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Friday, July 27, 2007

belle toujours...

"«BELLE TOUJOURS» ocorreu-me à ideia inesperadamente, e como tinha gosto de prestar a minha homenagem a Luís Buñuel e a Jean Claude Carrière fiquei feliz por ter encontrado o modo de o fazer, talvez o melhor, e meti mãos à obra.
De que se trata? De retomar duas das estranhas personagens do filme «Belle de Jour», e fazê-las reviver, trinta e oito anos depois, na estranheza de um segredo que só ficara na posse da personagem masculina e cujo conhecimento se tornara crucial para a personagem feminina.
Assim, passado esse tempo, voltam a encontrar-se.
Mas ela tenta por todos os meios evitá-lo.
Ele, porém, persegue-a e, ainda que contrariada, consegue detê-la face à intenção de lhe revelar o segredo que só ele lhe pode desvendar.
Marcam um encontro, um jantar, onde ela espera que tudo lhe seja revelado. Dá-se o jantar onde ela, viúva, aguarda a esperada revelação: o que ele dela dissera ao marido quando este estava mudo e paralítico por causa de um tiro que um amante dela lhe dera.

A situação é tensa e ela acaba desesperada sem poder afinal saber o que em verdade se passou.
Ele fica satisfeito no seu sadismo e no seu particular modo de se vingar da altivez dessa mulher que no fundo o desejou, mas que o seu feitio altivo impediu que ele a possuísse.

Manoel de Oliveira
Porto, 8 de Julho de 2005"
(in http://cinemaparaiso.blogspot.com)

Quarta-feira, 16 horas, cinema King, Lisboa acalorada, 5 pessoas na sala 1, lugares marcados. Atrás de mim duas velhas senhoras – autopsiavam todo o filme (que mais podia eu desejar que um filme comentado quase ao ouvido?). Entretanto na tela o mais provecto realizador português retoma a história e as personagens do célebre Belle de Jour, mas sem Catherine Deneuve. Duas personagens do filme de Buñuel reencontram-se, 38 anos volvidos. Ela tenta evitá-lo. Ele insiste e tenta convencê-la, prometendo-lhe que lhe revelará o segredo que só ele conhece e que é essencial para ela. Durante o jantar, num distinto hotel parisiense, ela, hoje viúva, tenta a todo o custo que ele lhe confesse o que disse ao seu marido.

Para compreendermos este filme convém conhecer o objecto homenageado, dado que Oliveira recorre à obra buñueliana. Competente gestão dos silêncios, dos gestos e da palavra. À medida que a obra vai começando, passamos do teatro onde a Orquestra Gulbenkian dá um concerto para findarmos num quarto onde Séverine e Husson protagonizarão o momento central do filme: o jantar. Pelo meio, sempre que se impõe, um espaço reduzido aparece em socorro, um bar, um barmam, duas prostitutas, uma mais nova, outra a reboque. Muito whisky. No bar vamos percebendo tudo, sobretudo o vendaval de sentimentos que guiam as personagens, especialmente Husson. O bar é obrigatório naquela fita para se entender o que aconteceu no outro filme.

Retrato (às vezes cruel) das sombras do tempo e das suas marcas, reencontro delicado, comédia de costumes, sarcasmos sobre o matrimónio.

Belle Toujours é uma pequena dissertação sobre a existência, a solidão, o amor e o medo.

Manoel de Oliveira, 100 anos de idade no próximo ano, confirma uma vez mais ser titular de uma obra singularíssima.

As velhas senhoras sentadas atrás de mim fizeram um resumo de outro filme enquanto as luzes se acendiam. Ou talvez eu atento a dois filmes, o do ecrã e o que elas iam comentando, terei construído um outro…

Trailers
Belle Toujours
Belle de Jour