Thursday, February 21, 2008

um post chamado solidão...


As observações e as vivências do solitário que só fala consigo próprio são simultaneamente mais indistintas e intensas do que as do homem social e os seus pensamentos são mais graves, mais fantasiosos e nunca sem uma coloração de melancolia. Imagens e impressões que outros poriam naturalmente de lado após um olhar, um sorriso, um comentário, ocupam-no mais do que é devido, tornam-se profundas no silêncio, ganham significado, transformam-se em acontecimento, aventura, emoção. A solidão cria o original, o belo ousado e estranho cria a poesia. Mas cria também o distorcido, o desproporcionado, o absurdo e o proibido.
Thomas Mann, in "Morte em Veneza"

A solidão é e sempre foi a experiência inevitável de cada ser humano. Envolvemo-nos no casulo da nossa alma, aguardarmos a metamorfose e ela acaba sempre por chegar. Mas não nos poupamos a esforços para a combater. Lançamo-nos em toda a espécie de actividades para evitar o desespero de ficar só. Extraordinário equivoco! A solidão é importantíssima, uma certa solidão. A solidão benigna é introspecção, um apartamento para nos conhecermos melhor. A outra solidão tenta arrastar tudo para si. É por isso egocêntrica; exige em vez de dar. A solidão a que Thomas Wolfe, por exemplo, se refere é essa, não a da ausência dos outros. Mais trágica, difícil de suprir. É caracterizada pela carência de comunicação. A de recônditos sentimentos e inconfessáveis inquietações.

A solidão pode conceder ao homem duas vantagens: a de estar só consigo mesmo e a de não estar com os outros. Esta última será muitíssimo apreciada se pensarmos em quanta coerção, quantos danos e até mesmo quanto risco certa convivência social traz consigo. «Todo o nosso mal provém de não podermos estar a sós», diz La Bruyère. Refere Schopenhauer que a sociabilidade é uma das inclinações mais perigosas e perversas, pois põe-nos em contacto com seres cuja maioria é moralmente ruim e intelectualmente obtusa. Simone Weil, in 'A Gravidade e a Graça”, sustenta que quanto mais racionais nos tornamos, mais temos que aprender, e nos familiarizar, a conviver com a solidão.

O medo que advém da solidão tem lastro no ensimesmamento em que ficamos. Nesse momento estamos diante de nós mesmos e só de nós mesmos. Somos então impiedosamente críticos connosco, cobramos, fiscalizamos os nossos erros de forma cruel. Esses tormentos, os da incomunicabilidade e da incompreensão, temos que suportar sozinhos, sem podermos compartilhar, sequer (e muitas vezes particularmente), com aqueles a quem mais amamos e em quem depositamos confiança. O principal motivo é que as nossas emoções são tão complexas e individuais, que não conseguimos nem mesmo verbalizar o seu conteúdo. Temos só uma vaga e truncada intuição acerca da sua natureza e extensão.

A pior das solidões é a que sentimos quando acompanhados, no meio de uma multidão. É dar ao nosso próprio corpo chicotadas invisíveis, rasar indeterminadamente os olhos com água, transformar o nosso sangue em raiva.

O solitário leva uma sociedade inteira dentro de si: o solitário é multidão. E daqui deriva a sua sociedade. Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros. O génio, foi dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão. É a multidão individualizada, e é um povo feito pessoa. Aquele que tem mais de próprio é, no fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra o que é dos outros. (...) O que de melhor ocorre aos homens é o que lhes ocorre quando estão sozinhos, aquilo que não se atrevem a confessar, não já ao próximo mas nem sequer, muitas vezes, a si mesmos, aquilo de que fogem, aquilo que encerram em si quando estão em puro pensamento e antes de que possa florescer em palavras. E o solitário costuma atrever-se a expressá-lo, a deixar que isso floresça, e assim acaba por dizer o que todos pensam quando estão sozinhos, sem que ninguém se atreva a publicá-lo. O solitário pensa tudo em voz alta, e surpreende os outros dizendo-lhes o que eles pensam em voz baixa, enquanto querem enganar-se uns aos outros, pretendendo acreditar que pensam outra coisa, e sem conseguir que alguém acredite.
Miguel de Unamuno, in 'Solidão'

Os amigos, por mais íntimos que sejam, por maior afinidade que tenham connosco ou por mais que necessitemos de suas presenças, jamais nos completam. A maioria dos sentimentos, das emoções, dos medos e das inquietações temos que suportar de forma absolutamente solitária.

