De olhos bem postos na Praça Luís de Camões e tão perto dos Teatros Nacional de São Carlos, São Luiz e Mário Viegas encontra-se o irresistível Bairro Alto Hotel instalado no antigo Grand Hotel de l’Europe, por onde passaram nomes sonantes das artes de toda a Europa entre os séculos XIX e XX. Com a preocupação de manter a atraente herança estética o edifício foi alvo de uma brilhante intervenção arquitectónica, com materiais de inspirações francesa, inglesa e italiana, com requinte harmonizado com a atmosfera de Lisboa e a sua história. Ligam-se apontamentos contemporâneos com elementos das décadas de trinta a cinquenta, bem acompanhados por frescos nas paredes. Já à entrada do lobby o equilíbrio arquitectónico e decorativo assume o papel principal com dois grandes nichos originais em pedra de lioz amaciada de onde estão suspensas duas esculturas em ferro forjado preto de autoria de Rui Chafes. Mas foi no terraço que admirei um inigualável pôr-do-sol sob a cidade abraçada pelo rio Tejo, bem acompanhado de um Mojito, um estranho cocktail à base de rum branco. Sim, não é todos os dias que abraçamos o Tejo com um cocktail com mais de 100 anos que segundo a lenda floresceu na noite de Havana usando ingredientes nativos das Caraíbas. A mistura de hortelã com bebidas é muito antiga. A diferença é que a história desta bebida era contada nos bares cubanos por Hemingway. Segundo o escritor, o almirante e aventureiro inglês Francis Drake, o primeiro branco a aportar em inúmeras ilhas do Pacífico Sul, apaixonado pelos aromas da hortelã, teria sido o primeiro a misturar a planta com boas doses de rum.
Pois, foi neste espaço que já acolheu Pina Baush, que respirei bem fundo avistando uma das mais belas paisagens da cidade e do Tejo.
Saio do hotel e mergulho na Fnac do Chiado, claro. Não resisto e compro um livro que me conta que uma Maria José trabalha como avaliadora de arte numa casa de leilões em Madrid. Um dia recebe o telefonema de um antigo companheiro e amante que lhe anuncia o suicídio do seu comum amigo. A notícia remete-a para os seus tempos de estudante de Belas-Artes, quando ainda sonhava ser pintora, e para a história de amor que os três viveram quando tinham 20 anos. Com a emoção do que sente ser irrecuperável, Maria José reconstrói os pormenores daquela paixão triangular, impossível e excessiva e a alegria com que exploraram o sexo, a intimidade e a entrega cúmplice com que abandonaram a pintura. Uma felicidade ensombrada pelos ciúmes e pela ambição provocada pelo talento dos três aprendizes de artista. Parece tratar-se de uma viagem de descoberta de dois homens e uma mulher que percorrem a arte, o sexo, o amor e a morte. A acreditar na badana de Castelos de Cartão não se trata propriamente de um triângulo amoroso, mas de três pessoas iguais, de três pessoas que perdem. O livro não é enorme e percebo na leitura rápida que faço à obra da espanhola Almudena Grandes que não posso perder aquela história. A ler calmamente no próximo fim-de-semana, em terras da Zambujeira do Mar.
Já atrasado corro para uma sala de cinema, quero que o J. veja o filme sobre Mandela (Mandela, Meu Prisioneiro, Meu Amigo), alguém que ele descobriu o ano passado quando fez um trabalho para a escola. No filme vemos como Mandela (Dennis Haysbert, actor que muito aprecio) fez amizade com o guarda branco que o vigiava durante o período em que esteve na prisão. O guarda, típico branco sul-africano, vê os negros como seres inferiores, assim como a maioria da população branca que vivia sob o apartheid dos anos 60. Crescido no interior, ele fala o dialecto Xhosa. Precisamente por isso, não é um guarda prisional comum: actua como espião do governo com a missão de passar informações para os serviços secretos. Mas a convivência com o activista, cria laços de amizade entre eles e transforma-o num defensor dos direitos negros na África do Sul. Não é um filme extraordinário, mas gostei que o J. o visse…
Já em casa repouso sobre o Câmara Clara onde se discutia Fados, o último filme de Carlos Saura, que vai ter a sua estreia a 4 de Outubro em Portugal mas já objecto de críticas calorosas na imprensa especializada dos EUA. Carlos do Carmo, o português que começou por sonhar o filme e ajudou Saura a concretizá-lo, e Carlos Quevedo, argentino radicado em Portugal há 25 anos, anteciparam os méritos e os aspectos polémicos de Fados e exploraram os pontos de contacto entre o Fado, o Flamenco e o Tango, os dois outros géneros musicais tratados por Saura na sua cinematografia.
