Tuesday, June 27, 2006

relâmpago e Luiza Neto Jorge


Ontem ao fim da tarde no Teatro do Bairro Alto três actores davam voz a Luísa Neto Jorge, poetisa sobre a qual Gastão Cruz escreve no último número da revista Relâmpago, “A poesia de Luiza Neto Jorge é, como foi a sua vida, uma experiência levada até ao limite da exigência e do rigor, um lugar onde é preciso viver tudo, sem concessões à futilidade (“Não me quero com o tempo nem com a moda”) e à normalidade (“diferente me concebo e só do avesso/ o formato de mulher se me acomoda)”. Pequenos, grandes momentos que fazem valer a pena sair a correr dos corredores ministeriais para ir ouvir belas palavras num espaço onde nada se passa por acaso.

O Teatro da Cornucópia foi, então, palco do lançamento do número 18 da revista, com um especial dedicado à poetisa Luiza Neto Jorge. Também Luís Quintais esteve presente, prémio de poesia Luís Miguel Nava 2005. Este ano, o júri do prémio foi constituído por escritores membros do Instituto Luís Miguel Nava, entre eles Carlos Mendes de Sousa, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz, Paulo Teixeira e ainda um elemento convidado, este ano a professora e ensaísta Fátima Freitas Morna. Sophia de Mello Breyner Andresen ("O Búzio de Cós"), Fernando Echevarría ("Geórgicas"), António Franco Alexandre ("Quatro Caprichos"), Armando Silva Carvalho ("Lisboas"), Manuel Gusmão ("Teatro do Tempo"), Fernando Guimarães ("Lições de Trevas") e Manuel António Pina ("Os Livros") foram anteriormente galardoados.

Oportunidade para ler Luís Miguel Nava:

EM SINTRA
As águas maravilham-se entre os lábios
e a fala, rápidos
em Sintra espelhos surgem como pássaros,
a luz de que se erguem acontece às águas,
à flor da fala
divide os lábios e a ternura. Da linguagem
rebentam folhas duma cor incómoda, as de que
maravilhado de água surges entre
livros, algum crime, um
menino a dissolver-se ou dele os lábios e ergues
equívoca a luz depois. Rápidos
espelhos então cercam-te explodindo os pássaros.

Luís Miguel Nava
Películas (1979)
In Poesia Completa 1979-1994
Lisboa, Dom Quixote, 2002

LUÍS MIGUEL NAVA
Nasceu em 1957, em Viseu. Nesta cidade, fez a instrução primária e o ensino secundário. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi assistente entre 1981 e 1983. Partiu depois para Oxford, como leitor de Português, aí permanecendo três anos. Fixou-se em Bruxelas desde 1986, desempenhando o cargo de tradutor do Conselho das Comunidades Europeias. Nesta cidade, no seu apartamento, foi brutalmente assassinado em 1995.
A Fundação Luís Miguel Nava, instituída por testamento do poeta, publica desde 1997 a revista Relâmpago e atribui um prémio de poesia anual.

Obra de Luís Miguel Nava:
Poesia:
Películas (1979) - Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores
A Inércia da Deserção (1981)
Como Alguém Disse (1982)
Rebentação (1984)
O Céu Sob as Entranhas (1989)
Vulcão (1994)
Ensaio e antologia:
O Pão a Culpa a Escrita (1982)
A Poesia de Francisco Rodrigues Lobo (1985)
O Essencial Sobre Eugénio de Andrade (1987)
Antologia de Poesia Portuguesa - 1960/1990 (1991)

Para finalizar, um texto sobre a poetisa:

Luiza Neto Jorge nasceu em 1939. Estudou em Lisboa e viveu em Paris entre 1962 e 1970. A Noite Vertebrada, o seu primeiro livro, foi dado à estampa em 1960. Luiza Neto Jorge esteve ligada ao chamado grupo da Poesia 61 que procurou, no início da década de sessenta do século XX, contribuir para renovar a linguagem poética, explorando novas potencialidades gramaticais e semânticas no interior do discurso e na sua inscrição na página.
Consciência feminina da escrita e invenção de uma poesia crua em que o corpo da linguagem se confunde com o corpo do sujeito poético são alguns traços a destacar na sua escrita.
Além de poetisa, Luiza Neto Jorge desenvolveu intensa actividade no domínio da tradução e escreveu para teatro e cinema. Faleceu em 1989, tendo deixado sete títulos de poesia publicados, entre os quais figuram:

O Seu a Seu Tempo (1966)
Os Sítos Sitiados (1973)
A Lume (1989)


Aqui alguns poemas de Luiza Neto Jorge.
Ler uma breve apresentação dos seus livros.

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