Hoje, no silêncio da minha hora de almoço, às voltas com as minhas indefiníveis inquietações, pensando nas pessoas que sofrem de males mais reais e concretos do que os da solidão, como fome, frio, doenças incuráveis, maus tratos, privados de absolutamente tudo e muitas vezes ansiando, desesperadas, por alguém que somente as ouça, as valorize e as trate uma única vez com dignidade, faço a mesma pergunta que a letra da canção Eleanor Rigby: "Haverá um lugar especial para os solitários?".

É a fraqueza do homem que o torna sociável; são as nossas misérias comuns que levam os nossos corações a interessar-se pela humanidade: não lhe deveríamos nada, se não fossemos homens. Todos os afectos são indícios de insuficiência: se cada um de nós não tivesse necessidade dos outros, nunca pensaria em unir-se a eles. Assim, da nossa própria enfermidade, nasce a nossa frágil felicidade. Um ser verdadeiramente feliz é um ser solitário; só Deus goza de uma felicidade absoluta; mas qual de nós faz uma ideia do que isso seja? Se algum ser imperfeito se pudesse bastar a si mesmo, de que desfrutaria ele, na nossa opinião? Estaria só, seria miserável. Não posso acreditar que aquele que não precisa de nada possa amar alguma coisa: não acredito que aquele que não ama nada se possa sentir feliz.
Jean-Jacques Rousseau, in 'Emílio'

33 comments:

SP said...

Obrigado pela beleza poética da tua mensagem no meu blog!!! Não irei esquecer. Um abraço... peludo!!!

SP said...

Obrigado pela beleza poética da tua mensagem no meu blog!!! Não irei esquecer. Um abraço... peludo!!!

avelaneiraflorida said...

Caro Luís,

a excelência deste post não me surpreende! Só quem consegue isolar-se perante si e ao mesmo tempo observar a solidão como algo distinto e com várias características...consegue transmitir tudo o quanto acabei de ler!
Há tempos de solidão, mas de diferentes formas de solidão, sim!
Quando entramos num claustro abandonado, por exemplo, o silêncio da solidão que o habita fala-nos de diversas formas...e nós entendomo-lo ou recusamo-lo!!!!
Assim como recusamos partilhar connosco os pensamentos, os sentires que receamos ver expostos, demasiado expostos aos olhos físicos. Por isso muitas vezes os ocultamos, os deixanos debaixo da capa das palavras dos poetas, das tintas dos pintores...
Há que ser solitário...mas não ser-se solitário!!!

Peço desculpa, alonguei-me no comentário , mas o tema é muito imtenso!!!!

Flor de Tília said...

A solidão é uma experiência inevitável. Excelente abordagem.
Abracinho
*
xi
*

muito querida said...

ser solit�rio no meio da multid�o..como eu entendo essas palavras...e n�o h� realmente pior solid�o....."estou bem aonde n estou pq eu s� quero ir aonde n vou....."

beijos quentes

Caxuxita said...

Solidão algo que todos nós já sentimos... Ou um dia mias tarde iremis sentir , e vivemo-la de maeira tão deiferente um dos outros também acho que ha varios tipo de solidao...

Quantas vezes me sinto em solidão no meio de uma multidao mas falta-me aquela pessoa que me faria deixar de estar em solidão...
e como eu já disse uma vez e a frase nao é minha "Solidão não é estar sozinho mas sim estar entre 1000 pessoas e sentirmos a falta de uma "

Beijinho :)

Caxuxita said...

Ah tomei a liberdade de o oinkar espero que não se importe...

beijinho

Anonymous said...

Bonito e certeiro texto.

De facto quantos de nós têm a solidão de quem tudo tem mas a quem tudo falta? Razões...são tantas...mas a realidade é que a solidão nos "acompanha" principalmente no que sentimos e não transmitimos nem partilhamos...

É sempre bom voltar a este blog
Abraço
Narcis

Maria P. said...