E amanhã é segunda-feira, again…
Saio do hotel e mergulho na Fnac do Chiado, claro. Não resisto e compro um livro que me conta que uma Maria José trabalha como avaliadora de arte numa casa de leilões em Madrid. Um dia recebe o telefonema de um antigo companheiro e amante que lhe anuncia o suicídio do seu comum amigo. A notícia remete-a para os seus tempos de estudante de Belas-Artes, quando ainda sonhava ser pintora, e para a história de amor que os três viveram quando tinham 20 anos. Com a emoção do que sente ser irrecuperável, Maria José reconstrói os pormenores daquela paixão triangular, impossível e excessiva e a alegria com que exploraram o sexo, a intimidade e a entrega cúmplice com que abandonaram a pintura. Uma felicidade ensombrada pelos ciúmes e pela ambição provocada pelo talento dos três aprendizes de artista. Parece tratar-se de uma viagem de descoberta de dois homens e uma mulher que percorrem a arte, o sexo, o amor e a morte. A acreditar na badana de Castelos de Cartão não se trata propriamente de um triângulo amoroso, mas de três pessoas iguais, de três pessoas que perdem. O livro não é enorme e percebo na leitura rápida que faço à obra da espanhola Almudena Grandes que não posso perder aquela história. A ler calmamente no próximo fim-de-semana, em terras da Zambujeira do Mar.
Já atrasado corro para uma sala de cinema, quero que o J. veja o filme sobre Mandela (Mandela, Meu Prisioneiro, Meu Amigo), alguém que ele descobriu o ano passado quando fez um trabalho para a escola. No filme vemos como Mandela (Dennis Haysbert, actor que muito aprecio) fez amizade com o guarda branco que o vigiava durante o período em que esteve na prisão. O guarda, típico branco sul-africano, vê os negros como seres inferiores, assim como a maioria da população branca que vivia sob o apartheid dos anos 60. Crescido no interior, ele fala o dialecto Xhosa. Precisamente por isso, não é um guarda prisional comum: actua como espião do governo com a missão de passar informações para os serviços secretos. Mas a convivência com o activista, cria laços de amizade entre eles e transforma-o num defensor dos direitos negros na África do Sul. Não é um filme extraordinário, mas gostei que o J. o visse…
Já em casa repouso sobre o Câmara Clara onde se discutia Fados, o último filme de Carlos Saura, que vai ter a sua estreia a 4 de Outubro em Portugal mas já objecto de críticas calorosas na imprensa especializada dos EUA. Carlos do Carmo, o português que começou por sonhar o filme e ajudou Saura a concretizá-lo, e Carlos Quevedo, argentino radicado em Portugal há 25 anos, anteciparam os méritos e os aspectos polémicos de Fados e exploraram os pontos de contacto entre o Fado, o Flamenco e o Tango, os dois outros géneros musicais tratados por Saura na sua cinematografia.
E amanhã é segunda-feira, again…
15 comments:
Ainda bem - digo eu - que o j. - o viu.
um domingo pleno.
como te invejo.
um mojito sobre o tejo...um livro na fnac...e finalmente num cinema perto de si.
uma falha só: não passou pela brasileira para tomar café.
Caro Luis,
Venho aqui "abastecer-me" de pistas....Levo tudo!!!!
Só que depois...não tenho Zambujeira do mar!!!!!!
E fica tudo em pilha à espera...
Mas volto sempre!!!!
BRIGADOS!!!!
Quem belos momentos.
A vid aé feita disso mesmo.
Felicidades
Que inveja, eu que passei o domingo fechada.....
Hei-de experimentar o mojito no Bairro Alto Hotel.
