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Saturday, April 12, 2008

front line...

A tarde passou a galope e ao fim do dia rumei para o teatro que se vem consolidando como "casa da dança". Teatro Camões. A Companhia Nacional de Bailado (CNB), com residência no parque das nações, exibe três estreias no mesmo espectáculo. Para iniciar "Front Line", uma coreografia de Henri Oguike. Seguiu-se "Lento para Quarteto de Cordas", de Vasco Wellenkamp, sobre a música de Anton Webern e interpretada pelo mesmo quarteto, bem como "Cantata", de Mauro Bigonzetti. "Front Line" é inspirada no Quarteto de Cordas nº 9, de Shostakovich, que recorre a três dos cinco andamentos que compõem esta obra: Allegretto, Adágio e Allegro. A criação de Vasco Wellenkamp parte do registo lírico da Langsamer Satz für Streichquartett (movimento lento para quarteto de cordas) de Anton Webern. Bigonzetti criou "Cantata" a partir de canções tradicionais napolitanas do século XVIII. Para o coreógrafo italiano, a peça incide nas fortes semelhanças que considera existirem entre a cidade italiana de Nápoles e Lisboa: ambas são litorais, com bairros antigos e mulheres parecidas na beleza, no espírito e no carácter apaixonado.

Tendo sido um cliente mais ou menos assíduo do inesquecível e extinto Ballet Gulbenkian venho procurando a redenção no Passeio Neptuno. Dizem os críticos da área que a CNB, ao longo destes anos, regista uma verdadeira melhoria na qualidade de dança que oferece, o que se pode observar não só pelos próprios bailarinos, como também pela diversidade e originalidade coreográfica. Penso que foi isso que aconteceu e bem ontem à noite naquele teatro à beira rio plantado…

Friday, February 15, 2008

o complexo segundo André...

Neste espectáculo pretende-se olhar para o que ainda permanece do fenómeno Cinderela, abordado por Collete Dawling em The Cinderella Complex. A autora confronta-nos com o facto de até a mais emancipada das executivas conter em si um sentimento de desabrigo e depositar a expectativa no aparecimento de um “príncipe”.

'de modo igualmente sistemático, as mulheres são ensinadas a crer que, algum dia, de algum modo, serão salvas. Este é o conto de fadas'...".

No início dos anos 80, a jornalista americana Colette Dowling realizou o sonho de todo o escritor, mesmo aquele que faz pose de subestimar o mercado: escarrapachou um livro na lista de best-sellers. Publicado em diversos países, Complexo de Cinderela fez furor e alimentou controvérsia. A sua teoria era a de que décadas de pregação feminista não haviam aliviado as mulheres da sua apreensão recôndita da autonomia. Mesmo as mais eruditas, mesmo as que atingiam êxito profissional, continuavam acalentando o desejo secreto de ser arrebatadas por um "príncipe" e, por via disso, ver-se livres dos encargos que acarreiam uma vida adulta.

"A tese deste livro é a de que a dependência psicológica - o desejo inconsciente dos cuidados de outrem - é a força motriz que ainda mantém as mulheres agrilhoadas. Denominei-a ‘Complexo de Cinderela’: uma rede de atitudes e temores profundamente reprimidos que retém as mulheres numa espécie de penumbra e impede-as de utilizarem plenamente seus intelectos e criatividade. Como Cinderela, as mulheres de hoje ainda esperam por algo externo que venha transformar suas vidas."

A Companhia de Dança Tok’Art vai dar fisionomia a esta reflexão polémica e a estreia vai acontecer amanhã à noite no Centro Cultural do Cartaxo. André Mesquita é um nome que começa a dar que falar em territórios coreográficos. Vou lá estar, obviamente!

Ver texto em http://www.tok-art.blogspot.com/

Sunday, April 29, 2007

O que é a dança?

Desde há pouco mais de uma década que se comemora, no nosso País, o Dia Mundial da Dança, coincidente com o nascimento do excelente inovador francês do século XVIII, Jean-Georges Noverre. Com este tipo de efeméride pretende-se aumentar a sensibilização para todos os tipos de dança e a enorme contribuição que ela pode trazer à cultura e ao desenvolvimento comunitário. Embora Portugal não prime por um gosto que coloque esta arte a um nível em que a maioria dos países a coloca (atente-se à importância do flamenco na cultura espanhola, da dança clássica na italiana e, sobretudo, na francesa que, a par da alemã e da norte-americana, também tem revelado um especial carinho e deferência para com a chamada dança contemporânea) poder-se-á dizer, com alguma propriedade, que mesmo assim, cá se vai dançando… Instituído em 1982, por iniciativa do Comité de Dança do Instituto Internacional do Teatro (ao que se juntaram o Conselho Internacional da Dança/ UNESCO e a Aliança Mundial da Dança), este Dia (29 de Abril) tem, nos últimos tempos, sido acompanhado por uma mensagem, difundida internacionalmente, da autoria de uma personalidade reconhecida no mundo da dança. Em 2003, essa honra, coube a Mats Ek, coreógrafo sueco muito dançado na Europa e de quem o Ballet Gulbenkian possui em reportório várias obras de enorme popularidade. Numa altura em que muita gente se interroga sobre o futuro da nossa dança as palavras de Ek fazem todo o sentido e devem ressoar por, pelo menos, mais 364 dias!