A solidão mostra o original, a beleza ousada e surpreendente, a poesia. Mas a solidão também mostra o avesso, o desproporcionado, o absurdo e o ilícito.

Morte em Veneza
Thomas Mann

Palavras que serviram de moldura a uma fotografia na Casa neste mês.

Beijinho e bom fim-de-semana*

Paula Crespo said...

Solidão é uma ausência: Oh, pedaço de mim / Oh, metade afastada de mim /Leva o teu olhar /Que a saudade é o pior tormento / É pior do que o esquecimento / É pior do que se entrevar ... - já escrevia Chico Buarque, nos finais de 70. É algo não resolvido; é uma falta em nós mesmos.
A outra "solidão" não o é; é apenas uma altura em que estamos a sós para podermos pensar, reflectir. É voluntária ou, pelo menos, aceite, sem problema.

ivone said...

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
Vinicius de Moraes

Marcelo said...

Na minha opinião, a pior das solidões é sentir-se só de si mesmo.
O vazio que gela a alma, que nos rouba as esperanças mais tênues e nos lança, novamente, no vácuo de um coração sem calor.
Essa é a pior solidão...

Abraços e grato pelas suas simpáticas visitas ao meu blog.

Jasmim said...

Luís
Não tenho palavras para elogiar o seu interessante texto.Para além do conteúdo que é fantástico transparece uma grande sensibilidade.
Parabéns e obrigada

João Roque said...

Justìssimas palavras para defenirem na sua total amplitude a solidão, que todos já conhecemos,na qual todos já nos refugiámos, da qual já todos nós tentámos fugir.
Belo!
Neste blog, nunca se sente a solidão, é curioso...
Abraço.

Maria Romeiras said...

Muito forte, esta reflexão. Associada a Eleanor Rigby, sózinhos os que não conseguem amar? Gostei muito de ler. "Estaria só, seria miserável." Grande Rousseau... É que é mesmo verdade.

Leonor said...

Bom para mim tem que haver dois estados, claro.
O de sermos capazes de estarmos sozinhos com nós mesmos. Em última análise somos nós e o mundo. Por muitos relacionamentos que se tenha, a família, os amigos, o nosso ser é uno e por isso só.
E isso não é mau, é o que é, aceitarmos o que temos e termos a noção do que somos.
Em segundo lugar existe o só quando nos relacionamos com os outros. sendo a nossa vida vivida em sociedade, estamos permanentemente neste junta/separa com família, amigos, colegas. que pode trazer ausências, solidões, solidão na multidão

tufa tau said...

perdi as palavras para te falar da minha solidão no meio de tantos
para te dizer que, sentindo-a, não tenho o verdadeiro direito a ela
obrigam-me a seguir em frente, a afastar-me dela
e tantas vezes são as vezes que a afogo nos meus prantos


beijo

Je Vois La Vie en Vert said...

"La solitude ça n'existe pas.
Chez moi il n'y a plus que moi
Et pourtant ça ne me fait pas peur
La radio, la télé sont là
Pour me donner le temps et l'heure
J'ai ma chaise au Café du Nord
J'ai mes compagnons de flipper
Et quand il fait trop froid dehors
Je vais chez les petites sœurs des cœurs..." canta Gilbert Bécaud com letras de pierre Delanoë

A solidão é um sofrimento mudo. Parece mal queixar-se da sua solidão. As pessoas calam-se como se tivessem vergonha de se sentirem isoladas.
Abraços verdinhos

Sibila said...
This comment has been removed by the author.
Ana Paula Sena said...

Bonito post, Luís!

Há solidões e solidões. Talvez que sem solidão seja impossível chegar alguma vez a um outro. E quem nunca esteve só, possivelmente nunca poderá aprender a estar com outros.
O paradoxo da solidão é que precisamos dela para a sociabilidade verdadeira, da qual também carecemos.

Gostei da reflexão que levo nos meus pensamentos...

:):)

Maria Faia said...

