Portugal, anos 40, século XX. O que leva uma jovem fadista quase sem instrução a escolher cantar um poeta erudito do séc. XIX? A pergunta é feita num programa televisivo dedicado à diva. A resposta será sempre ambígua. Canta os grandes poetas da língua portuguesa, dos trovadores a Camões, de Bocage aos poetas contemporâneos: Pedro Homem de Mello, David Mourão-Ferreira, José Régio, Alexandre O'Neill, Manuel Alegre, Ary dos Santos. A relação precoce e visionária de Amália Rodrigues com a melhor poesia permanece um enigma. Nenhuma escola, por mais que exercite, consegue formar uma voz como a sua que, numa métrica de rigor inalterável, se elevava do chão, como um cântico ao sofrimento. O amor ou desafecto poderão explicar o registo pungente dos versos que entoou, canonizando aliás textos de insuperável qualidade literária. Poderá ter tido uma estranha forma de vida, mas foi um relevante factor aglutinador do povo português, que fez dela seu património. Assim e não obstante as terríveis criticas que por aí se escrevem sobre Amália, o filme, a produção nacional sobre a vida do mais respeitado mito português, resolvo passar o fim de tarde chuvoso de sábado, com o seu encanto triste, a dar de beber à dor na escuridão de uma sala de cinema. Não sei se vou deleitar-me, mas não resisto a revisitar uma das figuras lendárias do fado e da cultura portuguesa do século passado que exprime essa forma melancólica e nostálgica que é a saudade…
Saturday, December 06, 2008
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20 comments:
O filme não me seduz, pois a vida de Amália está tão dissecada que decerto não haverá grandes novidades por aí.
Agora Amália, fadista e mulher é e sempre será sedutora.
Abraço.
vou amanhã ver...
estou curiosa!
tenho curiosidade em ver a protagonista, que me parece estar muito bem no papel.
um beijo
luísa
Não poderia dizer que Amália Rodrigues é a melhor fadista portuguesa porque conheço poucas,mas posso dizer que acho-a excelente! E eterna!Espero ter a oportunidade de ver este filme aqui no Brasil, onde, por sinal é bastante conhecida e respeitada.
Um abraço, Luís
TAmbém estou curioso, sobretudo porque parece que há por aí muito boa gente a dizer mal .... :)
Eu vou ver. Já tinha alguma curiosidade pelo filme, talvez devido à polémica. Contudo, vi um dia destes um programa sobre a produção do filme e gostei muito.Fiquei com a ideia de que a protagonista faz o papel muito bem.
espero que o filme se possa ver em espanha no futuro...
Eu já vi e, de um modo geral, gostei, apesar de não ser um filme perfeito e enfermar de alguns males. Mas depois de terem dado 4 estrelas ao "Eu quero ver", filme completamente vazio de tudo, e terem dado um estrela ao "Amália", continuo a pensar que é melhor pensarmos pelas nossas próprias cabeças. Porque os críticos emitem opiniões, não sentenças.
Fui ver achando que não ia gostar. Gostei da fotografia e da história não sobre a diva mas sobre a pessoa. Uma pessoa que amou, ficou magoada e tentou disfarçar como a maioria das pessoas faz: entre o amor e o desejo, para ver se ainda existem pessoas decentes.
Hoje vou seguir a tua "dica" ( mais uma vez )...
Aquele grande abraço
JustMe
E por aqui passo
E como sempre saio mais rico:
L.C.
O filme, não vi, mas acredito que valha a pena assistir. Amalia dispensa quaisquer comentários. Insubstituível!
Boas festas! Beijos
( Conclusão do comentário anterior )
A vida, o filme
Confesso a surpresa
Confesso uma descoberta
Fui ver o filme
"se foi por vontade de deus"
não sei...
Uma coisa sei...
"quem pensa que morreu...
...enganam-se"
Aquele grande Abraço
Pois eu quero muito ver o filme. Amália faz parte da minha história de infância, em que minha mãe, que tinha uma bela voz, adorava imitar.
Sem falar que nós, aqui, herdamos esta melancolia que cai tão bem nos fados interpretados por ela e que são eternos.
abraços
Tive um acidente na net... esbarrei neste blog...vou cá ficar internado... a convalescença em boa companhia não é uma fatalidade, é uma benção...
Neste País tudo se leva a brincar, mas este blog é para levar muito a sério...Parabéns! Um primor conceptual, um equilíbrio sóbrio entre o texto e a imagem...tomei a liberdade de fazer um link para o meu blog...
P.S. deixei o cigarro...
Luís,
nunca te tinha dito que gosto muito do teu sítio? :)
Mas gosto muito; gostamos muito!!
Um abraço...
Não sou fã de Amália, por isso acho que este filme me vai passar um pouco ao lado...
Beijinho
"...E nesta sinceridade/
De amor e sensualidade/
Ponho a alma ao coração/
Inúteis são os meus gestos/
P'ra te falarem de amor/
Inúteis são os meus gestos/
P'ra te falarem de amor/..."
"...A vida quis que fosse assim/
Nosso destino/
No grande amor que quis/
Vencer os vendavais/
A vida quis que fosse assim/
Nosso destino/
Onda quebrada contra a praia/
E nada mais/..."
"...Confesso que te amei, confesso/
Não coro de o dizer, não coro/
Pareço outra mulher, pareço /
Mas lá chorar por ti, não choro/
Fugir do amor tem seu preço /
E a noite em claro atravesso /
Longe do meu travesseiro /
Começo a ver que não esqueço/
Mas lá perdão não te peço /
Sem que me peças primeiro/..."
"...Cuidado, coração com o que sonhas!/
Cuidado, coração com quem apenas/
Gostou de te agarrar, quando ias a cantar/
Um fado de horas lindas e serenas!/
Cuidado, coração com quem ainda não/
Te viu sofrer, nem sabe as tuas penas!/..."
Amália Rodrigues
Já vi o filme e talvez por ser um amaliano posso dizer que não me desiludiu. É bem possível que me tenha afectado aquela coisa da crítica dizer tão mal. Sem querer somos também levados pela corrente. O filme tem boa fotografia.Representação no geral , boa sobretudo da »Amália». O desenrolar da história está muito bem conseguido e já agora «bardamerda para os críticos» que sa sua maioria têm de dizer mal quando qualquer filme começa a ter grande adesão do público. E eles não se podem comparar com essa maioria. Sao diferentes. Sabem de cinema. Nós não! Não deixem de ver
ali bem representada e tão perto de nós essa grande mulher portuguesa
dos três ou quatro costados e sobretudo humilde e sem as caganças de certas vedetas de hoje que só existem porque alguém lhe jogou a mãozinha. Ponto final. Par.... António -Loulé
Gostei. Muito mesmo. A fotografia, a banda sonora, a dinâmica entre as diversas cenas e, sobretudo, da forma como explica a mulher: apaixonada.
Os homens, a instabilidade e a música são apenas algo que veio com essa paixão...
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