Monday, January 22, 2007

a morte da poeta...


Da Ferida
Regresso, depois da litania,
à contemplação sem voz.
A memória da música é
amarga, quando estou só.
Os quartetos de Beethoven
arrancam-me uma parte
do corpo em substância.
Ferida, terei de ir ainda
à cidade dia a dia.

Fiama Hasse Pais Brandão poetisa, dramaturga, ficcionista, ensaísta e tradutora ficará para a história da literatura como uma autora multifacetada. A profunda sensibilidade da obra que deixou enriquece o património literário e testemunha a vitalidade da cultura portuguesa. Eduardo Lourenço considera Fiama “uma espécie de concha de silêncios, onde se reflectiam todas as dores e alegrias do mundo”. É “mais célebre do que verdadeiramente conhecida”, disse à imprensa. “Mas vamos ter agora tempo para a ler, como é costume em Portugal, onde só acordamos com os mortos nos braços”, acrescentou. Partiu ontem à noite...

19 comments:

Maria P. said...

De assinalar, sem dúvida.

Uma boa semana Luís.

Anonymous said...

Luis, meu "brother" do coração, um poeta não morre nunca! Jamais ...
Viaja ...
A nós, os que ainda não acedemos à tal passagem, cabe-nos perpetuá-los (os poetas mortos)...
E esse papel, meu querido amigo, tu fazes como ninguém.
Um imenso bem hajas também por isso.
***
Um beijo desta "Fada", hj a caminho do Sado para ver Golfinhos ... Aqueles seres tão especiais ...

Mel

Tino said...

Não conheço...mea culpa! Tens razão, ser célebre não é o mesmo que ser conhecido! A mamã Mel disse tudo, a morte só acontece verdadeiramente para quem nada deixa neste mundo.

Grande abraço,amigo!

Unknown said...

... mas não a morte da poesia que não morreu com a poetisa...

Anonymous said...

" Não é possível demarcar o espaço onde estou "

Fiama


“A poesia de Fiama põe a cada passo o problema da sua própria possibilidade, que é simultaneamente o problema da realidade. Para ela, como para todo o verdadeiro poeta, o poema recusa todo o contentamento e toda a clausura.”

António Ramos Rosa , in: “Fiama Hasse Pais Brandão ou o espaço da infinidade”


Partir também é chegar, é anbandonar a esfera do Não – Ser para se entrar na esfera do Ser ( unir o que se encontrava cindido ):
Lugar que o poeta tanto canta e o qual nos procura traduzir para palavras.
Morre o Homem, fica a obra. Neste caso uma grande obra.

Luís Costa

Anonymous said...

In memoriam: Fiama Hasse Pais Brandão



Olhaste, por um curto momento, para trás.
Com o teu olhar de grandes lagos
absorveste a
Frescura do céu e de todos os seus astros.
De cabeça ao alto avançaste, corajosa,
Por entre os nevoeiros, de pés descalços...
Depois dum último passar de dedos por dentro
dos teus cabelos, fechaste a porta.
E com um sorriso
repleto de mar,
- retornaste ao silêncio da concha

By Luís Costa

Jonice said...

É mesmo ... muitas vezes a celebridade é tão pouco conhecida. Desta eu nunca ouvi nem o nome. Vou procurar conhecer um bocadinho.

Meu post de hoje é a favor de uma causa, se quiseres dar lá um pulinho ...

Beijinhos

Amaral said...

Não conhecia, mas já tinha lido há bem pouco tempo um poeminha num blogue amigo...
Estiveste atento à sua partida deste sítio terreno, mas a sua poesia irá certamente permanecer entre os que a admiravam.

Vulcano Lover said...

No fim, voy aprender mais contigo da cultura portuguesa do que nas áulas de portugués. Hahahaha

obrigado pelos teus parabéms no meu aniversario..
Unm beijo... hoje faz muito frio em madrid...!!

vida de vidro said...

Fica a poesia. E, de facto, não é das poetisas mais conhecidas, como merece. Talvez agora. :( **

TARCIO OLIVEIRA said...

Nisso então somos parecidos: também aqui no Brasil só passamos a valorizar os talentos depois que eles morrem.
-
Beijos, Luis.
[ Ando sumido por causa de trabalhos extras e compromissos profissionais. Tem sobrado pouco tempo para atualizar meus blogs e visitar os blogs amigos. ]

silvia said...

Mais uma escritora que se vai... Todos vamos um dia... Ficam os seus livros para podermos ler. Enfim... coisas da vida.

Um beijo e um :)

Luís said...

"só acordamos com os mortos nos braços"

É. Infelizmente somos assim. O que não quer dizer que não possamos mudar: há muitos artistas dignos do nosso carinho e apreço ainda entre nós =)

osangue / PR said...

Uma Senhora. Ficou. Um abraço,

osangue / PR said...

Bom fim de semana.

rui-son said...

Essas linhas foram o suficiente para me deixarem mais que cativado pela autora e cheio de vontade de conhecer mais. Obrigado por me dares a conhecer mais um marco da nossa cultura.

silvia said...

Apeteceu-me parar por aqui...
Porquê? Nem eu sei mas apeteceu-me vir a este cantinho.
Bem... é melhor desejar-te um optimo fim de semana e ir para outra freguesia antes de ser corrida:)
Um beijo e um:D

Jonice said...

Oi Luís, acabo de chegar do cinema. Fui ver Copying Beethoven e então tive que vir aqui ler novamente teu texto sobre o filme que tanto me deliciara na altura. E agora foi ainda mais gostoso, pois lí com a música ainda ecoando na mente.
Bom fim de semana e beijinho

Anonymous said...

"Urbanização

Tudo o que vivêramos
um dia fundiu-se
com o que estava
a ser vivido.
Não na memória
mas no puro espaço
dos cinco sentidos.
Havíamos estado no mundo, raso,
um campo vazio de tojo seco.

Depois, alguém
urbanizou o vazio,
e havia casas e habitantes
sobre o tojo. E eu,
que estivera sempre presente,
vi a dupla configuração de um campo,
ou a sós em silêncio
ou narrando esse meu ver."



Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas (2002)
Edições Quasi

xxx

Foi um dos post da Teia há uns dias também...há uns dias também as palavras ficaram sem este corpo que as materializava e o seu rasto perdura assim em jeitos de ecos pelos corações de quem a procura.

xxx

Em jeito, agora eu, de visita, conduzida pela amiga comum Mel.

: )