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Sunday, August 10, 2008

New York revisited...

(Lewis Hine, Lunch Break, 1932)

Instalado em frente ao Carnegie Hall a estadia em Nova Iorque soou-me a música celestial. Mas o que rabiscar acerca de uma cidade sobre a qual já foi tudo dito? Nada de diferente. Ou tudo, pois Nova Iorque renova-se a cada momento. É uma onda de luzes, cores, odores, barulho e gente, uma metrópole multicultural e multiétnica onde tudo pode acontecer. Seria redundante averbar aqui tudo o que há para ver – guias há muitos e um único post não comporta toda a arquitectura e escultura públicas, todos os centros culturais, todos os museus e galerias de arte, todas as ruas e avenidas e todos os parques. Do elitista Upper East Side ao revigorado Theater District, passando pelo MeatPacking, o bairro da moda, aos distintos hotéis de artistas, quase todas as esquinas (e recantos) de Nova Iorque são matéria para uma curta/média/longa-metragem. Não vou dissertar acerca do tempo que passei em terras nova iorquinas, gostaria apenas de me centrar em alguns momentos e lugares: no Lincoln Center for the Performing Arts; no Museum of Modern Art (MoMA); no Metropolitan Museum of Art e nos palcos da (e off) Broadway. Ao regressar a Nova Iorque, a principal dificuldade é decidir o que fazer: dos célebres ícones da maior cidade dos Estados Unidos à diversidade e carácter de cada um dos cinco distritos da grande metrópole (Bronx, Brooklyn, Manhattan, Queens e Staten Island), a escolha é tão esmagadoramente vasta que talvez o melhor seja reconhecer que não se pode abarcar tudo e simplesmente fruir do facto de ali estar e de poder respirar a atmosfera enérgica e a surpreendente força da cidade. Nova Iorque exerce uma pujante atracção e já se me tornaram familiares os seus impressionantes museus, as artérias congestionadas, a movimentada Chinatown, a Grand Central Terminal, célebre estação de comboios que foi cenário de um beijo entre o fugitivo Gregory Peck e Ingrid Bergman no Spellbound de Hitchcock, o American Museum of Natural History, maior museu de história natural do mundo, os teatros da Broadway, da off (e da off off), os terraços com magníficas vistas sobre a cidade, a livraria Barnes & Noble, a New York Public Library, uma das principais bibliotecas públicas do mundo, os clubes de jazz de Greenwich Village ou as atracções do Central Park, entre outros lugares. Contudo, o maior prodígio da Big Apple é provavelmente a população multicultural que garante a identidade da cidade, mantendo-a viva 24 horas por dia com a sua gama de matizes, estilos de vida, costumes e tradições, assimetrias e, necessariamente, conflitualidades. Não será, pois, de estranhar que se falem perto de 170 idiomas ou que tenha sido berço de múltiplos movimentos culturais em todas as áreas. Mesmo depois do golpe desferido pelos atentados, Nova Iorque mantém uma coreografia única; a city that never sleeps oferece praticamente tudo o que eu posso imaginar nos meus sonhos mais inverosímeis. E, embora possa permanecer semanas em Nova Iorque e apenas consiga vislumbrar aspectos superficiais da metrópole, há experiências e locais que não consinto perder.

Nova Iorque é surpreendente. Porquê? Não sei, diria que é uma questão de chama e que qualquer apreciação racional viria a despropósito. Foi entusiasmado que me senti na primeira visita e repete-se a paixão quando ali regresso. Nova Iorque é um work in progress, caótica, barulhenta e poluída, não tem a imponência aristocrática de Paris, a beleza, a cor e a história de Roma, o mistério das cidades escandinavas, o civismo de Viena ou a luminosidade de Lisboa. Também não tem grandes monumentos, nem edifícios seculares e não é propriamente acolhedora. E, no entanto, a sua energia cultural seduz e vicia. Talvez sejam as luzes que ofuscam, a veemência electrizante que se vive nas suas vias, a rapidez com que tudo se passa, o turbilhão de gente, a sensação de poder, de que ali tudo pode acontecer. Tentadora, a "maçã" atrai, deixa saboreá-la e depois aprisiona. Há quem compare a cidade a uma serpente cujo olhar nos seduz. Depois, prende para sempre. Mas não será esse o segredo e fascino de uma paixão?

