(Novo fado da Severa)
Ó rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho.
Há um degrau no meu leito,
Que é feito p'ra ti somente
Amor, mas sobe com jeito
Se o meu coração te sente
Fica-me aos saltos no peito.
Tenho o destino marcado
Desde a hora em que te vi
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti.
Letra e música:Frederico de Freitas / Julio Dantas
Hoje regalei-me com o debatido Fados do prestigiado Carlos Saura, que assina a realização da maior produção cinematográfica dedicada ao Fado. Um dos símbolos da cultura portuguesa é oferecido por fadistas da velha guarda que juntamente com os mais novos dão a conhecer as proveniências desta expressão musical. Artistas brasileiros, cabo-verdianos, mexicanos e espanhóis evidenciam a influência do Fado noutros géneros musicais. Com a realização deste filme, Saura conclui a trilogia sobre as três manifestações musicais urbanas do século XIX: Flamenco, Tango e Fado. Registe-se e muito bem a participação de Chico Buarque, Caetano Veloso e Toni Garrido. O elenco inclui ainda a cabo-verdiana Lura, a mexicana Lila Downs e o espanhol Miguel Poveda, que divide a interpretação de Meu Fado Meu, de Fernando Pessoa, com Mariza. Chico Buarque comunga com Carlos do Carmo a interpretação de Fado Tropical. Assim, Fados é uma espécie de baile do corpo diplomático sedeado no fado que o realizador convocou, dele fazendo brotar reflexões sobre os antecedentes culturais e geográficos do estilo. Como os anteriores Flamenco (1995) e Tango (1998), Fados é um filme eminentemente musical. As vozes que escutamos “apenas” cantam, podendo o filme ser apreciado como uma sucessão de quadros que contam uma história (das origens às reinvenções do fado).
Fados começa em África. Convida em seguida o Brasil, e assim se registam teses que identificam a possível génese deste estilo. É um conjunto de visões muito pessoais, permitindo-se o realizador a experimentar diálogos com o flamenco (com Mariza em dueto com Miguel Poveda), com a pop e a world music (Lila Downs), com o hip hop (SP & Wilson e NBC). Todavia, também a tradição marca presença. A castiça Argentina Santos representa-a. Carlos do Carmo e Camané traduzem depois duas outras gerações distintas, ambas marcantes. E na cena final, numa Casa de Fados (com, entre outros, Vicente da Câmara, Ana Sofia Varela ou Pedro Moutinho), encena-se outra marca de referência do ambiente fadista. Fados, que homenageia ainda Marceneiro, Amália e Lucília do Carmo, conta com a presença deliciosa da Brigada Victor Jara e dos Kola San Jon, um grupo formado no bairro Cova da Moura, na Amadora.
O filme é um olhar subjectivo de um grande cineasta sobre o fado, um olhar poético, nostálgico e contemporâneo. Estamos face a um realizador espanhol conceituado e universal que recolhe uma expressão emblemática do povo português e a dá a conhecer ao mundo, como cartão de visita da nossa identidade cultural, sob a forma mais mediática: a sétima arte.
As ousadias de Fados não se ficam pelas abordagens à música. Como em Flamenco e Tango, Saura utiliza a dança com a mesma importância visual. Polémicas e purismos à parte, Fados é um filme fascinante.
Letra e música:Frederico de Freitas / Julio Dantas
Hoje regalei-me com o debatido Fados do prestigiado Carlos Saura, que assina a realização da maior produção cinematográfica dedicada ao Fado. Um dos símbolos da cultura portuguesa é oferecido por fadistas da velha guarda que juntamente com os mais novos dão a conhecer as proveniências desta expressão musical. Artistas brasileiros, cabo-verdianos, mexicanos e espanhóis evidenciam a influência do Fado noutros géneros musicais. Com a realização deste filme, Saura conclui a trilogia sobre as três manifestações musicais urbanas do século XIX: Flamenco, Tango e Fado. Registe-se e muito bem a participação de Chico Buarque, Caetano Veloso e Toni Garrido. O elenco inclui ainda a cabo-verdiana Lura, a mexicana Lila Downs e o espanhol Miguel Poveda, que divide a interpretação de Meu Fado Meu, de Fernando Pessoa, com Mariza. Chico Buarque comunga com Carlos do Carmo a interpretação de Fado Tropical. Assim, Fados é uma espécie de baile do corpo diplomático sedeado no fado que o realizador convocou, dele fazendo brotar reflexões sobre os antecedentes culturais e geográficos do estilo. Como os anteriores Flamenco (1995) e Tango (1998), Fados é um filme eminentemente musical. As vozes que escutamos “apenas” cantam, podendo o filme ser apreciado como uma sucessão de quadros que contam uma história (das origens às reinvenções do fado).
