Romain é um fotógrafo de 30 anos, arrogante, bem sucedido e egoísta, que descobre, depois de um desmaio numa sessão de fotografia, que sofre de leucemia e que lhe restam poucos meses de vida. São os meses da negação, da aceitação, das despedidas e da tentativa de encontrar alguma paz interior.
O filme é excelente. Um clima de exéquias envolve-nos, aperta-nos e toca-nos. Romain vai morrer. Ele sabe-o inesperadamente. É um homem talentoso e convencido. Dá-se mal com a irmã e tem uma relação distante com os pais. Acresce a tudo isso uma ligação amorosa onde a rotina se sobrepõe ao sentimento. A única pessoa em quem realmente confia é a avó (Jeanne Moreau, uma das lendas vivas do cinema). É ela a única a quem ele é capaz de contar o seu segredo na cena mais pungente de todo o filme; neto e avó compartilham de um fim próximo. O sarcasmo desmesurado do neto é sincero e quase chocante mas não podemos deixar de partilhar dos seus sentimentos. Romain deixa o trabalho, afasta o amante, ofende a irmã, emudece-se com os pais. Foge para a avó, por uma noite. Pelo caminho conhece uma empregada de mesa numa estação de serviço. Ela quer ter um filho mas o marido é estéril. Propõe-lhe que ele a engravide. Ele foge. Mas volta. Dá a vida ao filho do casal que lhe pedira. Mas ele não conta. Na retaguarda tenta resolver os problemas, os que criou e os que não criou. Procura uma qualquer paz espiritual mesmo que fisicamente definhe. Regressa à praia. Talvez a do sorriso de uma memória a dois. Talvez apenas um lugar perdido. Esquálido, de cigarro na mão e máquina fotográfica captando a vida. Aquela por onde passou como para deixar algo dizendo que viveu. O seu perfil e o seu rosto enchem o ecrã e ao longe ouve-se o mar.
Depois de ver o filme (estreou em Lisboa, no cinema Quarteto) saí da sala respirando o ar, escutando a cidade e as vozes e pensando nas pessoas de quem mais gosto. Se tivesse uma máquina fotográfica, naquele momento, registava esses nadas que são tudo. Estou vivo.
François Ozon é um realizador brilhante e este Le Temps Qui Reste é inesquecível. Como um crescendo, que embora célere na duração é tão lento nos gestos, dá-nos um filme sem proezas nem chavões. É a vida e a morte, e a morte na vida, lentamente, consumindo Romain e o espectador. Melvil Poupaud é extraordinário na sua encarnação deste homem confrontado com o que de mais inevitável existe na sua condição: a morte. A banda sonora é sóbria porque mais importantes são as vozes, a água, os acontecimentos. E a fotografia são os grandes planos do actor, o seu rosto, o rosto do filme. Somos todos testemunhas dos seus últimos dias. Mas somos todos o fotógrafo, confrontados na vida com a morte. Com a vida, afinal de contas.
Por tudo isto comprei o DVD, lançado no passado dia 22.
Por tudo isto comprei o DVD, lançado no passado dia 22.
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