela representa precisamente um modo de estar na pol+itica com o qual não me identifico. Apesar de reconhecer que Bill Clinton foi um excelente presidente.
Mas quanto a mim, o tempo já outro e Hillary não o percebe, ou pior, não o quer perceber

BlueVelvet said...

Querido Luis,
julgo que nunca a eleição de um Presidente, em nenhum País do Mundo fez os habitantes dos outros países falarem e pensarem tanto.
Na teia da net( passe a redundância) que visito podem ler-se posts sobre o assunto e eu própria, ( ainda por cima com um filho a viver lá) acompanho apaixonadamente este caminhar até à casa mais famosa do planeta.
No entanto, não li até agora, nada tão bem escrito, diria até, tão poeticamente escrito, como este seu post.
Já tinha pensado escrever eu própria hoje, um.
Com sua licença, e dando o seu a seu dono, vou roubar algumas das suas frases e remeter quem me lê, para aqui.
Mais do que concordar ou discordar do que se lê, para mim, ler é uma actividade lúdica.
Poucas coisas me têm dado tanto prazer de ler como este post.
Beijinhos e veludinhos

Lúcia Laborda said...

É uma pena que ainda não tenham dado oportunidade da mulher mostrar que capacidade. Temos acompanhado ano após ano, o homem assumir os papéis didirigentes de Estados e pouco se avança. Apenas, mostram-se fortes, quando se apregoa uma guerra, travestida de paz e em nome de alguma desculpa, para justificá-la.
Bom final de domingo e uma semana de realizações!
Beijos

Outonodesconhecido said...

A ver vamos. Estou cheia de espectativas.
Boa semana. E que tal de "O Complexo, segundo André?"

Maria P. said...

Um duelo, penso que já ganho...
Sem esquecer que foi em 1968, que se deu o mais violento protesto negro da história americana. Quarenta anos depois, um candidato negro disputa uma eleição
presidencial que arrisca ganhar.

Beijinho e boa semana*

Caxuxita said...

Um duelo interessante...

Mas não sei quem ira ganhar a ver vamos...

Beijinho

Maria said...

Até ao lavar dos cestos é vindima, mas a minha preferência vai para o Obama....

Beijinho

samuel said...

Obama nas alturas!
Belo texto este e belo blog aqui tem, caro Luis Galego.
Obrigado pela visita ao Cantigueiro. Continuarei a aparecer por aqui.

Abraço

ana said...

Não posso deixar de concordar que a capacidade oratória de Barack Obama tem sido o ponto alto desta sua campanha,discursos envolventes sem duvida,e que eficientemente Hillary tão bem ripostou quando disse “My opponent makes speeches. I offer solutions”!
E pelo que andei a ler hoje já partiram acusações de plágio por parte da campanha da Srª.Clinton ao discurso de Obama no sábado passado em Winsconsin...ou será isto a imagem do desespero pelas sondagens relativas aos estados que vão a votos na terça-feira que colocam mais uma vez Obama numa posição confortável e a confirmar-se esta tendencia toda a estratégias usadas até então por Hillary começam a ficar em risco!
Bem confesso que seria interessante ver Obama na presidência americana,mas creio que chegada a hora o pragmatismo de Clinton fará com seja ela a candidata democrata, penso eu. Agora a minha questão é que se assim for,será que os republicanos terão mais facilidade em manter-se no poder?

São temas que ficariamos horas a comentar!
post interessantíssimo!

Abraço!
Boa Semana

Carminda Pinho said...

Olá Luis!
Ora aqui está um post interessantíssimo sobre os dois candidatos democratas americanos. Entre um e outro e, pelo que tenho visto e lido, o meu coração balança, mas há uma coisa em Obama que não aprecio, o seu "estilo" parece-me demasiadamente estudado para agradar.
Quanto a quem vai ganhar não vaticino ninguém...é que o povo americano tem surpreendido o mundo nesta matéria...