Fados começa em África. Convida em seguida o Brasil, e assim se registam teses que identificam a possível génese deste estilo. É um conjunto de visões muito pessoais, permitindo-se o realizador a experimentar diálogos com o flamenco (com Mariza em dueto com Miguel Poveda), com a pop e a world music (Lila Downs), com o hip hop (SP & Wilson e NBC). Todavia, também a tradição marca presença. A castiça Argentina Santos representa-a. Carlos do Carmo e Camané traduzem depois duas outras gerações distintas, ambas marcantes. E na cena final, numa Casa de Fados (com, entre outros, Vicente da Câmara, Ana Sofia Varela ou Pedro Moutinho), encena-se outra marca de referência do ambiente fadista. Fados, que homenageia ainda Marceneiro, Amália e Lucília do Carmo, conta com a presença deliciosa da Brigada Victor Jara e dos Kola San Jon, um grupo formado no bairro Cova da Moura, na Amadora.
O filme é um olhar subjectivo de um grande cineasta sobre o fado, um olhar poético, nostálgico e contemporâneo. Estamos face a um realizador espanhol conceituado e universal que recolhe uma expressão emblemática do povo português e a dá a conhecer ao mundo, como cartão de visita da nossa identidade cultural, sob a forma mais mediática: a sétima arte.
As ousadias de Fados não se ficam pelas abordagens à música. Como em Flamenco e Tango, Saura utiliza a dança com a mesma importância visual. Polémicas e purismos à parte, Fados é um filme fascinante.
29 comments:
É bom tê-lo de volta.
:)
Esse é muito aclamado por quem já o viu!
Dizem que é espectacular!
Tenho de ir ver!:)
*
passa
Olá Amigos,
Não conheço o filme mas a forma como ele nos é apresentado por si, deixa-nos a certeza de que os momentos passados com ele serão, sem dúvida, bem aproveitados.
Sempre bons momentos de cultura consigo.
Obrigado.
Beixo-lhe um beijo amigo e,
votos de um Fim de Semana Feliz.
Maria Faia
... fascinante, que eu irei ver amanhã......
Obrigada, Luís.
Um abraço
Tenho de ir ver.
Interessante ver como as opiniões divergem. A emoção estampada na face das pessoas, ao sairem da sala de cinema, diz-me que é um filme a não perder.
Olá Luis
comprei ontem o livro do Woody Allen.
Fui comprar um para o meu filho e comprei este para mim.Já tenho outros. Adoro o non sense dele.
Para o Guigas comprei a biografia do Ghandi, escrita por ele."An eye for an eye, and the whole humanity will be blind".
Quanto ao Fados, estava na dúvida.
Agora já não estou.
HeHe
Bom fim de semana
Este sem dúvida a não perder!
Beijinho e bom fim-de-semana Luís*
Que bom te encontrar assim :)
Não vejo a hora de ver o filme, tomara ele venha por ar, não por mar.
Beijihos, Luís.
Olá, Luís! :) É bom partilhar o seu regresso cheio de interessantes apreciações!
Quanto ao filme, não vi. Mas já percebi que é alvo de grandes polémicas e discussões. E também fica claro que suscita opiniões totalmente opostas.
Gostei de o ler!
Beijinho e um bom fim-de-semana...
Vou hoje ver.........
Caro amigo LUIS,
Com mais esta recomendação...é imprescíndivel ver!!!!
O que acho que não me vai custar nada ...já que, alfacinha de gema, o fado está comigo sempre!!!!
Alíás, a letra que aqui foi postada é uma das que mais gosto!!!!
UM BOM RESTO DE FIM DE SEMANA!!!
