Saturday, January 31, 2009

esta outra forma de amar...

(Inspiration, Jean-Honoré Fragonard)
Escrevo para me abraçar.
Escrevo para me abrigar.
Escrevo para me acrescentar.
Escrevo para me admitir.
Escrevo para me compreender.
Escrevo para me consolar do teatro que não fiz e do jazz que não toco.
Escrevo para me descobrir.
Escrevo para me encontrar.
Escrevo para me esquecer em noites de insónia.
Escrevo para me exceder.
Escrevo para não me sentir exilado numa ilha de silêncio e indiferença.
Escrevo para me percorrer.
Escrevo para não me sentir perdido em emboscadas de solidão.
Escrevo para me provocar.
Escrevo para me ressarcir.
Escrevo para me sentir vivo.
Escrevo para me soltar, de um secular sossego.
Escrevo para não me sentir só.
Escrevo para abandonar uma história real sem enredo.
Escrevo para cortar esta amargura.
Escrevo para dançar com as palavras o tango mais erótico.
Escrevo para deixar na folha a impressão digital.
Escrevo para descrever sombras, fragilidades, desejos e sonhos.
Escrevo para despedaçar a rotina.
Escrevo para esquecer sonos vazios, despovoados.
Escrevo para exteriorizar a saudade, velha, cheia de musgo.
Escrevo para fugir ao lirismo bem comportado.
Escrevo para murmurar pérfidos segredos.
Escrevo porque gosto de escutar.
Escrevo porque não sei tocar a harpa que envelhece.
Escrevo para não sofrer.
Escrevo para não ter que me mascarar.
Escrevo para poder fazer coisas que não devo.
Escrevo para roer os ossos do medo.
Escrevo para preencher o vazio.
Escrevo para quebrar esta angústia.
Escrevo para registar o que é efémero.
Escrevo para resistir, ainda que com as pálpebras pesadas.
Escrevo para respirar.
Escrevo para secar a dor.
Escrevo para ser melhor do que sou.
Escrevo para tornar visível o mistério das coisas.
Escrevo para viver outras vidas.
Escrevo para voar, carregado de desejos.
Escrevo o que não se pode contar.

*
* *
Escrevo como quem desaparece na praia, às tantas da madrugada.
Escrevo como quem desfalece ao toque das palavras.
Escrevo como quem morre aos poucos de ternura.
Escrevo como um pulmão que respira.
Escrevo como quem chora, tal como o poeta.
Escrevo porque é um acto de liberdade.
Escrevo por escrever e porque sim.
Escrevo-me…
Escrevo para me amar. A mim e a outros. De certa maneira.
Luís Galego

29 comments:

Maria said...

Continua a escrever. Assim...

Um beijo

João Roque said...

Escreves maravilhosamente!
Abraço amigo

Anonymous said...

rendo-me!!!!!!!!!!!!


não





sei dizer nada!

não me atrevo.




beijos. rendidos.




.piano.

kiduchinha said...

Lindo! Lindo! Como estás amigo? Espero que estejas bem! Bom domingo! Boa semana! beijocas grds e continua a escrever porque sabe mto bem ler-te.... :)

Luís Costa said...

Quando se escreve assim, meu confrade e amigo,
escreve-se com o sangue e o suor
por isso escreves bem

L.C.

Violeta said...

e escreves maravilhosamente. Não pares..

Daniel C.da Silva said...

Escreves para nos dares estes momentos... e saindo de ti, entras em nós e regressas mais puro.

Je Vois La Vie en Vert said...

Não para de escrever ,,, ainda tens muito para dizer !

Beijinhos verdinhos

Unknown said...

Caro Luís,

escrever vem da alma.Vem do mais imperioso sentir. Vem do maior desassossego. E do nada.
Mas... é escrevendo que existimos!

Sempre um enorme gosto reler estes textos e passar por este universo pessoal!
"Brigados" pela partilha!!!

Jonice said...

Absolutamente delicioso teu escrever, Luís! Delicioso!

Have a sweet nice week :)

Beijo

Anonymous said...