Obrigada pela visita, não tive tempo de ir aos "arquivos" mas, voltarei.
Beijinhos

Anonymous said...

Excelente texto!
Assino por baixo, excepto a última frase – Hillary não deverá ser Presidente pelo facto de ser mulher (as sociedades matriarcais estão em extinção!), assim como Obama não será melhor Presidente por ser afro-americano.
Escolham-se as ideologias, a escolha pelo sexo e pela cor revelam feminismo/machismo e racismo exacerbado e inconsistente.
O meu voto… se vota-se, sem dúvida Obama!

Penélope

Red Light Special said...

Luis... as tuas palavras poderiam ser as minhas, simplemente tens a incrivel capacidade de as dizer e fazer soar muitissimo melhor.
Sou uma "fã" incondicional de Obama, fico presa em cada discurso que faz, deliciada com cada entrevista. Nunca senti isto com politico algum... olho para aquele homem e sinto que "é o tal".
Por outro lado tenho pena que a presidencia dos EUA não vista saias, essa lufada de ar fresco seria sem dúvida um ponto de viragem (positivo) em toda a politica internacional.
Gosto de Hillary, admiro-a como mulher, se for eleita ficarei satisfeita, mas não radiante.
Por mim será Obama, tem "A" aura certa para ocupar o cargo... espero para ver.

Ps: obrigada pelas tuas sempre gentis palavras, que deixas no Red Light. beijo especial para ti!

Red Light Special said...

Luis... as tuas palavras poderiam ser as minhas, simplemente tens a incrivel capacidade de as dizer e fazer soar muitissimo melhor.
Sou uma "fã" incondicional de Obama, fico presa em cada discurso que faz, deliciada com cada entrevista. Nunca senti isto com politico algum... olho para aquele homem e sinto que "é o tal".
Por outro lado tenho pena que a presidencia dos EUA não vista saias, essa lufada de ar fresco seria sem dúvida um ponto de viragem (positivo) em toda a politica internacional.
Gosto de Hillary, admiro-a como mulher, se for eleita ficarei satisfeita, mas não radiante.
Por mim será Obama, tem "A" aura certa para ocupar o cargo... espero para ver.

Ps: obrigada pelas tuas sempre gentis palavras, que deixas no Red Light. beijo especial para ti!

Jasmim said...

Olá Luis
Hoje deu-me uma nostalgia danada e abri o jasmim e logo pensei em ti. também achei que tratando toda a gente do blogue por tu deveria começar a usar esta regra também para ti.
Um bjo e tudo de bom.

João Roque said...

Caro Luís
o mais importante deste duelo quase diria "fractricida", é que afasta por completo os republicanos da sala oval, e acho que por muitos anos; pois qualquer que seja o vencedor, Obama ou Hillary, um será decerto o vise-presidente do vencedor e no final de dois mandatos (os americanos raramente afastam presidentes no final do primeiro e até Bush o conseguiu, para mal dos nossos pecados), será natural que o vencido agora será então eleito. Claro que tudo isto são conjecturas e ao longo de tantos anos, muito poderá mudar...
Resta-me dizer que não sou influenciado mesmo nada pelo conteúdo do teu excelente post, mas o meu escolhido será sempre Obama!
Abraço.

Pena said...

Estimado e Talentoso Amigo:
Fiquei maravilhado pela sua poderosa escrita, pela beleza das sua forma de "sentir" as palavras com que expressa o seu importante pensamento. É agradável e significativo, creia.
O seu Post revela uma análise imensamente sensata, na luta pelo bem-estar e harmonia a que todas as mulheres têm um lugar nos pìncaros da política e na sociedade. Sempre as respeitei e os meus melhores amigos são do sexo feminino. Parabéns pela justa e igualitária sensibilidade que defende de proximidade entre os sexos e entre os cargos sociais que possam assumir. É muito digno da sua parte, acredite!
A sua abordagem ao poder político americano fascina pela sensatez e sobriedade de uma sentimento expresso de uma forma muito coerente, muito lúcida e sóbria.
Simplesmente, espectacular!
OBRIGADO pela visita que me efectuou lá no meu "cantinho" da escrita e pelas simpáticas palavras expressas. OBRIGADO!
Terei de passar aqui mais vezes. É obrigatório, só espero que mo permita.

