Monday, September 11, 2006

minha vida sem mim...

MINHA VIDA SEM MIM - é um filme que me apanhou desprevenido. Vencedor do Festival de Berlim de 2003, a co-produção da Espanha (através da El Deseo, dos irmãos Almodóvar) e Canadá é de uma sensibilidade extrema. Dirigido pela espanhola Isabel Coixet, o filme conta a história de Ann, uma jovem de 23 anos e mãe de duas filhas, sem perspectivas de vida (ela e o marido vivem numa roulote no quintal da mãe) e um emprego de empregada de limpeza numa universidade. Ao fazer um exame, ela descobre ter um tumor que se está espalhando rapidamente e que lhe restam apenas dois meses de vida. Ann, no entanto, esconde a doença de todos e resolve tomar as rédeas da situação, vivendo as experiências que sempre quis realizar. Enquanto isso, Ann passa a gravar uma série de mensagens para as pessoas que ama. Em nenhum momento o filme cai na auto-comiseração, na auto-piedade ou resvala para o condescendente. A realizadora faz com que a história, apesar de indiscutivelmente triste, soe real e vívida, sem ficar apelando para o dramalhão. Todos os personagens são escritos e interpretados cheios de nuances e profundidade. O resultado é que o filme não é deprimente, traz um bom número de situações engraçadas e fantasiosas (sem nunca fugir da premissa) e romântico. Tragicamente romântico... Uma das histórias que compõem a trama é o envolvimento de Ann com Lee, um romance que facilmente se percebe que não vai dar certo, mas que acaba sendo forte e envolvente graças à sobriedade do guião e da incrível química de dois actores. Mas mais do que tudo isso é que o personagem principal é deliciosamente complexo. Sabemos que Ann é um bom ser humano, mas o seu desejo de esconder a doença da família e sua "lista de compras" são atitudes a princípio, egoístas, mas o espectador acaba compreendendo e apoiando. Mesmo o envolvimento extra-conjugal (com o marido apaixonado e com o amante) acaba sendo compreendido. Ann é defendida com propriedade pela actriz Sarah Polley, numa actuação nada menos que miraculosa. Aliás, todo o elenco deveria ser condecorado. Os coadjuvantes (entre os vários, Alfred Molina, Deborah Harry, a desaparecida Amanda Plummer e a nossa Maria de Medeiros) estão nada menos que excelentes. Mas a grande surpresa, sem sombra de dúvida, é Scott Speedman que tem uma performance enternecedora como marido de Ann. "Minha vida sem mim" é um daqueles filmes que permanece com o espectador por muito tempo após ter este deixado o cinema (neste caso a sala 3 do cinema Quarteto). É um filme para ser sentido e reflectido pelo que devemos ser avisados antes de fazer dele programa de sábado ao fim da tarde, como foi o meu caso. Quem se aventurar, no entanto, vai encontrar um tesouro. Vale a pena destacar a utilização de "Sometime Later" da dupla inglesa Alpha, uma música extraordinária e uma das minhas preferidas, na banda sonora.

2 comments:

Anonymous said...

Estimado,

Agora só me resta mesmo ir ver o filme. Bom, tu estás imparavél, mas sabe sempre bem ver alguém feliz.

Até breve

Anonymous said...

Por sugestão do meu amigo Luís, fui com a Zé ver ao Quarteto "A Minha Vida Sem Mim" e em boa hora o fiz. Ainda hoje ao recordar certas cenas do filme, sinto um nó no estômago e um aperto no peito. O filme é tão intenso e tão real, tão doce e tão cruel que, na minha modesta opinião os próprios actores se esqueceram de que estavam a representar.
Um filme que fará sempre parte dos meus preferidos e que certamente irei rever.
Luísa Cabral