Ao aterrar de olhos bem abertos em Times Square julgo que estou dentro do Blade Runner, a observar a paisagem nocturna e, entre a multidão que passa, o meu olhar dirige-se em direcção às luzes e aos cartazes publicitários coloridos da Broadway. Pareço um recém-chegado tal a expressão de espanto, mas também pouco importa porque é impossível ficar indiferente ao espectáculo, como se estivesse no palco do mundo, um lugar essencial onde tudo se passa ao mesmo tempo e tudo se vê. Edifícios todo-poderosos, o glamour do néon que ilumina a noite escura, várias músicas de fundo, um cowboy sem roupa, mas de guitarra em punho, um baterista à procura do sucesso, um homem travestido de noiva, o vendedor da Gray Line New York Sightseeing em delírio por mais uma venda de bilhetes, sirenes da polícia, o ronco do metropolitano e o rumor da respiração simultânea de milhões de pessoas...

Em dia meteorologicamente ciclotimico, entre trovoadas e sol abrasador, refugio-me no Gerald Schoenfeld Theatre, curiosamente a mesma sala onde há três anos assisti a uma peça de Edward Albee, com Kathleen Turner em Who´s Afraid of Virginia Woolf? Mas é à noitinha que me delicio numa das maiores instituições de música erudita do mundo: Lincoln Center/ Avery Fisher Hall e o seu Mostly Mozart Festival. Obviamente que não posso comparar o Chorus Line ou o Gypsy (que vi com agrado e o coração apertado devido ao talento da Patti Lupone, naquela espécie de King Lear do musical) com a voz da cantora lírica alemã Christiane Oelze e a batuta de Louis Langrée. Só mesmo eu que esquizofrenicamente troco um punhado de dólares por um espectáculo em qualquer sítio, desde um vão de escada a uma sala imperial, salto de registo em registo. Psicanálise exige-se, ou talvez não, que se lixe. Sou extraordinariamente feliz numa plateia, embora cada vez mais severo…E a propósito de exigência caminho para ruas fora dos grandes holofotes onde encontro Titus Andronicus, uma peça fora de qualquer chancela comercial num teatro gerido à laia de Woody Allen chamado The Archlight Theatre. Ali o texto é sério – ao contrário do que escreveu T.S.Eliot, “One of the stupidest and most uninspired plays ever written” –, interpretações cuidadas, cadeiras rotas, palco desnudado, o vizinho do lado descalço, um homem que me pede para guardar o lugar enquanto sai por uns instantes, ainda que a sala esteja vazia, dois negros na fila da frente de mãos dadas, a senhora da bilheteira com a vozinha irritantemente fina, a visão independente do teatro em todo o seu esplendor e o público em menor número que o elenco. Não sei se melhor que a Cornucópia (refiro-me à adaptação que a Companhia de Luís Miguel Cintra fez daquela peça de Shakespeare), não, claro que não, mas decididamente diferente da maioria do que se faz cá e lá. E foi, igualmente, com chuva torrencial que fui brindado à saída deste curioso teatro da 152 West 71st Street.

Além do teatro (de algum teatro, cada vez mais off Broadway) os territórios museológicos assumem a minha preferência. Nova Iorque possui muitos tipos de museus, suportados por uma prática mecenática corrente. O Metropolitan Museum of Art é o maior museu dos Estados Unidos e exibe actualmente a maior retrospectiva dos últimos 40 anos sobre Turner, a qual se converteu num acontecimento cultural na cidade. Para a ocasião, reuniram-se cerca de 150 obras, 85 das quais procedentes da Tate Britain, onde se guarda uma grande parte do denominado Turner Bequest, um conjunto de aproximadamente 100 óleos cedidos pelo artista à Grã-Bretanha e entre os quais se encontram alguns dos seus trabalhos mais relevantes. Esta mostra que agora pude contemplar no MET, com a qual se desenha um percurso completo por toda a produção de Turner, de forma cronológica e temática, divide-se em dez deslumbrante partes e por elas inquieto me perdi …

Muitos museus especializaram-se, como o Museum of Modern Art e o controverso Guggenheim Museum, de Frank Lloyd Wright. E imperdoável seria se lá não voltasse. O MoMA mostra como Salvador Dali se intoxicou e se deixou contaminar pelo cinema: “Estou em Hollywood, onde entrei em contacto com os três surrealistas americanos, Harpo Marx, Walt Disney e Cecil B. DeMille. Acredito tê-los intoxicado e que as possibilidades para o surrealismo aqui se tornem uma realidade.” Na carta endereçada a André Breton, Dalí afirmava sua afinidade com três dos maiores ícones do cinema americano comercial. Dali que de forma brilhante interage com lagostas e línguas gigantes foi convidado pelos grandes estúdios a desenhar sequências oníricas de realizadores como Fritz Lang e Hitchcock. O pintor armazenou muito da visão vanguardista e “alucinógena” que marcou a sua pintura e a sua estreia no cinema em parceria com Luis Buñuel. Essa fertilização mútua entre cinema e pintura é o tema da interessante exposição Dali: painting and film.

