Sunday, November 19, 2006

que perfume usa?

Baseado na novela de Patrick Süskind, O Perfume (Perfume: the story of a murder) é uma terrificante história de assassínio e obsessão que tem lugar na França do século XVIII. Jean-Baptiste Grenouille tem uma capacidade excepcional para distinguir os cheiros que circulam à sua volta e usa-a para criar os melhores perfumes. Com a invulgar característica de não exalar qualquer odor corporal ele mesmo, Grenouille torna-se obcecado pela captura do irresistível mas fugaz odor de mulheres jovens. À medida que a obsessão de Grenouille se torna mortífera são encontradas assassinadas doze raparigas. O pânico instala-se enquanto todos se esforçam por proteger as suas filhas e um impenitente e obstinado Grenouille prosegue na busca do ingrediente final para completar a sua demanda.
Tal como o romance o filme reconstitui de forma rigorosa o ambiente e os hábitos sociais; uma época em que a França se tornara apática e massacrada. Uma França desorientada e fétida.

O Perfume é um dos livros mais viscerais que tive oportunidade de ler. A sua envolvência consegue suscitar em nós os odores que retrata. Jean-Baptiste Grenouille nascido contra todas as adversidades, criado como escravo e tratado como lixo. Mas, não é isso que torna esta personagem tão interessante. O cheiro do suor, do ferro, da pele. O cheiro da alma. Mulheres que mata, maioritariamente virgens. Torna-se num ser amoral, animalesco. Mas, acabamos por empatizar com ele. Seja pelo seu passado cruel, pelo seu objectivo sincero. Ben Whishaw, o protagonista, é também o culpado, graças à sua brilhante duplicidade. Assustadoramente doce. Não era bem aquilo que eu imaginava em Jean-Baptiste Grenouille, julgava-o mais perto do corcunda de Notre Dame.

É complexo fazer uma adaptação de um livro para cinema. Não obstante, o filme tem um bom ritmo e o realizador consegue absorver o que é importante sem condensar demasiado a história. Tal como o subtítulo indica, esta é a história de um assassino. Tudo o resto é contado partindo deste princípio. Nunca apressado, nunca enfadonho. Principalmente, o filme consegue ter o mesmo efeito que o livro. Desperta em nós todos os odores que recria, através do visual deslumbrante, da fotografia rica em cores vivas e texturas que quase podemos tocar.

Perturbador, é a melhor forma para resumir este filme. A propósito qual é o perfume que vocês usam?

Bom Dia de Domingo e cuidado com o perfume que usam, pois pode influenciar o vosso comportamento e o das pessoas que vos cercam. Não digam que não avisei…
Das Parfum - trailer

7 comments:

Maria P. said...

E se for...flor-de-algodão?...

Bom domingo.

isabel said...

Lembro-me de ter identificado Grenouille com Gregor da metamorfose de Kafka. Ambos espelham uma sociedade preconceituosa em que a diferença é mal acolhida.

Obrigada pela visita e bom resto de fds.

ps: gostei da "imagem do cheiro" da flor de algodão da Maria :)

Anonymous said...

entre o negro e o vermelho tem no seu nome o som da serpente "SSS". E quente e estonteante como a noite vestida de preto...

Anonymous said...

PALOMA. Conheceis?

M J Correia said...

vamos ver se dá

Tino said...

Tenho esse livro guardado numa gaveta...nunca fui capaz de o ler, nem sequer de o abrir para não ter que ler a dedicatória que tem escrita... a solução será mesmo ver o filme! :) Abraço e bom Domingo!

Moisés Lourenço Gomes said...

"O Perfume" é um filme que expõe as entranhas da alma de uma forma escancarada, revelando a olhos nus, a obscuridade interior do ser humano.

Nele, percebemos a mutação do “Bem em Mal” e do “Mal em Bem”.

Definitivamente, o ser humano é um resultado de fatalidades marcantes e processos indefiníveis.
Nesse filme é visível que nem sempre aquele que mata é o único vilão, pois, basta deixarmos aflorar os sentimentos desenfreados e o senso de justiça vingativa, para não sabermos mais quem é o verdadeiro vilão da história.

O filme mostra a criação de um “monstro para a sociedade” (Jean-Baptiste Grenouille é o serial killer do filme), que sendo um objeto de abuso físico e psíquico, não teve como se moldar a fim de interagir numa sociedade, respeitando e cumprindo aquilo que é entendido como vital numa sociedade.

Outra percepção que se pode ter do filme, é a naturalidade na aceitação da transformação, em massa, do povo, em pessoas impiedosas, que consente com a barbárie, que vibra com a atrocidade, que anseia em depositar todo o rancor interior frente a tortura e sofrimento alheio e que apóiam e até arquitetam uma maneira de se estender a dor da tortura até o último suspiro alheio.

Na verdade, a grande e única diferença entre o Jean-Baptiste Grenouille e o povo, é a “monstruosidade” incutida nele, que o faz executar pessoas inocentes em série, enquanto o povo tenta executar uma pessoa, vítima de diversos fatores que o inviabiliza em viver livremente numa sociedade.

Moisés!