Saturday, July 19, 2008

gente com medo...

Apocalipse em terras de Vera Cruz. Um país em guerra, há muitos anos – principalmente nos grandes centros urbanos. A Guerra das Drogas acontece desde que os traficantes conquistaram poder e construíram um império nas favelas do país. Mas se não fosse o comércio, os corsários do negócio estariam assaltando, sequestrando e assassinando em qualquer outro lugar. E a sociedade néscia considera que é bastante reprimir o tráfico. Enquanto o poder politico, e as instituições em geral, não proporcionar opções à criminalidade, as guerras urbanas vão continuar bestializando os homens - e no conflito vale tudo! Como bem reproduz este filme contado em português... Tropa de Elite é uma obra que descreve o violento quotidiano, retrato da falência do humanitarismo sob interesses ambiciosos e egoístas e é realista porque mostra o lado humano das personagens – que têm medo, que sofrem de stress, de arrependimento, que são pessoas, afinal. Também expõe o tumulto do poder público – a corrupção da polícia militar, os interesses políticos, a lei da selva de pedra, que são as colossais metrópoles. As mais famosas favelas são as do Rio de Janeiro, onde contrastam fortemente com os prédios e mansões da elite da Zona Sul, convivendo lado-a-lado e configurando paisagens que desafiam a lógica social. Ao contrário da estética cinematográfica americana, Tropa de Elite não exibe heróis – qualquer ser humano numa guerra metamorfoseia-se em assassino, arquiva os escrúpulos no baú mais próximo. É um cenário atroz – de acção, tensão e drama – mas é um produto corajoso que emociona e perturba e serve como um alerta (quantos mais serão necessários?) para que o mundo acorde; para que a colectividade entenda que não basta ser contra a violência (não basta vestirmo-nos de branco e fazer videoclips apelando à paz...); é necessário que se consagrem oportunidades diferentes da criminalidade; é forçoso que se ofereça outros valores, aqueles que o dinheiro não pode nunca alcançar. Ainda que em tarde quente de Verão, valeu a pena atravessar a ponte e digerir este sobressaltado filme, com interpretações notáveis e um guião dolorosamente transparente. E vale a pena pensar que este tipo de violência – à sua escala – já vai habitando em terras ditas de brandos costumes...

20 comments:

Anonymous said...

Pura coincidência. Ontem, Sexta-feira, a convite de uma amiga, psicóloga, dirigimo-nos ao cinema, El Corte Inglês, para assistir a "Tropa de Elite". Ainda ofereci resistência, mas a psicologia venceu.
Em conversa, tomei conhecimento que em 2006 foram assassinadas em São Paulo 2.546 pessoas! E os números pouco têm diminuído. Pobreza e más condições de vida são a causa da violência, dizem os estudiosos. Acrescentaria: falta de auto-estima e falta de políticas reais de inclusão da população desfavorecida.
As cidades contemporâneas tornaram-se violentas…
Concordo inteiramente consigo. Não basta ser contra a violência, esta combate-se diariamente com convicção, firmeza ética e abertura moral. Com respeito pela diferença. Com partilha, porque não? Não cabe somente ao Estado solucionar todos os problemas dos cidadãos. No Brasil, segundo o relatório das nações Unidas, o Estado tem tido um papel ineficaz. Mas, nós, enquanto cidadãos, também somos responsáveis! Por vezes, um sorriso, um “gesto” de igualdade, uma pequena aproximação, fazem toda a diferença.
Por saber exactamente os sentimentos que o filme me levaria a sentir, tentei resistir.
Quanto aos valores, é difícil explicar aos adolescentes e jovens tais valores, quando se vive numa sociedade onde não ter é sinónimo de não ser!
Esperemos que o mundo acorde, se assim for, nem tudo é em vão...

João Roque said...

Haverá filmes de terror menos carregados de "sombras" do que este; o pior é que os filmes de terror representam quase só ficções, enquanto este representa uma realidade terrível...
Abraço.

tulipa said...

Olá Luís

Mais um dos filmes bons que sabes escolher. Obrigado pela sugestão.

Sabes quem faz anos hoje?
Sim, hoje dia 20.
Se quiseres poderás ver a homenagem que lhe faço.
Ele merece, é um querido.

Beijos,
bom fim de semana.

m said...

Hmm.. mais um para a lista! :P heh

beijinho

Anonymous said...

Irei...
Obrigada pela dica.
Bjs

Teste Sniqper said...

Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão.

Leonor said...

Caro Luís

Vi-o hoje e gostei bastante, embora lá resida, como é óbvio uma ponta de angústia numa sociedade onde há 256 tons de cinzento. Lá como cá, aliás.

Mas v amos todos asssobiando um pouco para o lado, e, quando acontece alguma coisa, culpamos sempre alguém, ou o sistema...

Ana Paula Sena said...

A violência que transpira nas nossas actuais sociedades é profundamente preocupante! Os problemas sociais são muitos e graves, e a questão da convivência entre culturas diferentes é delicada e difícil.