Estimado Amigo Luis,

Como sempre, as postagens que nos oferece obrigam-nos a pensar e, muitas vezes, a repensar. É o caso desta sobre a solidão.
Na verdade, todos conhecemos, senão em nós, em alguém com quem privamos, as nefastas influências da solidão egocêntrica que Thomas Mann tão bem descreve. Pessoas que a vivem e a cultivam tornam-se, por necessidade de sobrevivência talvez, individualistas e egocêntricas, desconfiadas e propensas à criação de dramas e fantasias. É o seu mundo... um mundo que nós não conseguimos perceber, por tão antagónico que é relativamente à nossa própria solidão momentânea, introspectiva e essencial à normal condução do nosso destino "mundano".
Se do lado do individualismo a postura é a de defesa constante, impeditiva de um crescimento são e aberto, do lado introspectivo floresce a construção, a mudança, o perfeiçomento e a tolerância.

Bom post sim senhor.

Um abraço amigo,

Maria Faia

Maria said...

Este post dava "pano para mangas"...
Solidão e ser-se solitário não é a mesma coisa.
Solidão não é saudade, em si só.
Pode ser-se solitário sem se viver em solidão.
Podemos viver rodeamos de família e sentirmo-nos na maior solidão do mundo, da mesma forma podemos viver sozinhos e nunca sentirmos solidão.
Abordaste um tema muito complexo, Luís. Até porque é um tema que pode ser abordado aoenas de forma racional, ou apenas de forma emocional ou subjectiva...

Não me alongo mais.
Deixo-te um abraço

Vulcano Lover said...

São belas as tuas reflexões. E não só. porque chegam ao fundo da verdade. A solidão é a única ferramenta para a construção da maturidade pessoal: sentimental e também a intelectual. Só sendo conscientes de que a única realidade é a da solidão na existência (vimos da nada no nascimento e retornamos à nada com a morte), e que só a partir de essa realidade tem sentido a construção da vida social, podemos percorrer um caminho com sentido neste breve instante que é viver.
Um abraço-

Cleopatra said...

Não conhecia este blog.
Gostei do que fiquei a conhecer.

Mar Arável said...

bela e profunda reflexão

de um homem sensível

e atento

sendo certo no relativo

que por vezes só é um prazer

uma necessidade

desde que mesmo assim

nunca se esteja isolado

ai dos que não amam

pobres diabos à solta


abraço amigo

BlueVelvet said...

"Os amigos, por mais íntimos que sejam, por maior afinidade que tenham connosco ou por mais que necessitemos de suas presenças, jamais nos completam. A maioria dos sentimentos, das emoções, dos medos e das inquietações temos que suportar de forma absolutamente solitária."
Por isso morremos sózinhos.
Beijinhos Luís

náufrago do tempo e lugar said...

