Sunday, June 26, 2011

Lê-me Sophia…



Lê-me um dos mais belos poemas, um daqueles em que o verde do mar é invadido pelas estrelas e sereias de cabelos roxos, a areia cheira a madressilva e as ondas agitadas se enrolam como búzios. Onde brilhem a espuma sal e vento e o cantar das marés cheias faça tudo parecer exausto, inútil, alheio.

Lê suavemente mas com paixão, entoa a riqueza e singularidade do tesouro oculto nos seus escritos. Respira docemente cada verso, cada palavra, acaricia o inconfundível, ilumina a perfeição tranquila e pungente. Retém o calor e a ternura de cada sílaba.

Ao leres certifica-te que lhe dás expressão, abre espaço para que me abrace à mulher poema com olhos de vidente, algas em vez de veias e um coração em forma de medusa. Ajuda-me a descobrir a vastidão da sua biografia, o seu percurso acidentado e abrupto, aquela fragilidade irredutível de uma identidade perplexa mas insubmissa que a fez sem remorso trocar os jardins do paraíso por um caminho desconhecido. Assim com os seus versos se rói a solidão e os dias crescem como uma flor vermelha.

Não te esqueças que nasci homem mas romântico e que sofro dessa patologia incurável e impronunciável.

E ninguém vai entender nunca essa beleza, mas tal como à poetisa viverão sempre mil gestos nos meus dedos.

Luís Galego

18 comments:

Maria said...

Ler Sophia assim é deleitar-se com cada sílaba como se fosse uma pérola. Uma onda suavemente a abraçar a areia. O rendilhado da espuma. A sensação sempre renovada do mergulho no mar azul. Que pode ser verde...

Um abraço.

Red Light Special said...

Arrepiei-me... não por ser Sophia, mas por te ler de novo assim. Saudades dessa "patologia". :)
Beijo vermelho.

ANITA said...

Muito Belo como sempre!Tal como de Sophia lhe conheço as cores e cheiros assim a tua escrita me é já familiar! Há palavras que nos ficam cravadas na alma assim

Beijito meu amigo
Ana

Mel de Carvalho said...

"Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.

Porque eu cheguei e é tempo de me veres..."
Sophia de Mello Breyner

Sophia chegará sempre à tua beira. O teu coração tem a imensidão de um mar e a magia de um menino de bronze...

Um beijo, querido amigo
Mel

Mar Arável said...

Sophia por gestos incontronáveis

Maruska said...

Desta vez foi mais que bom...amei.
A certa altura tive a sensação que alguém me estava a dizer aquelas palavras que me deliciaram....
Era como se fosse para mim...alguém que me conhecia...estranho!!!
Um grande xi coração niño romântico!:-)))

João Roque said...

Ter o prazer de ler mais um texto teu (uma raridade), e ainda por cima, dedicado à grande Sophia, é tão compensador...

Je Vois La Vie en Vert said...

A poesia aconchega o coração-

beijinhos, Luis
Verdinha

Dolores said...

O que dizer de mais depois de ler todas estas confissões de alguém apaixonado pela poesia e pelo próprio amor e sendo assim nos faz apaixonarmos também.
Sempre belo, tudo por aqui!

P. P. said...

Brilhante Luís!
Como tu tão bem sabes escrever.

Abraço-te.

Anonymous said...

0 culto !nfinito do b elo... ler de
v e r d e o mar...

Sempre para reler... mto bom

Anonymous said...

Gostaria de saber...
Afinal, o que foi ela leu?
;)

Adriana Gil said...

Maravilhoso, como tudo por aqui.

Por instantes, tua casa fez-se minha, e nela pude provar de todo o aconchego e alento que 'o certeiro verbo' pode nos proporcionar.

Do ultramar saúdo-te e agradeço-te.

Adriana

Dalva Nascimento said...

Que blog... que show!

Rosario Ferreira Alves said...

Ainda bem que esperei pelo momento certo para ler este texto, que adivinhava especial. E neste momento, que é o certo, vou ler e reler e reler até sentir toda a beleza que contém... vai demorar.é muito belo.

Beijinho Luís! Boas férias pelo verde!

Rabisco said...

Maravilhoso este texto!
Sophia de Mello Breyner Andresen é um daqueles casos que nos deixa sem palavras...e continuará sempre a ser.

Gostei muito!

Abraço

http://www.rabiscosincertossaltoemceuaberto.blogspot.com/

Anonymous said...

Excelente, texto. Gostei muito, Luís.

Abraço



Et

Menina Marota said...

Li e reli... e vou dormir com um sorriso nos olhos e um afago no coração.

Um abraço e grata pela partilha.