Escreves, para o nosso prazer
Escreves, para a nossa dependência
Escreves, para nos ensinar
Escreves, para chorarmos
Escreves, para rirmos
Escreves, para te amarmos
Escreve! Assim o exigimos.

GRITOMUDO

Anonymous said...

Escreves, para o nosso prazer
Escreves, para a nossa dependência
Escreves, para nos ensinar
Escreves, para chorarmos
Escreves, para rirmos
Escreves, para te amarmos
Escreve! Assim o exigimos.

GRITOMUDO

Red Light Special said...

Eu tenho saudades de me sentir a escrever assim, com todo(s) esse(s) propósito(s), com toda essa paixão, com todo(s) esse(s) sentimento(s)...
Gostaria de perceber o porquê de em certas fases da vida as palavras não me escorrerem pela ponta dos dedos.
Deste lado espero que a minha fase muda passe depressa, e que a tua que "grita" se mantenha assim, bela e emotiva, por muito tempo!
Beijos meus.

Leonor said...

mas nesta urgência da escrita, é sempre bom saber quem lê... e fica fascinado!

(a imagem está muito bem escolhida, gostei bastante)

BlueVelvet said...

A nova versão deste "Infinito Pessoal" é fascinante.
Já fiz um post sobre o mesmo tema, mas eu, é mesmo porque sim.
Brilhante, Luis.
Beijinhos

cirandeira said...

Escreves porque escreves! Porque respiras, porque comes, porque ris, porque choras, porque sofres, porque amas, porque está em ti esse talento maravilhoso que possuis!Essa capacidade de expressar o que nós 'pobres mortais' sentimos e não conseguimos expressar de forma tão contundente e poética...!!!

The White Scratcher said...

Gostava de conseguir escrever.

Abraço

paulo said...

fantástico, Luís!
cá está um texto que eu gostava de ter escrito! tal e qual, muito centrado nos outros mas sobretudo em mim, porque para chegar aos outros, primeiro tive de olhar para mim. mas também porque escrever é tudo isto: um acto narcísico e muito altruísta. confuso? contraditório? como todos nós!

grande abraço

jugioli said...

Escrever sempre!!!
Adorei conhecer este espaço.
Bjs.

JU

Anonymous said...

"Escrever é como uma droga. Começa-se por puro prazer e acaba-se por organizar a vida como os drogados, em torno do vício. [...] até quando sofro vivo isso como um desdobramento: o homem está a sofrer e o escritor está a pensar como aproveitar esse sofrimento para o seu trabalho."

Lobo Antunes, 2002

Graduated Fool said...

Muito bom.

bonecadetrapos said...

Excelente blog, excelente.

Saudações

*___bonecadetrapos___*

m said...

«Escrever é gritar sem ruído!»

Beijo

Anonymous said...

Eu bem dizia: temos mais um poeta em Portugal!
Adorei. Continue, para nosso deleite!!

Alexandra said...

Vim da Casa de Maio e passei cá, por acaso. Despertou-me a atenção o "Escrevo para..." lembrei-me de um livro que adoro "Amélia, Rainha de Portugal", onde ela escreve..."Escrevo para não enlouquecer..."

No fundo, tds nos podemos rever nas suas palavras. Excelente!!!

Até mais.

Alexandra

Socrates daSilva said...

Acrescento, repetindo.

Escreves para nosso prazer!
:-)

Abraço!

almas said...

Neste "seu escrever" parece tão vunerável, tão esposto...algo mudou, ou não,talvez já lá estava, mas mais protegido...afinal, mais confiante no mundo?

Deliciosamente frágil...e corajoso...

Parabéns

No Limite do Oceano said...

Eu escrevo primeiro para mim, depois não sei...

Escreves por muitos motivos, escreves e vejo que gostas de o fazer não porque seja apenas um prazer, como tu dizes escreves para te amar. E isso é um ponto de partida para algo, que só tu saberás aonde te poderá levar.

*Hugs n' smiles*
Carlos

Anonymous said...

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