dans Paris...

As primeiras cenas de “Em Paris” (Dans Paris) podem levar a pensar que o filme é mais uma película francesa que peca por ser algo pretensiosa, tanto pela forma como uma das personagens fala directamente para a câmara, caracterizando-se simultaneamente como narrador, como pelo enfoque algo obsessivo sobre a relação de dois jovens namorados/amantes. No entanto, após os minutos iniciais, o filme dedica-se ao que acaba por ter de melhor: um conjunto de personagens bem trabalhadas, unidas pelos laços familiares – uma família com tanto de disfuncional como de típico – e entretanto afastadas por muitos outros factores que parecem agora irrisórios quando um dos elementos da família atravessa um momento crítico.

Em Paris assenta na relação de dois irmãos, Guillaume que regressa do interior de França a Paris após o fim de um relacionamento que o deixou à beira da depressão, e Jonathan, o mais novo, que aí vive com o pai e leva uma vida despreocupada. O estado inconsolável do primeiro leva a que o segundo, assim como os pais (mais o pai – interpretação tocante –, a mãe é uma figura ausente, convenientemente encarnada pela actriz Marie-France Pisier), tentem encontrar uma solução para o afastar do precipício, mas o melhor em que Jonathan consegue pensar é num desafio ao irmão, que o obrigará a ir ter consigo para passearem pelo Bon Marché de Paris, à semelhança do que ocorria quando eram crianças. Contudo, e ao contrário do acordado, Jonathan acaba por demorar mais de uma manhã a chegar ao local marcado, e o filme segue os episódios decorridos ao longo desse dia que vão, aos poucos e de forma mais ou menos directa, mudando a atitude e a ligação dos dois protagonistas. Estes irmãos são muito diferentes. Mas há laços que os unem de forma inquebrantável, concretizada na cena do abraço na banheira (belíssima e comovente).

Estamos face a um elenco irrepreensível, dois dos mais interessantes actores de uma nova geração do cinema francês, Romain Duris e Louis Garrel. Peculiar é ainda a utilização da banda-sonora que apresenta uma partitura de influência jazzística.

Dans Paris vale também pelo retrato da cidade de Paris, as suas ruas e cores, desta feita num cenário invernal. Quem conhece Paris é impossível não se sentir tocado pela familiaridade com que a cidade é retrata num certo jeito de homenagem.

[Do grupinho que foi assistir à ante-estreia no Saldanha Residence parece que fui o único a gostar do filme, temos pena….]

NB - Guillaume tenta explicar a uma das mulheres do irmão a sua visão da tristeza e ela diz-lhe que a tristeza é como a cor dos olhos. Nasce com as pessoas. Está lá, sempre. A comparação é muito bonita. Em suma, é um filme de sentimento(s).

Dans Paris - Trailer