A CHAVE DO ENIGMA

A SOLIDÃO

Tem a solidão isto de comum com o silêncio e a escuridade: espanta; e aturde quem nela cai; mas, logo que o ouvido, desadormentado dos sons fortes, aprende a conversar com a mudez; tanto que os olhos, desofuscados dos luzeiros intensos, se exercitam em caçar espectros de raios. fosforescências indecisas, que são como que os infusórios das trevas, descerrou-se o negrume em brilhantismo, a calada aviventou-se de diálogos, a solidão, que parecia o nada, é o teatro com o seu drama, é um mundo novo com um sistema completo de existências imprevistas e apropriadas.
Que admira? A solidão medita, e a meditação cria. Os sentidos pastam só no que lhes oferecem a natureza, a fortuna, o acaso: a divindade interior, a alma, tem comércios inefáveis com o íntimo e ignorado. S. João, entre os nevoeiros de Patmos, divisa uma Jerusalém celeste; nas cogitações de Sócrates, aparece o Omnipotente; nos êxtases de Platão. reflexos da Trindade; nos cálculos taciturnos de Galileu, firma-se o céu, volteiam as plantas: Colombo faz surgir do fundo dos mares a América; Leverrier, mais globos no espaço; Fulton, o hipógrafo, o pégaso do vapor, magia, poesia, potência escrava do homem, e dominadora, primeiro dos oceanos, depois dos continentes e amanhã, talvez, dos ares; a solidão cismadora dá a Eneida a Virgílio, mostra a Lineu os amores e o sono das plantas, a Dante o Inferno, a Fourier o paraíso terrestre, a Newton e a Laplace o código dos astros, a Daguerre os talentos artísticos do Sol, ao Gama o caminho do Oriente, ao soldado Camões o da imortalidade, põe na mão de Gutembergue a chave do cofre das ciências, na de Vicente de Paulo a da caridade, na de Say a da riqueza pública, na de Pestalozzi e Froebel a da escola séria e fecunda.
(…)
Arquimedes, a sós com a natureza e com o seu génio, descobre os meios de destruir e incendiar a frota romana. Absorto em suas reflexões criadoras, no seu gabinete, como num antro, não sente o estrondo da cidade, já senhoreada dos inimigos
(…).
Lavoisier, outro dos martirizados pelo materialismo descrente e brutal, depois de haver testado ao mundo a mais opulenta herança científica, condenado ingrata e cegamente á guilhotina, que é o que pede aos verdugos revolucionários, seus juízes? Uma dilação de quinze dias. Só uma dilação! Só de quinze dias! Para quê? Para concluir trabalhos úteis à Humanidade, que neste momento o desconhece.
(…)
André Chénier, espécie de Lavoisier da poesia, convocado também para o festim da morte, não é das prazeres efémeras da existência que leva saudades: bate apaixonadamente raivoso na fronte, porque sente que se lhe estava ali dentro formando, como em cérebro olímpico, uma nova musa gentilíssima. Quem lha revelara? A meditação solitária, que sabe tudo e tudo profetiza.
Boníssima solidão! Tu és para a sociedade o que as tuas montanhas são para os vales: nas tuas entranhas se filtram. dos teus recôncavos rebentam as génios possantes e profundos que vão derramar por longe a fertilidade. Mas tu não és só mãe às torrentes caudais: uma fontinha entre lapas, desconhecida, não se goza menos do teu favor. Sobre o pouco liberalizas dons, como sabre o muito; próvida para o imenso, próvida para o limitada. solidão, Egéria das almas eleitas! solidão, buscada por Cristo, abraçada por Jocelyn, adorada por Petrarca, explorada em tuas minas de oiro por Zimmermann, inspiradora de Volney, de Rousseau, do Infante de Sagres, de todos as videntes, de todos as descobridores, de todos os inventores, de todos as Baptistas! solidão, ninho das rolas como das águias, perdoa, se eu não sabia ainda apreciar-te!

António Feliciano de Castilho, “A Chave do Enigma”, Cap. XL .

Nota: o negrito para realce do vocábulo “solidão”, é meu.

Belo e escorreito "post"!

Abraço.

sofialisboa said...

quanto ás tuas palavras deixadas, tensa eu? talvez porque tenho dado a conhecer este blog a pessoas que me conhecem cá fora e isso assusta mostrar aquilo que se sente. quanto ao teu post, muitas palavras podia dizer sobre a solidão, mas acho que ela só existe mesmo quando a sentimos na alma. gosto do teu escrever sofialisboa

Oliver Pickwick said...

Solidão e solidão. Há muito não leio um ensaio tão evidente, e ao mesmo tempo acurado, acerca das duas vertentes deste estado humano. Enriquecido pelas referências, sequer faltou o verso conflituoso da canção Eleanor Rigby.
Abraços!

Kalinka said...

Olá Luís
sempre ouvi dizer:
A Solidão mata...
e, acho que é bem verdade!!!

Mudar é a minha palavra de ordem neste momento, estou a passar muito mal no meu local de trabalho, sinto-me presa de movimentos e olhares, completamente reprimida, e pergunto-me:Vou para onde?

Por vezes medito num lugar ou noutro, e registo o que medito na máquina fotográfica, queres vir espreitar?

Beijinho.

isabel mendes ferreira said...

soberano soberno soberno sobereno:


eco:
soberano soberano soberano
P O S T !!!!!!


.

beijos.

Esther said...

Cheguei aqu� pelas m�os da Jonice, minha amiga n�o s� virtual, que muito te admira.
Amigos s� nos d�o presentes.
Est� comprovado.

boa semana.

joaninha versus escaravelho said...

"O homem é um ser social. Aquele que conseguir viver isolado ou é Deus ou é uma besta!"

É mais ou menos assim, não é? Li isto há muitos anos, na minha juventude...