Dedicado a Maria Faia (http://wwwquerubimperegrino.blogspot.com/) por simpaticamente me ter distinguido com o prémio
1970, Anna tem 9 anos. Existência simples e tranquila, ordem e costumes. Uma vida que decorre confortavelmente, entre Paris e a quinta vitícola dos avós maternos, em Bordéus. Sem aviso, entre 70 e 71, o compromisso político assumido por Marie e Fernando (pais de Anna) altera-lhe a vida. Primeiro, o tio, comunista e envolvido na luta contra o regime de Franco, desaparece, provavelmente assassinado pela guarda-civil espanhola. Um comunista de que não convém falar-se. Posteriormente, após uma viagem ao Chile, durante a presidência de Salvador Allende, os pais decidem pôr em prática os seus ideais políticos. Termina definitivamente a serenidade na casa dos arredores de Paris, que começa a ser frequentada por camaradas "vermelhos e barbudos", por pessoas que sonham com a Revolução de Fidel Castro. Finda então a época da educação religiosa e, particularmente, a quietude que caracterizava a vida daquela menina francesa. Por culpa de Allende! Por culpa de Fidel!
Comovente e singular este filme de Julie Gavras que retrata de forma cativante uma geração que assumiu um compromisso, que lutou, que se excedeu e que ao mesmo tempo viveu uma época brilhante. No fundo é uma reflexão sobre o compromisso político e tudo o que isso implica, sobre as razões que o fundamentam e sua utopia, sobre a rebelião dos adultos vista com os olhos de uma criança (Nina Kervel é muito convincente na interpretação de uma personagem difícil com as suas angústias diante das desilusões e descobertas que se transformam em novas ilusões. É muito comum ver no ecrã crianças muito estereotipadas, num estilo de representação bacoca, o que felizmente não sucede nesta obra). Crescer nem sempre é fácil, sobretudo quando a política irrompe no dia-a-dia de uma rapariguinha, no meio dos seus brinquedos e dos seus contos de fadas.
1970, Anna tem 9 anos. Existência simples e tranquila, ordem e costumes. Uma vida que decorre confortavelmente, entre Paris e a quinta vitícola dos avós maternos, em Bordéus. Sem aviso, entre 70 e 71, o compromisso político assumido por Marie e Fernando (pais de Anna) altera-lhe a vida. Primeiro, o tio, comunista e envolvido na luta contra o regime de Franco, desaparece, provavelmente assassinado pela guarda-civil espanhola. Um comunista de que não convém falar-se. Posteriormente, após uma viagem ao Chile, durante a presidência de Salvador Allende, os pais decidem pôr em prática os seus ideais políticos. Termina definitivamente a serenidade na casa dos arredores de Paris, que começa a ser frequentada por camaradas "vermelhos e barbudos", por pessoas que sonham com a Revolução de Fidel Castro. Finda então a época da educação religiosa e, particularmente, a quietude que caracterizava a vida daquela menina francesa. Por culpa de Allende! Por culpa de Fidel!
Comovente e singular este filme de Julie Gavras que retrata de forma cativante uma geração que assumiu um compromisso, que lutou, que se excedeu e que ao mesmo tempo viveu uma época brilhante. No fundo é uma reflexão sobre o compromisso político e tudo o que isso implica, sobre as razões que o fundamentam e sua utopia, sobre a rebelião dos adultos vista com os olhos de uma criança (Nina Kervel é muito convincente na interpretação de uma personagem difícil com as suas angústias diante das desilusões e descobertas que se transformam em novas ilusões. É muito comum ver no ecrã crianças muito estereotipadas, num estilo de representação bacoca, o que felizmente não sucede nesta obra). Crescer nem sempre é fácil, sobretudo quando a política irrompe no dia-a-dia de uma rapariguinha, no meio dos seus brinquedos e dos seus contos de fadas.
Este filme é um poema sobre a nostalgia de uma época, e simultaneamente sobre a procura de um novo compromisso.
Registe-se a passagem da canção chilena Venceremos. Noutro momento escuta-se com emoção os acordes de El Ejército del Ebro, a canção mítica da guerra civil espanhola.
(…)
Venceremos, venceremos,
Mil cadenas habrá que romper,
Venceremos, venceremos,
La miseria sabremos vencer.
Campesinos, soldados, mineros
La mujer de la patria también,
Estudiantes, empleados y obreros,
Cumpliremos con nuestro deber.
La mujer de la patria también,
Estudiantes, empleados y obreros,
Cumpliremos con nuestro deber.
Sembraremos las tierras de gloria,
Socialista será el porvenir,
Todos juntos haremos la historia,
A cumplir, a cumplir, a cumplir
(…)
Socialista será el porvenir,
Todos juntos haremos la historia,
A cumplir, a cumplir, a cumplir
(…)
El Ejército del Ebro,
rumba la rumba la rumba la
una noche el río pasó,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Y a las tropas invasoras,
rumba la rumba la rumba la
buena paliza les dio,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
El furor de los traidores,
rumba la rumba la rumba la
lo descarga su aviación,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Pero nada pueden bombas,
rumba la rumba la rumba la
donde sobra corazón,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Contra ataques muy rabiosos,
rumba la rumba la rumba la
deberemos resistir,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela!
