Tuesday, July 31, 2007

Antonioni ou o poeta do tédio...

Michelangelo Antonioni, um dos grandes mestres do cinema europeu, cujos filmes são considerados como dos mais influentes no neo-realismo italiano e na estética do cinema em geral, morreu segunda-feira em Roma. O poeta do tédio influenciou uma geração tendo uma marca registada, a incomunicabilidade. No léxico dos cinéfilos, essa palavra complexa tornou-se sinónimo dos filmes do cineasta italiano, devido aos seus retratos agudamente críticos dos valores da burguesia (o casamento, a amizade, a família). Graças a ele chegaram à grande tela as problemáticas mais duras do mundo contemporâneo, como a falta de comunicação e a angústia. Com Antonioni morre não só um dos maiores realizadores, mas também um mestre da modernidade. Cineasta da dificuldade de viver e amar, dirigiu duas dezenas de filmes, entre os quais Escândalo de Amor, a trilogia constituída por A Aventura; A Noite e O Eclipse, e ainda O Grito, O Deserto Vermelho, Blow-up, ou Identificação de uma Mulher. Consagrado internacionalmente, ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza, com O Deserto Vermelho, a Palma de Ouro do Festival de Cannes, com Blow-up, o Prémio Especial do Júri de Cannes, com Identificação de uma Mulher, um Óscar de Hollywood pelo conjunto da sua carreira e também um Leão de Ouro pela carreira. Antonioni pertence a uma velha guarda de cineastas intelectuais que, como Pasolini, se dedicou também à pintura e à escrita; o seu livro de contos That Bowling Alley on the Tiber serviu de inspiração para Além das Nuvens.

Recordo Mistério de Oberwald e a sedutora Mónica Vitti, cuja interpretação me arrebatou. O último filme que vi foi Profissão Repórter, no Nimas, em sede de reposições de grandes realizadores. E também neste filme, se dúvidas tivesse, pude confirmar o epíteto de poeta do tédio…

A morte dele na noite de segunda-feira segue-se à do lendário director sueco Ingmar Bergman, curiosamente no mesmo dia. Bergman dizia que admirava alguns dos filmes do Antonioni por serem desinteressados e algumas vezes visionários.

Ver trailers e takes de alguns dos filmes mencionados no post: Profissão Reporter; Eclipse; Blow Up.
Ler artigo sobre o realizador em The New York Times.

16 comments:

Ka said...

Confesso que não sou conhecedora da obra de Antonioni.
No entanto lembro-me perfeitamente de ser miúda e de ele ser um cineasta de referência, tal como Bergman.
Uma geração que desaparece...

Beijinho

Ps - Acho que amanhã nem sequer vou ler a página da cultura, não vá ter morrido mais algum cineasta dos bons

Maria said...

O Deserto Vermelho, A Noite, o Eclipse e o Blow-up são os filmes que mais me marcaram.

Ficámos todos mais pobres, em 2 dias...

O Quarteto vai passar, neste fim de semana, filmes dos dois, sei que passam o Saraband e o Blow-up, à meia noite, as famosas sessões da meia noite....

Anonymous said...

Duas perdas irreparáveis, é um facto.

isabel said...

Preciosa informação, Maria!

Beijos aos dois.

avelaneiraflorida said...

ESpero que haja o bom senso de editar, não sei se já existem, estes filmes me DVD...

Ao menos poderiamos rever e rever...

papagueno said...

É realmente o fim de uma geração de grandes cineastas. Triste ver dois mestres partirem no mesmo dia.
Já agora, Bénard da Costa anúnciou para breve homenagens aos dois realizadores, é só tomar atenção à programação da Cinemateca.
Um abraço

Custódia C. said...

Eles partiram, mas não se perderam. Ficaram as suas obras intemporais!
Obrigado pela visita :)

kiduchinha said...

Luís... o que seria este mundo dos blogues, sem o teu?? O que seria da minha humilde cultura geral sem ti?? ;) YOU ARE THE BEST MY FRIEND!!!! Muitos Parabéns por esta beleza e por seres quem és (as verdades têm de ser ditas sempre! nunca é demais!)
beijocas

GarçaReal said...

Não sabia da morte do Antonioni.
Lamento bastante, pois vi vários dos seus filmes, e era dos cineastas do meu agrado assim como do Bergman.
A vida não é eterna mas as suas obras serão, pois não morrem com eles.

bjgrande

Cöllybry said...

Fica a obra que para se rever,já que o Espirito é emortar...bele homenagem...

Meu doce beijo

João Roque said...

Pois, amigo Luís
vai-nos restando Manuel Oliveira, outro poeta do tédio, como muito bem classificaste Antonioni, mas este activo ainda, apesar de mais velho que os recentementes falecidos Bergman e Antonioni.
Para quando um Óscar honorário a Oliveira?

Telejornalismo Fabico said...

*



sem querer fazer trocadilho e já fazendo, a obra do antonioni me causa tédio.
e não me faz refletir sobre o tédio.

pra mim, ele é a supremacia da forma sobre o conteúdo. e veja bem, não vejo isso como ruim, e até admiro renais ou greenway justamente por fazerem isso com maestria, mas antonioni me cansava.

talvez num dia de melhor humor eu reveja isso.



*

Anonymous said...

Tivemos uma segunda feira extremamenete triste, porque sabemos o que perdemos. E demos muito valor a obra de cada um, antes e não agora porque se foram. Reconhecer o artista em vida , é sinal de saber-se centrado nesse mundo, ainda que num mundo desencontrado.

beijos

bru

Fernando Pinto said...

Parabéns pelos textos que dedicaste a estes dois grandes cineastas "desaparecidos". Amo o cinema europeu, como sabes! Gostei muito do que li e vi, como sempre!

Abraço do FMOP

Alexandre said...

Quando vi a História de um Fotógrafo (não sei se é bem assim) fiquei pasmado pois tive muita didiculdade em acreditar que estava a ver um filme dos anos 60. Pensei tratar-se de uma versão, anos 80 ou 90.

Antonioni, à frente do seu tempo!

Ana Paula Sena said...

Muito boa, esta homenagem a Antonioni! Um grande realizador, sem dúvida. Deixa para trás toda uma obra que vale a pena relembrar.