Na Fnac nunca me fico só por um livro....
E vi o Câmara clara. Espero por 4 de Outubro...
Neste momento preciso, na RTP2, a Ana Sousa Dias..... porque na RTP2?
Um abraço
Todo este post é realmente weblogg! E são mágicas as impressões transmitidas: de repente, via-me eu mesmo a atravessar tal jornada...
Nossa!
Deve ser do adiantado da hora, mas nem sei por onde comece.
Acho que vou deixar de ler aqueles caderninhos que vêm no meio das revistas semanais, para nos dizerem os filmes, os livros, etc...
E daí, talvez não, porque eles não têm um J. para levar ao cinema.
Começando pelo começo, pelo hotel: por mero acaso sou amiga de um dos donos e acompanhei aquele sonho, que começou há bastantes anos.
O hotel é lindo, no restaurante a comida é divina, mas a vista do terraço..ai, aquela vista, mata-me!
Confesso que preferia um Bellini, e não tem ideia da pena que tenho de não gostar de Mojitos.
Tive o privilégio de já ter ido a Cuba, e não imagina a frustração que senti quando exactamente na Bodeguita Del Medio, onde o senhor Hemingway bebia os seus, provei um e só não vomitei por vergonha. ODEIO Rum. Mas ao lê-lo senti-me transportada para aquele calor, aquela gente, aquele cheiro...bem, tenho que ver se durmo qualquer coisita.
O livro vou comprar, mas não tenho Zambujeira. Azar!
O filme vou tentar ver.
Que belo domingo. Desejo que a semana também seja boa.
BlueVelvet
Que sorte a do J.
Aponto o hotel para a próxima visita a Lisboa. Sempre gosto de abraçar o tejo. E também adoro o mojito.
Não gosto muito da Almudena Grandes. Na minha opinião está sobrevalorizada. Seus românces são um bocado fáceis... Este do que falas não é o último (se calhar ainda não está em portugal)que acho teve melhores críticas.
Abraços-
Que tarde fantástica, com a companhia perfeita! Obrigada.LL
Não foi um domingo, foi um DOMINGO!
Delícia saber do filme Fados que vem por aí. Eu simplesmente AMO os filmes de dança do Saura: Bodas de Sangue, Carmen e Tango, aliás, Tango foi um dos filmes mais lindos que eu já vi!
Beijinho :)
Amigo Luís
fico-me pelo hotel, que é um sonho.
Aquele terraço....meu Deus, mesmo sem "mojito" é uma delícia.
Sucede que eu e um grande amigo meu somos muito amigos de uma excelente profissional que ali trabalha num cargo importante, e que nos mostrou o hotel, de alto a baixo, e ainda teve a amabilidade de nos convidar para um sublime jantar no restaurante-maravilhoso!
Só um aparte; como nesse dia davam um jogo do benfica na Sport Tv e as televisões dos bares estavam sintonizadas noutros canais, tive o privilégio de ver o jogo num quarto, aberto para mim, apenas para esse fim: um luxo!
Abraço.
*
fiquei com profunda inveja do teu passeio.
Portugal, aguarde-me.
*
Bem o cenário causa-me inveja...hehe se bem que aqui no norte também temos sítios não menos agradáveis para um aperitivo. Mas fico curiosa para conhecer o hotel, talvez numa próxima ida a Lisboa em que tenha tempo.
Fnac e cinema outras duas coisas que cá em casa também se faz..hehe
Nada como uma tarde a fazermos o que gostamos na companhia de quem gostamos
E já vem aí outro para aproveitarem!!
Beijinho
ps - Câmara clara também vi e estou muito curisa para ver o filme, não que seja fã incondicional do fado mas porque vai ser interessante ver o resultado nos olhos de quem não é português
Sem dúvida Luís que este teu (nosso já também, de todos os que te lêem) espaço é alimento para a alma e para a minha cultura geral sobre cultura :) Obrigada amigo! Continua a divulgar e a abraçar uma das causas maiores - a Arte!
bom fim de semana!
beijocas
que bela foto, luis. e que domingo fantástico, capaz de recompor as forças para uma nova semana. abraços
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