Abraço amigo de estima, respeito e imensa consideração
O amigo grato


pena

Jasmim said...
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Jasmim said...

Sobre o teu comentário lá no Jasmim deixa-me dizer que concordo contigo: um beijo pode ser o melhor momento da nossa vida; como um simples olhar ou um ligeiro toque. Sou de sentimentos suaves, porque é deles que é feita a história do meu amor é por isso que me custa tanto dizer adeus. Depois de um amor assim, o resto é uma sombra, uma vulgar joia de imitação. Mas viver eternamente um amor muribundo também é viver na sombra... Bjocas e bons espectáculos; aguardo com alguma espectativa a estreia de "A Gorda".
Só apaguei o outro comentário para corrigir os erros

sofialisboa said...

concordo contigo, mas quando falamos de politica não sei o que cada um defende, se gostaria de ver uma mulher na presidencia dos estados unidos, claro que gostava, mas quando falamos deste país também gostaria de ver um afro americano. mas a minha ignorancia é total aos valores que cada um defende, mas que ganhe o melhor nem que seja para por o bush dali para fora, tudo é valido. sofialisboa

Lúcia Laborda said...

Oie lindinho! Passei para lhe ver e assim como você, espero que enfim, a mulher possa ter oportunidade.
Beijos

Claudia Sousa Dias said...

Também eu!

Há alguem que garante aque com Obama na liderança do partido a vitória dos republicanos está garantida...mas amanhã volto para comentar este texto com mais calma...

CSD

SP said...

Gosto sempre de passar por aqui...

Anonymous said...

Obrigado pelo seu texto que está muito bom.
Como Balsemão disse uma vez, as televisões tanto conseguem vender um sabonete como um presidente da República.
E com Obama é isso mesmo que está a acontecer. Veja-se a CNN, ABC e CBS e a campanha permanente e já nada subtil que estão a fazer. Para quê? Penso que para dar mais possibilidades ao candidato republicano!
Leia-se Obama, os seus livros, as suas entrevistas, os seus discursos (que aliás não é ele que escreve) e percebe-se que há muito pouca consistência, muito pouca susbstância em tudo o que diz.
A sua pouca idade, a sua pouca experiência, e o seu voluntarismo estão bem patentes.
Contudo, lá como cá, como talvez em toda a parte, as pessoas querem algo de diferente e Obama parece dar essa diferença... Infelizmente, a História tem-nos demonstrado que todos os políticos que se tentam afirmar dizendo que são diferentes dos outros políticos acabam sempre por desiludir.
Hillary foi na década de 90 considerada como um dos cem melhores advogados americanos. Tem uma capacidade notáve, tem a experiência e a maturidade certas. Obama, que também é uma pessoa cheia de qualidades, está com pressa.Vamos ver até onde consegue ir e os efeitos que as suas vitórias irão ter.
Apenas mais duas coisas. Os seus elogios às políticas de Reagan, só não fazem rir, pois o cargo a que se candidata tem uma importancia universal. Os motivos que têm levado muitos a votar nele (para além dos étnicos, que têm sido muito relevantes) são, na boca de muitos dos seus apoiantes: Because is a winner....
Os americanos que já puseram de lado um Al Gore para ficar com um Bush, são também muito capazes de fazer agora escolhas mais mediáticas que racionais... Afinal, a critica maior que fazem a Clinton é que tem um sorriso de plástico, que é uma velha cheia de rugas e que´não se divorciou do marido apenas e só porque queria este lugar... Ok!!!