Estou com a Silvia que comentou acima: nós, cidadãos, também temos responsabilidade neste estado de coisas; por vezes, um pequeno gesto de solidariedade e de compreensão pode ser importante e demover de um qualquer acto violento... Claro que em certas situações pode tornar-se complicado gerir a nossa própria agressividade.
É um tema cada vez mais urgente e digno de constituir um sério debate público.

Reconheço a minha dificuldade em me confrontar com a violência mesmo que tratada com qualidade pela 7ª arte. Mas tenho ouvido falar muito bem do filme...

Obrigada pela visita ao Rosa...! :)

sofialisboa said...

engraçado, hoje falava com a filha grande que foi ver esse filme, eu irei para a semana. dura a vida no brasil comentou ela. depois direi o que achei sofialisboa

Will said...

Fui ver e gostei bastante.

É um filme que levanta tanta questões e deixa tantas respostas por dar a problemas que, como bem referes, já se vêm instalando em terras de brandos costumes...

Pode ser que em breve, também entre nós, se tenham que ponderar números elevados de vítimas destas novas guerras e se tenha que reaquacionar o modelo de intervenção policial num estado de direito democrático.

Catatau said...

É mais um retrato, numa visão porventura curiosa (o polícia inquietado), que desvenda o lado escuro - e calado à força! - da nudez atordoante que despe os "bons" e os "maus" do bas-fond brasileiro.

(Que bem que se está, em certos Domingos, no campo! ;)) )

Lúcia Laborda said...

Oie meu amigo lindo! Esse é um filme que retrata a realidade da maioria dos brasileiros. É muito triste assistir determinadas cenas. Gostei muito pelo conteúdo, pelas interpretações, pelo roteiro, mas é de doer... não voltaria a assistir, porque deprime. Gosto de filmes que me coloquem pra cima. A vida e a realidade por si, nos coloca pra baixo, quase todos os dias.
Que sua semana seja de realizações!
Beijos

Tongzhi said...

Conheço um bocado dessa realidade brasileira. Quando cheguei ao Rio de Janeiro, cidade que acho maravilhosa, foi esse contraste favela/chique que mais me impressionou. Recordo também a primeira notícia que li, num escaparate de jornais no aeroporto, enquanto esperava que me dessem notícias de onde "parava" a bagagem - Como o anel estava apertado e a dona não o conseguia tirar, os assaltantes optaram por cortar-lhe o dedo ...

Tongzhi said...

Também tive um domingo muito agradável... terá sido o mesmo do Catatau???

Família 15 *, cinco por cada um!!!

Sérgio Pontes said...

Muito bom esse filme!

Abraço

Carlos Faria said...

não conheço o filme, mas fiquei curioso, apesar de nos últimos dias ter andado a gozar aquilo que a paz social e o ambiente das ilhas melhor permite, pelo que este post foi um murro em cheio para outras realidades. Conheço e Rio e por isso percebo muitas das dicas sobre a realidade naquela cidade, que até poderia ser bonita se o medo não acabasse com qualquer beleza. verei se por cá o cineclube o exibe

Anonymous said...

Luis, Só um comentário ao seu magnifico post sobre o filme Tropa de Elite.
Tenciono vê-lo, pois a temática interessa-me muito. A guetização e as clivagens sociais sentem-se mais nas sociedades "ditas" ocidentais, QUE NÃO SOUBERAM GERIR o crescimento excessivo das cidades e pensaram que tudo e todos se adaptariam como por milagre, às agruras e adversidades da vida quotidiana...todos sabemos que não é assim, e daí o aumento exponencial da violência e da descriminação. Consequência: -aumento dos "condomínios fechados" para os mais ricos pensando que, bastará isso para terem mais segurança (doce ilusão...)
Agora, cá em Portugal ao seguirmos o mesmo modelo (ricos para um lado e pobres para outro)já estamos a caminho dessa violência que certamente está patente no filme brasileiro...
Bem prega Frei Tomás, mas na Grande Lisboa os "guetos sociais" que foram sendo criados desde o 25 de Abril, são o barril de pólvora para todas as situações de exclusão, marginalidade e conflitualidade...vidé o que se está a passar na Quinta da Fonte, em Loures...não quero ser catastrófica, mas temos que olhar com mais cuidado para a nossa realidade que já não é muito diferente da brasileira...atenção pois, senhores governantes !!!
Um abraço amigo
Lucy

Anonymous said...

Vim só dizer olá e agradecer as simpáticas palavras sobre domingo. respondio lá no jasmim.
bjocas

Je Vois La Vie en Vert said...

Violência demais para mim...
Talvez seja fraca mas não sou capaz de ver.
Se quiseres ver um exemplo de felicidade malgrado a aversidade, vai visitar o meu cantinho.
Beijinhos verdinhos

Alexandre said...

Pois, há muitos anos que prognostico que Portugal vai assistir a estes «filmes» ao vivo! E pelo que se vê, tudo indica para essa direcção - é claro que os senhores dos gabinetes com ar condicionado vão palitando os dentes entre dois bocejos... até um dia lhes tocar a eles!

Um abraço, Luís!