Pero igual que combatimos,
rumba la rumba la rumba la
prometemos resistir,
¡Ay Carmela! ¡Ay Carmela
A ouvir:
Venceremos
El Ejército del Ebro
15 comments:
*
eu adoro filmes com crianças.
quando bem dirigidas, há uma espontaneidade de atuação única.
há clássicos irretocáveis - e muitos você tem linkado aqui o seu blog - como Los 400 coups, Cria Cuervos, The Piano, Ladri di Biciclette, entre tantos.
Aqui no Brasil, há um grande filme com da safra recente: Central do Brasil. a sequência final, em que o menino corre atrás de Fernanda Montenegro é de cortar o coração.
*
Ola Luis galego.
Obrigada pela visita em meu “mais aitudes”.
Precisamos de mais pessoas hoje em dia dispostas a estar a frente do seu tempo, a lutar, a revolucionar, você não acha?
Sabe, às vezes fico pensando: como podem os adultos imporem às crianças tamanho peso. Penso nas crianças do Brasil, muitas destinadas a viver numa sociedade onde já nascem excluídas, ficam à margem uma vida inteira, crescem, serão jovens sem oportunidades, pois o que lhes faltara na infância irá faltar também em suas vidas até o fim. Triste isso, mas de se fazer pensar.
Obrigada pela visita em minha humilde casa. Será sempre bem vindo.
Bjs
Da amiga Josse
Destaque merecido!
Outro filme a ver. Na linha de Malle?!
Olá
vim para dizer bom dia e seja bem vindo na minha casa onde há uma mao cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
1 sorriso muito luminoso e até breve
Lana
Luís,
O destaque é-te merecido e justo.
Acrescentei este filme à minha já extensa lista ...
Do post: óptimo.
Um excelente fim de semana
Beijos
Mel
www.noitedemel.blogs.sapo.pt
mais um filme assinalado...
obrigada
beijO
É sempre um prazer ler as tuas recensões. Mais uma excelente crítica, de um excelente conhecedor da 7 arte. Não conheço o filme, mas o teu artigo abriu-me o apetite.
Parabéns!
*********
E já agora aproveito para te deixar dois poema de um dos grandes poetas portugueses, pouco conhecido do grande público: Sebastião Alba, poeta vagabundo, por opção, que cheguei a encontrar nas ruas de Braga. Andava sempre mal vestido, bastante sujo e bebia de mais. Mas era um homem muito bem- parecido, tinha uns olhos muito azuis, lembrava um pouco um busto grego. Morreu a 14-Outubro-2000, foi atropelado mortalmente por um condutor que se pôs em fuga. É um poeta que vale a pena ler.
Deixar entrar no poema
Alguns clichés.
Submetidos à experiência inefável.
Sua carga (eléctrica ? )
Escoar-se-á.
Não há uma vala comum para as palavras
Decaídas,
Um dicionário no inferno;
Mas deixa-as vir à tona
Da claridade,
E nada lhes insufles. Vê:
Não suportando a beleza
Que as circunda, abismam-se
Em seu ridículo.
PRAIA
Entre dois domingos
a cidade oculta-nos
a lisa permanência do vento
e ele rectifica umaq duna
Mas já a luz elide
nossas olheiras do asfalto
velozes véus de areia descobrem
pequenos sarcófagos de conchas
Refugiamo-nos
Mortal só a distância
de nem um indício no mar.
In: Sebastião Alba “ A NOITE DIVIDIDA “, Assírio& Alvim
Belo post sobre um filme que desconhecia, mas que me despertou a curiosidade.
reparei num promenor; o apelido da realizadora e Gavras; terá algo a ver com Costa Gavras, o realizador do inesquecível "Z"?
papagueno has left a new comment on your post "por culpa de Fidel...":
Realmente ela é filha de Costa Gavras. Quando li a sinopse do filme tirei logo todas as dúvidas. Este é de certeza o melhor filme em estreia esta semana.
Obrigado Luís pela visita ao meu Bairro e gostei do comentário: "O que é belo é eterno"
Um abraço
Voltei..."por causa de Fidel", o filme que tmbém encontri no papagueno!!!!
Adoro cinema, e tudo o que seja um bom filme me atrai!!!!
Este tem tudo para que, efectivamente, o seja!!!
Bom resto de Domingo!
Saí daqui e fui direitinho ao site do filme.
Vi o trailer e descobri que é este que vou ver neste fim-de-semana =)
Como me é fácil recuar no tempo com estes posts.....
Obrigada.....
Filme muito emocionante e com partes que chegam a ser divertidas. Possivelmente, um dos melhores que assisti e com destaque especial para a pequena Nina Kervel.
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