Mário Cesariny o último representante da plêiade de grande poetas portugueses que marcaram o século XX, juntamente com Herberto Hélder foi também uma figura de proa do surrealismo, movimento que em Portugal teve características especiais, e foi dos primeiros a dar todo o seu peso à obra de Fernando Pessoa. Um dos primeiros e mais celebrados livros de Cesariny chama-se, aliás, «Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos».
«Sou um homem/um poeta/uma máquina de passar vidro colorido/um copo uma pedra/uma pedra configurada/um avião que sobe levando-te nos seus braços/(...)»
Quanto à morte, o poeta-pintor surrealista «gostava de ter daquelas mortes boas... a gente deita-se para dormir e nunca mais acorda (...).» Do amor, diz «(...) nunca acreditei muito na chamada alma gémea... Nesse aspecto eu era talvez um pouco à grega, alguém jovem, talvez, alguém mais inocente, alguém que tivesse a pureza do mar, a pureza e a tempestade, às vezes.» O capítulo da vida vem das raízes (em Espanha e na Córsega francesa) às memórias de família, amizades e inimizades, Lisboa desaparecida, experiência (homos)sexual, perseguição policial, Paris, Londres. Ao desinteresse pelo Saudosismo «como escola, como filosofia», contrapõem-se «saudades de voar». Um retrato multifacetado. Cesariny morreu ontem em Lisboa, com 83 anos.
«Sou um homem/um poeta/uma máquina de passar vidro colorido/um copo uma pedra/uma pedra configurada/um avião que sobe levando-te nos seus braços/(...)»
Quanto à morte, o poeta-pintor surrealista «gostava de ter daquelas mortes boas... a gente deita-se para dormir e nunca mais acorda (...).» Do amor, diz «(...) nunca acreditei muito na chamada alma gémea... Nesse aspecto eu era talvez um pouco à grega, alguém jovem, talvez, alguém mais inocente, alguém que tivesse a pureza do mar, a pureza e a tempestade, às vezes.» O capítulo da vida vem das raízes (em Espanha e na Córsega francesa) às memórias de família, amizades e inimizades, Lisboa desaparecida, experiência (homos)sexual, perseguição policial, Paris, Londres. Ao desinteresse pelo Saudosismo «como escola, como filosofia», contrapõem-se «saudades de voar». Um retrato multifacetado. Cesariny morreu ontem em Lisboa, com 83 anos.
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny
12 comments:
O poema é lindo, quando amamos, até de olhos fechados somos capazes de reconhecer a pessoa amada...
Beijos e boa semana:)
Bonita homenagem!
Beijo
A Casa de Maio hoje também "pensou" Cesariny.
Boa noite.
Quando se vive bem, vive-se sempre...o homem foi mas ficou a obra :)
Um abraço e boa semana! :)
uma homenagem merecida... tão merecida...
Passei pata dar um beijo de boa tarde:)
linda homenagem e escolha do poema,pois é o meu favorito dele e qtalvez dos que mais goste...
abraço vagabundo
A sede é infinita...a procura é uma constante.
Belíssimo este poema!
Dele e em homenagem a ele:
"Ama como a estrada começa ..."
e, agora depois de te ler ...
"alguém que tivesse a pureza do mar, a pureza e a tempestade, às vezes.»
Sou "Cesarina" então... isso é o que fascina nas pessoas...
Não conhecia esta frase ...
A Cesariny o meu até sempre ...
A ti, um até já ...
Bjs Mel
por onde tens andado?
esperamos novas
MJCORREIA
por onde tens andado?
esperamos novas
MJCORREIA
Este poema de Cesariny assenta-me que nem uma luva. E faz-me lembrar um pensamento de Goethe que diz :
"Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente como nós, e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado."
Mesmo quando distantes fisicamente as pessoas estão connosco, dentro do nosso coração e passam a fazer parte de nós!
P.N.
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