Saturday, November 14, 2009

ele morre de amor...


ele morre de amor,
anda lá próximo, no fio da navalha,
um linha a partir-se num tempo de sentimentos agitados, uma aflição,
depressão grave, tão doente,
com macerados olhos, pálpebras pesadas, passa o tempo a ler os poetas do afecto,
poemas que matam, poesia que pesa,
a ouvir Jacques Brel e a engolir absinto,
espreitando através do vidro fosco do tempo,
fuma pela noite dentro, peito ferido,
quase desmaiando por ternura,
desesperado, sente tremer a mão, emagrece,
como só no absoluto da adolescência acontece.

há um aperto no coração, uma tensão no quarto à média luz,
uma febre de melancolia que não baixa,
dói-lhe a alma cheia de rasgões, feridas que latejam,
mas objectivamente ele nunca teve jeito para sofrer, ah, não,
ele nunca teve queda para vitima, para lôbregas tristezas, para noites de insónia,
é tudo uma questão de amor, amor ardente, de fogo,
de incêndio, de paixão,
grandes comoções, colossais desejos,
uma barragem contra a mágoa e a solidão,
um tormento,
pensa que saberá sair a tempo daquela prisão cercada de um bando assustador de corvos negros, onde deambula a melancolia do ser,
saberá sair, pensa ele, ousado e sem disfarce
abandonará histórias mal cicatrizadas, viverá dias felizes, longos beijos sem fim, troca de gemidos, espasmos de cor, corpos que cedem sem pensar, cúmplices partilhas, ao som de música romântica,
terá direito a noites estreladas
e a lua afogará os seus braços
e insiste, ah, sim.

há um temporal que se instalou
naquela ilha de silencio sem fim onde vive
crê que o mau tempo um qualquer dia desapareça
aquela estranha temperatura que veio parar ao seu farol sombrio se canse,
mas no entretanto sente que está a um passo de morrer de amor.

Ah, o telemóvel que toca…será ela?
Luís Galego

Imagem retirada aqui.

14 comments:

Minhas Impressões said...

Morremos um pouco a cada dia, mas não de amor e, sim, pela falta dele, quando ele está distante, quando não nos toca a face, quando não há o aconchego dos corpos tão quentes e ternos sobre o mesmo leito.
Morre-se de dor, de desalento... de uma tristeza sem bálsamo.

O telemóvel toca, mas, no meu caso, bem sei que não é ele.
A angústia me invade e me recolho à solidão, porque nela encontro o abrigo de um rosto que só conheço em pensamentos.
Grande beijo, Poeta

Maria said...

Só uma palavra: Lindo!
Obrigada por tornares este sábado mais ameno com as tuas palavras.

Um beijo

Violeta said...

"há um temporal que se instalou
naquela ilha de silencio sem fim onde vive..."
Há temporais assim, que nos sufocam...
bjs e boa semana

AnaLee said...

Talvez seja hora de deixar de estar ilhado...Basta às vezes levantar a cabeça e seguir o primeiro voo que os olhos alcancem.

Je Vois La Vie en Vert said...

O amor é para ser vivido e não pode levar à morte !
Talvez ouvindo "une valse à mille temps" de Jacques Brel ajudava a levantar o moral.

Bonito texto, amigo Luis

Beijinhos

Verdinha

Unknown said...

"mourir d'aimer"...

uma filosofia, um estado de alma, um descompassado sentir...

e a associação única entre as palavras e a imagem!!!!

Mar Arável said...

Obvia mente

era ela

a outra

Abraço

Correia said...

...tão belo e sublime como escreve!
"...em cada percurso, sou aprendiz da escrita"cc.Abraço amigo.
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«.tenho em mim outras horas de tempo, hão___ de chegar todos os sonhos do mundo___simples como a vibração da luz do piano.hoje sou prece de todos os caminhos_______ metáforas dos Teus olhos._________________________________não sou desta era______viajei através do pó das antigas estrelas e vivi nas asas dos mortos______________escutei as almas_____________as minhas pálpebras quiseram gesticular pazes______________mas a humanidade não quis. ______________________________________
__a chorar os vivos_______respiro cada dia as assimetrias do quotidiano_______e_______convivo com os sonhos do mundo escreventes da minha memória_________________já sem rosto__________________que um dia voando por____________aí_________escutarei o sussurrar_____do meu coração a esquecer-se de palpitar novamente.___________________________________leva-me o vento no voo dos pássaros e aguardo um sinal de Deus para renascer_____ avistando o azul e um regaço___ que___ de___ mansinho_____________no silêncio da aragem me certifique que nascerei outra_______ vez______________unificada em terra.
existe um tempo por_______________________contar__distâncias______palavras__actos_____por reconstruir.chega um dia em que importa abraçar todos os sonhos do mundo____________sem naufrágios___________ tacteando cega como se a lucidez fosse_______apenas a vibração da luz do piano.____________________________________________________Dói-me a traqueia______as lágrimas sorvo-as___sal___ no rosto humedecido__________pálpebras_______tristes. as outras horas de tempo desaguam num chá de jasmim a hibernar nas minhas mãos sofridas. meu tempo está suspenso___________pela apnéia do som____ali onde a esperança se liberta da vida.»
CCorreia

Tongzhi said...

Muito bonito embora a ideia de "morrer de amor" seja, para mim, um bocado "esquisita"...

Pedro Gamboa said...

Morrer de amor... Haverá sempre um espaço nas letras para morrer de amor.

maria said...

A beleza da ideia, o tal amor de perdição... Mas todo o amor, de alguma forma, nos leva a situações de perda, de sofrimento, de mágoa...
Os homens não morrem de amor, já não morrem de amor.

Abraço-te said...

ainda há quem morra de amor!!!

Abraço-te

J.Pereira said...

Luís
Obrigado por partilhares a tua sensibilidade e talento. Isso faz-nos muito bem.

Paula Crespo said...

Há um temporal que se instalou
naquela ilha de silencio sem fim onde vive

Pesa o temporal e pesa a ilha de silêncio...
Magnífico!!
Bjs