"A mímica, assim como a música, não conhece fronteiras nem nacionalidades”, dizia Marcel Marceau. “Se a gargalhada e as lágrimas são características da humanidade, todas as culturas estão mergulhadas nesta disciplina”.
O mimo francês Marcel Marceau, conhecido como o Charlie Chaplin do universo da mímica, morreu ontem à noite. Nascido em 1923 em Estrasburgo, o artista elevou a arte da mímica ao seu mais alto nível, nomeadamente através da sua personagem Bip (criada em 1947), que o tornou célebre. Influenciado pela Commedia dell'Arte, Marceau fez renascer o género da pantomima a partir de 1945, tendo percorrido os palcos de todo o mundo, sendo muito popular nos Estados Unidos, Japão e China. O Mimo maravilhava o público com a sua apresentação cheia de intensas emoções, sem proferir uma só palavra. O que não terá sofrido o jovem Marcel quando o pai foi levado para o campo de Auschwitz, onde morreu! O terror nazi que o levou a mudar de nome, de apelido, para esconder as origens judaicas. Com quinze anos, tinha já consciência de que o nome poderia trair os sonhos de viver. Ainda assim possuía uma vitalidade incomum, este homem que com casaco a menos e calças a mais, exactamente porque o sonho nunca tem medida certa, correu mundos e atravessou gerações. Transmitiu essa arte e converteu o invisível em visível. Vestido com o seu tradicional traje branco de saltimbanco, o rosto maquilhado de branco, com realce em vermelho e negro dos lábios e olhos a sua arte era a do silêncio. Insaciável, o mímico de 84 anos dizia que não pensava em se reformar. “Se deixo de trabalhar, perderia a motivação e nem sequer poderia andar”. Um adeus ao mimo de cara branca que falava sem palavras, chorava e ria sem sons. Era o mestre da pantomina e uma figura incontornável da arte. Os seus gestos expressavam a essência mais secreta da alma humana – "Para mimar o vento, temos de nos transformar em tempestade. Para mimar um peixe, temos de mergulhar no mar".
“Será que não é verdade que todos os momentos mais belos nos deixam sem palavras?"
Marcel Marceau
