

1970, Anna tem 9 anos. Existência simples e tranquila, ordem e costumes. Uma vida que decorre confortavelmente, entre Paris e a quinta vitícola dos avós maternos, em Bordéus. Sem aviso, entre 70 e 71, o compromisso político assumido por Marie e Fernando (pais de Anna) altera-lhe a vida. Primeiro, o tio, comunista e envolvido na luta contra o regime de Franco, desaparece, provavelmente assassinado pela guarda-civil espanhola. Um comunista de que não convém falar-se. Posteriormente, após uma viagem ao Chile, durante a presidência de Salvador Allende, os pais decidem pôr em prática os seus ideais políticos. Termina definitivamente a serenidade na casa dos arredores de Paris, que começa a ser frequentada por camaradas "vermelhos e barbudos", por pessoas que sonham com a Revolução de Fidel Castro. Finda então a época da educação religiosa e, particularmente, a quietude que caracterizava a vida daquela menina francesa. Por culpa de Allende! Por culpa de Fidel!
Comovente e singular este filme de Julie Gavras que retrata de forma cativante uma geração que assumiu um compromisso, que lutou, que se excedeu e que ao mesmo tempo viveu uma época brilhante. No fundo é uma reflexão sobre o compromisso político e tudo o que isso implica, sobre as razões que o fundamentam e sua utopia, sobre a rebelião dos adultos vista com os olhos de uma criança (Nina Kervel é muito convincente na interpretação de uma personagem difícil com as suas angústias diante das desilusões e descobertas que se transformam em novas ilusões. É muito comum ver no ecrã crianças muito estereotipadas, num estilo de representação bacoca, o que felizmente não sucede nesta obra). Crescer nem sempre é fácil, sobretudo quando a política irrompe no dia-a-dia de uma rapariguinha, no meio dos seus brinquedos e dos seus contos de fadas.
Este filme é um poema sobre a nostalgia de uma época, e simultaneamente sobre a procura de um novo compromisso.
Registe-se a passagem da canção chilena Venceremos. Noutro momento escuta-se com emoção os acordes de El Ejército del Ebro, a canção mítica da guerra civil espanhola.
(…)
Venceremos, venceremos,
Mil cadenas habrá que romper,
Venceremos, venceremos,
La miseria sabremos vencer.
Campesinos, soldados, mineros
La mujer de la patria también,
Estudiantes, empleados y obreros,
Cumpliremos con nuestro deber.
La mujer de la patria también,
Estudiantes, empleados y obreros,
Cumpliremos con nuestro deber.
Sembraremos las tierras de gloria,
Socialista será el porvenir,
Todos juntos haremos la historia,
A cumplir, a cumplir, a cumplir
(…)
Socialista será el porvenir,
Todos juntos haremos la historia,
A cumplir, a cumplir, a cumplir
(…)
El Ejército del Ebro,
rumba la rumba la rumba la
una noche el río pasó,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Y a las tropas invasoras,
rumba la rumba la rumba la
buena paliza les dio,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
El furor de los traidores,
rumba la rumba la rumba la
lo descarga su aviación,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Pero nada pueden bombas,
rumba la rumba la rumba la
donde sobra corazón,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Contra ataques muy rabiosos,
rumba la rumba la rumba la
deberemos resistir,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Pero igual que combatimos,
rumba la rumba la rumba la
prometemos resistir,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela
A ouvir:
Venceremos
El Ejército del Ebro