“O que é a dança?” interroga-se o filho de outra coreógrafa famosa, Brigit Cullberg.

Para depois afirmar: se alguém responder a essa pergunta não é uma pessoa confiável.”

E acrescenta, “mas, de qualquer maneira, deixem-me tentar.

A dança é pensar com o corpo. E será necessário pensar com o corpo? Talvez não para sobreviver, mas sim para viver. Há tantos pensamentos que apenas podem passar pelo corpo. Coisas como a paz poderão ser bem mais importantes que a dança, porém, precisamos da dança para celebrar a paz. E para exorcizar os demónio da guerra, tal como o fez Nijinsky. A anarquista, Emma Goldman, talvez o tenha dito da melhor maneira: não vale a pena lutar por uma revolução que não me permita dançar. O deus Shiva criou o universo com a sua dança. Mas a dança é o oposto de todas as pretensões divinas. A dança é uma eterna tentativa, tal como escrever na água. A dança não é a vida mas mantém vivas todas as pequenas coisas que constituem a grande coisa.”

Em 2007 a honra coube a Alkis Raftis, presidente do Conselho Internacional de Dança. "Este ano - escreve Raftis - o dia da dança é dedicado às crianças. O Conselho Internacional da Dança, junto com a UNICEF, tem lutado por medidas que dêem às crianças um começo de vida de qualidade, pois uma educação apropriada é a estrutura mais forte do futuro de uma pessoa". Convicto de que "cuidar das crianças é essencial para o progresso da humanidade", o presidente do CID aponta como "objectivo primordial" da sua ONG "ultrapassar os obstáculos da pobreza, violência, doença e discriminação no percurso de uma criança". Porque "a dança é uma componente básica do desenvolvimento pessoal e social", a nenhuma criança "deveria ser negada a oportunidade de aprender e praticar dança", insiste. "O acesso a esta arte - afirma ainda - constitui um direito de todas as pessoas, das crianças em particular. Este direito deveria ser protegido de forma a assegurar um acesso a necessidades básicas e alcançar o seu potencial máximo".


Fonte:
http://www.revistadadanca.pt/

Saturday, November 25, 2006

até que Deus é destruído pelo extremo exercício da beleza

O mais recente espectáculo de Vera Mantero, «Até que deus é destruído pelo extremo exercício da beleza».

Canta - dizem em mim - até ficares
como um dia órfão contornado
por todos os estremecimentos.
E eu cantarei transformando-me em campo
de cinza transtornada.
Em dedicatória sangrenta.

Pedem tanto a quem ama: pedem
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura.
Dizem: dá-nos a tua canção que sai da sombra fria.
E eles querem dizer: tu darás a tua existência
ardida, a pura mortalidade.

E se ele acorda, então dizem-lhe
que durma e sonhe.
E ele morre e passa de um dia para outro.
Inspira os dias, leva os dias
para o meio da eternidade, e Deus ajuda
a amarga beleza desses dias.
Até que Deus é destruído pelo extremo exercício
da beleza.
Porque não haverá paz para aquele que ama.
Seu ofício é incendiar povoações, roubar
e matar,
e alegrar o mundo, e aterrorizar,
e queimar os lugares reticentes deste mundo.
Deve apagar todas as luzes da terra e, no meio
da noite aparecente,
votar a vida à interna fonte dos povos.
Deve instaurar o corpo e subi-lo,
lanço a lanço,
cantando leve e profundo.
Com as feridas.
Com todas as flores hipnotizadas.
Deve ser aéreo e implacável.

Se pedem: canta, ele deve transformar-se no som.
E se as mulheres colocam os dedos sobre
a sua boca e dizem que seja como um violino penetrante,
ele não deve ser como o maior violino.
Ele será o único único violino.
Porque nele começará a música dos violinos gerais
e acabará a inovação cantada.
Porque aquele que ama nasce e morre.
Vive nele o fim espalhado da terra.
Herberto Helder
O poema de Herberto Helder, «Lugar II», ao qual o mais recente espectáculo de Vera Mantero, foi furtar o título, fala da condição fatal daquele que ama, condenado que está ao desassossego, à busca incessante de um momento de paz que nunca chegará, «pois não há paz para aquele que ama». «Até que deus é destruído pelo extremo exercício da beleza» é um espectáculo de alerta para um determinado estado de coisas difícil de sustentar. Impõe-se contra o facilitismo e é, como fica dito no texto do Programa, «uma cápsula espacial», onde «algumas coisas não são daqui e outras não pertencem aqui». A maturidade que comporta o espectáculo é bastante para admitir que o corpo não necessita de outras formulações. Contêm em si mesmo todas as instrumentos para uma constante reformulação porque, como disse o compositor musical experimentalista e escritor norte-americano John Cage, «there is no such thing as silence»*. Façam favor de ser felizes através da Arte…BOM FIM DE SEMANA!!!
Ver pequena apresentação do bailado.
*agradeço a o Melhor Anjo a referência.