O fado, com a presença de outras influências da lusofonia, e não, sómente, confinado ao espaço estritamente português. Uma leitura muito interessante, quer das suas origens, quer também da sua possível evolução.
Absolutamente delicioso!...
PCrespo
Amigo Luís
pelo que sei, a única polémica que rodeou este filme foi o facto de ele ter sido apoiado por quem dirige os cordelinhos dos subsídios, visto tratar-se de um realizador espanhol, em detrimento, eventualmente de um apoio pontual a um qualquer realizador português; mas, tratando-se de uma obra séria, que dignifica da melhor forma a canção nacional, e tendo a ideia partido de um dos nomes grandes do fado, Carlos do Carmo, bem se justifica esse apoio.
Pois quanto ao filme, em si mesmo, parece ter uma opinião consensual e positiva, quer da crítica, quer do público; não se esperaria outra coisa de um homem que tanto sabe de cinema, como é Carlos Saura.
Como é habitual, explicaste-nos muito bem o teor e a forma como o filme foi feito, e daí a "necessidade" de o ver.
Abraço.
tenho de ver quando estiver aqui... e comentamos.
Um abraço
Pois é... uma produção que me deixou muito céptica. Por não ser nacional, por me interrogar quanto ao olhar, quanto aos nomes que o fado iriam representar,...
muitas dúvidas sim!
Mas depois desta exposição aqui feita, curiosa fico quanto ao produto final. Parece-me que resultou numa viagem interessante [pois que o fado tem raízes outras], e pontes sugestivas [pois que nada é estanque]
A ver sim.
Eu adoro fados, flamenco, tangos... e o filme deve ser muito bom! Tomara que venha por aqui.
Que sua semana seja feliz!
Beijos
É um filme do qual tenho enorme curiosidade como já o disse nuns posts abaixo.
Tenho de arranjar tempo pois com o rebento é difívcil neste momento e vingo-me nos do Club de vídeo.Este fim-de-semana foi o do Oscar Wilde.
Beijo e boa semana
Ps - passa no BDK tens lá um prémio
não vi o filme, mas fiquei cheia de vontade.
Muito gratificante o teu regresso.
quanto ao post desconheço esse filma,mas devido á tua referência deve ter bastanta qualidade.
Bom início de semana
Bjs Zita
A voz Portuguesa...o fado, e como é bela que é esta grande fadista...
Doce beijo
fica muita
vontade de ver...
beijO
Venho deixar-te um abraço Amigo e Solidário Amigo.
Maria Faia
Hum, isto está a ficar interessante. Este é o 2º blog que leio sobre o fado.
Ainda não vi o filme mas está na minha lista dos principais.
Eis um tema que mexe comigo. Fado é alma e só o consigo equiparar à morna.
Boa a escolha do fado com que abre o blog, um dos meus fados preferido.Enquanto lia o artigo ia cantando.
Fico com um sabor a amargo na boca por não ser português o realizador e com uma questão entalada.
Porque é que não nos lembramos nós 1º?
Bjos
Hope things are bearable growing into better. Blow you a kiss from this side of the ocean.
:)
Faz dois dias, assisti uma entrevista de Toni Garrido e, por sua trajetória, passei a admirá-lo ainda mais. Agora, esta boa notícia do Fados. bjs amigo
Passei por aqui e deixei beijinhos...
Adorei, simplesmente,adorei
o "Fado" d Carlos Saura.................
Carissimo,
Também fui ver o documentário do Carlos Saura sobre os Fados.
Gostei, mas com algumas reticências pois acho que se o objectivo era o dos "Fados" está omisso o Fado de Coimbra que deveria figurar no cardápio apresentado, tão abrangente quanto o que penso o realizador pretenderia (incluindo outras músicas de outras paragens lusas)ou será que os conselheiros portugueses se terão esquecido?!
Também achei que o Caetano Veloso não estava no seu melhor, pois quem o viu no filme do Almodovar a cantar não tem mesmo nada a ver com esta interpretação...de resto só temos mesmo que ficar felizes por um realizador como Saura pegar neste tema que caracteriza de uma forma eloquente o nosso sentir!Um abraço para si pelos seus posts magníficos.Lucinda
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