Friday, February 23, 2007

a morte saíu à rua...

Completam-se hoje 20 anos sobre a morte de Zeca Afonso, às 3 horas de 23 de Fevereiro de 1987.

A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar sem nome
Pra qualquer fim

Uma
Gota rubra
sobre a calçada
Cai

E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai

O vento
Que dá nas canas
Do canavial

E a foice
Duma ceifeira
De Portugal E o som
Da bigorna
Como
Um clarim do céu

Vão dizendo
em toda a parte
O pintor morreu

Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual

Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale

À lei assassina
À morte
Que te matou Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou

Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim

Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá
Por fim

Na curva
Da estrada
Há covas
Feitas no chão

E em todas
Florirão rosas
Duma nação


José Afonso continua a ser um dos nomes maiores da música portuguesa. Dono de uma voz admirável, foi simultaneamente um militante da utopia. Conhecido como cantor de intervenção, Zeca Afonso soube criar temas que aliavam a tradição musical portuguesa ao combate político. Foi um cidadão comprometido com a política e a sociedade. A canção “Grândola Vila Morena” transformou-se no hino do 25 de Abril. Um grande criador e um grande inovador. A 23 de Fevereiro de 1987, aos 57 anos, José Afonso, natural de Aveiro, morreu no Hospital de Setúbal. A morte saiu à rua mas a voz e a música de José Afonso permanecem…

12 comments:

Antona said...

um militante da utopia.Me gusta esta definicion.
Obrigado por tu visita y tus palabras
Bom fin de semana
abraÇo

Frioleiras said...

Mt obrigada pela informação
(Ler Devagar ...)
que
deste,
no meu blog...
Um bj

F.

Frioleiras said...

Adorava...
adorava mesmo ...
as baladas dele,
os fados de Coimbra,
tb,
mt !

Maria P. said...

Também hoje recordei Zeca na Casa.

Bom fim de semana.

Anonymous said...

Obrigada Luís!!! E Venham mais cinco e que a liberdade nunca morra!!!!!!!!!!!
beijocas e bom fim semana!!!

sonialx

isabel said...

a voz
permanece

sem-comentarios said...

Merecida homenagem a um artista que marcou muito uma época no nosso país :)

vida de vidro said...

Permanece a lembrança e a música. Sempre. **

M&S said...

Olá! Mas a sua obra permanece...e isso é k conta! M&S

M J Correia said...

A Canção é uma arma(...) ontem e sempre...

No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada.

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Zeca Quem será que se enganou e lhes franqueou a porta à chegada?!
Bom Domigo Luis

Anonymous said...

Luís o melhor tributo que se pode fazer a Zeca Afonso é certamente a defesa da Liberdade e o hastear alto esse valor.
E, meu "brother" aqui te deixo este poema que escrevi na semana passada num blog "Ecos do Tempo" em comentários, dando continuidade a uma ideia de outro bloguista ...
(aresende.abt@sapo.pt)
***
Havia um sobretudo roto
e um corta-vento, um esconder
de um corpo em grades sem asas.
E um mastigar no ventre do vento,
a palavra Alada.
(Que a liberdade,essa, estava algemada
em hedionda masmorra).

E haviam doridas vontades de elevar
raízes, de alongar as estradas de todas as tardes,
em liberdades …

E Abril chegou.
Antecipou nos cheiros as rosas de Maio,
sulcou de vermelho, os cravos das horas.
Erguidos. Altivos …
Enfeitaram canos de espingardas.
(Desnecessárias).

E dos pássaros-lábios outrora cerrados
brotaram líquidas palavras. Cânticos líricos…
E dos olhos, na emoção, milhões de lágrimas
sulcaram faces-margens, sem retenção...
Lavraram arados as ondas dos dias …

Semeadas agora, brotam urgentes, sementes,
da Terra quente. Emergem em festa,
virgens florestas. Dádivas, ofertas …

"Havia um sonho, na véspera do tempo …"(1)
Era dor … e lamento …
Hoje é Liberdade,
aberta que está a porta da verdade!
(Mel de Carvalho)
(1)aresende.abt@sapo.pt

***
Zeca Afonso, SEMPRE!
******
Um beijo

Maria said...

Apenas a emoção tomou conta de mim...
Nunca é demais recordar, para que nunca se esqueça!

Um abraço