Friday, August 18, 2006

y tu mamá también...


«E a Tua Mãe Também» é um «road movie» jubilatório e comovente, e um filme sobre a amizade e o auto-conhecimento e o sexo, e sobre ritos de passagem, a euforia do último hurra da adolescência desbragada e o abalo sísmico da entrada na idade adulta. Sendo tudo isto, «E a Tua Mãe Também» é igualmente um subtil e inteligente filme sobre a sociedade mexicana contemporânea, uma pérola de observação socio-económica e política, etária, cultural e humana e - ainda mais difícil - familiar e íntima. E em todas estas instâncias, sem querer transmitir uma qualquer «mensagem». É uma pequena história de três pessoas contada no quadro de algo maior que ela, a história de um País inteiro, ressoando uma na outra sem uma fífia ou um desequilíbrio, longe, por um lado, dos «clichés» aluados dos «teen» movies, e pelo outro, das piedades demagógicas dos filmes de «denúncia». «E a Tua Mãe Também» é estas duas coisas aparentemente antitéticas cosidas sem distinção no tecido de um só filme. Ficção frontal e documentário lateral, sem qualquer ponto dado em falso. Da cena inicial de sexo atrapalhado e ofegante, tal como ele é praticado entre pessoas da idade das do filme, à melancólica cena final de separação, com os dois protagonistas subitamente mais velhos, mais sábios e mais tristes, tudo em «E a Tua Mãe Também» soa verdadeiro, genuíno. Do «chilango», o calão jovem da Cidade do México metralhado pelos dois amigos, até às sucessivas vinhetas, ora tristonhas, ora sorridentes, da vida no grande país vizinho dos Estados Unidos. Gael García Bernal e Diego Luna parecem estar a viver vidas verdadeiras em directo. A espanhola Maribel Verdú é espantosa, na maior alegria e na dor mais funda, na sensualidade e no bom senso que distribui ao longo do filme e aos seus priápicos companheiros de viagem. Alfonso Cuarón fala do seu país e filma-o com um sentido da beleza natural (a magnífica fotografia é de Emmanuel Lubezki) e da riqueza dos lugares e das pessoas (bem como dos seus pontos mais negros), de fazer inveja a qualquer cineasta que queira demonstrar amor pela terra onde nasceu, ao mesmo tempo que conta uma boa história. Ainda bem que Cuarón deixou Hollywood após dois filmes para voltar ao México, onde se estreou em 1991 com «Sólo con tu Pareja», e fazer «E a Tua Mãe Também». É mesmo em casa que se trabalha melhor. Notas: «E a Tua Mãe Também» é o maior sucesso comercial de sempre do cinema mexicano, embora tenha sido preterido na nomeação da candidatura do México ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. O filme esteve em competição no Festival de Veneza 2001, onde ganhou Melhor Argumento (para Alfonso Cuarón e o seu irmão Carlos), tendo os seus dois intérpretes masculinos sido distinguidos com o prémio para os Jovens Actores. Quando estreou no México, «E a Tua Mãe Também» foi interdito a menores de 18 anos, mas houve tantos protestos e manifestações de jovens à porta dos cinemas onde o filme estava em exibição, que a classificação foi alterada.

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