
Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim, escrevo.
Mia Couto
Mia Couto
À pergunta «como começou a escrever?», Mia Couto responde quase sempre: «Nunca sei responder a essa pergunta. Encontro-me sempre inventando uma nova razão. Sou filho de poeta, nasci entre livros e mais do que entre livros nasci com essa doença de não nos bastar o mundo real. Com se o sentimento de família se encontrasse apenas nesse encantamento de contar histórias e recriar o universo».
O escritor moçambicano é o vencedor da XVII edição do Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007, criado em 1990 pela organização fundada pela Convenção de Madrid para evidenciar e difundir a herança cultural e as identidades do mundo latino. Mia Couto é aquilo que qualifico de 'escritor da terra' porque, na sua expressão única escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a natureza humana na sua relação umbilical com a terra. A sua linguagem fértil em neologismos confere-lhe um atributo de singular interpretação da beleza interna das coisas. Cada palavra inventada como que adivinha a secreta natureza daquilo a que se refere, e entendemo-la como se nenhuma outra pudesse ter sido utilizada em seu lugar. As imagens de Mia Couto evocam a intuição de mundos fantásticos e surrealistas que nos envolvem de uma ambiência terna de sonhos – o mundo vivo das histórias. Pode dizer-se que Mia Couto sobressai como notável contador de histórias.
É uma vitória inédita, Mia Couto torna-se o primeiro escritor de África a receber este prémio. Originalidade e "poder criativo" foram os principais argumentos apontados pelo júri para a escolha. A singularidade criativa de que falou o presidente, Vincenzo Consolo, está fortemente ligada às raízes do escritor que "parte da realidade do seu país para exaltar o poder da vida e a alegria de viver, mesmo se, por vezes, em condições extremamente dramáticas." Talvez por isso o júri não se limitasse a falar do escritor e quisesse sublinhar o carácter simbólico desta distinção, reconhecendo e premiando com ela a participação dos africanos de língua portuguesa, e em particular os moçambicanos, na revitalização e construção desse idioma.
O escritor moçambicano é o vencedor da XVII edição do Prémio União Latina de Literaturas Românicas 2007, criado em 1990 pela organização fundada pela Convenção de Madrid para evidenciar e difundir a herança cultural e as identidades do mundo latino. Mia Couto é aquilo que qualifico de 'escritor da terra' porque, na sua expressão única escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a natureza humana na sua relação umbilical com a terra. A sua linguagem fértil em neologismos confere-lhe um atributo de singular interpretação da beleza interna das coisas. Cada palavra inventada como que adivinha a secreta natureza daquilo a que se refere, e entendemo-la como se nenhuma outra pudesse ter sido utilizada em seu lugar. As imagens de Mia Couto evocam a intuição de mundos fantásticos e surrealistas que nos envolvem de uma ambiência terna de sonhos – o mundo vivo das histórias. Pode dizer-se que Mia Couto sobressai como notável contador de histórias.
É uma vitória inédita, Mia Couto torna-se o primeiro escritor de África a receber este prémio. Originalidade e "poder criativo" foram os principais argumentos apontados pelo júri para a escolha. A singularidade criativa de que falou o presidente, Vincenzo Consolo, está fortemente ligada às raízes do escritor que "parte da realidade do seu país para exaltar o poder da vida e a alegria de viver, mesmo se, por vezes, em condições extremamente dramáticas." Talvez por isso o júri não se limitasse a falar do escritor e quisesse sublinhar o carácter simbólico desta distinção, reconhecendo e premiando com ela a participação dos africanos de língua portuguesa, e em particular os moçambicanos, na revitalização e construção desse idioma.