Em velocidade de cruzeiro revisitei a gigantesca concha branca que é o Guggenheim e dei conta que Louise Bourgeois ali habita por uns meses. A construção da artista plástica é uma triunfante afirmação da existência iluminada pela libido. Nessa obra biográfica e erotizada, transformar materiais em arte é uma conversão física. Esta destreza retira a mulher da sombra da história da arte. Depois de Bourgeois, o universo artístico já não será de mulheres no mundo dos homens, nem têm de falar aí a linguagem dos homens, mas tornar presente o seu próprio desejo. Namorei o catálogo, folhei-o atentamente e adiei a aquisição.

Nova Iorque, sexta-feira à tarde. Despeço-me da cidade com um Blackberry Lemonade bebido apressadamente num bar de hotel da 7th Avenue…


P.S - Não resisti e numa sala de cinema da Broadway assisti à adaptação da obra-prima de Evelyn Waugh: Brideshead Revisited. Não comparo com o livro, nem com a série e antes de ler qualquer critica mergulhei nos anos 20 e acompanhei Charles Ryder e Sebastian Flyte. Não obstante tudo o que se venha a ser dito a propósito e presumo que não seja pouco posso confessar que saboreei esta outra visão da obra.

Sunday, July 27, 2008

de olhos abertos na vida de Adriano...

Com o título " Hadrian: The man behind the wall", a edição do The Independent (cf. 10 July 2008) refere-se a Hadrian Empire and Conflict – exposição do British Museum – e a um lado mais intimo do imperador Publius Aelius Traianus Hadrianus (esta exibição tem sido alvo de enorme interesse por parte da comunicação social, mormente a portuguesa – ver artigo do Público, de 25/07/08, “No livro de Marguerite Yourcenar, entrávamos na morte de Adriano de olhos abertos. Agora entramos de olhos abertos na vida dele …). A notícia, apesar de destacar a mostra, faz referência ao contexto geopolítico contemporâneo. Assim, ao descrever o ilustre sucessor de Trajano, salienta que ele não foi apenas mais um, mas o governante supremo romano que exigiu o regresso dos seus soldados da Mesopotâmia. Além disso, o artigo recorda que ele foi o primeiro imperador romano a assumir de forma inequívoca a sua homossexualidade.

A exposição, que reúne pela primeira vez objectos de arte do “imperador ambulante” espalhados por 31 museus, ambiciona conquistar o interesse do público para a peculiar história de vida do Pontifex Maximus. Como é sabido Adriano retirou as suas tropas do actual Iraque e mandou reforçar as fronteiras do império através da construção de fortificações contínuas, entre as quais, a Muralha de Adriano, demarcando a fronteira entre a Escócia e a Inglaterra actuais. A "era de paz" concedida por Adriano poderá então ser apreciada através de duas centenas de tesouros antigos, muitos dos quais nunca tinham sido apresentados em terras de Sua Majestade. Mas diversos artefactos da exposição referem-se ao seu amante, "o belo jovem grego Antínoo" (afogado no Nilo em circunstâncias suspeitas), que o acompanhava nas suas viagens pelo império. Entre eles, um poema escrito sobre papiro descrevendo dois homens caçando juntos. Aqui não resisto fazer a ponte com o Adriano, de Yourcenar, e lembrar que o imperador lastima que a memória dos homens seja um cemitério abandonado, onde jazem, sem honra, os que deixámos de amar. O Adriano, da romancista belga, reclama o direito de chorar, sem fim e sem limites, o seu jovem morto. Em sua memória espalhou pelos quatro cantos do Império uma profusão de estátuas de Antinoos, para que a beleza fria do mármore comunicasse a todos que o não esquecia nem cessava a sua dor. A tanto excesso, os seus contemporâneos e, mais tarde, os historiadores, chamariam de cegueira. Mas Adriano chamava-lhe fidelidade e doía-lha a incompreensão. “Sinto que à minha volta todos se incomodam com a minha dor. Toda a dor prolongada insulta o seu esquecimento”.

Uma primeira leitura levaria a considerar que a homossexualidade expressa do grande conquistador representaria um atractivo para o público, na medida que abateria um cliché segundo o qual os magnificentes imperadores da antiguidade seriam exemplos de masculinidade. Contudo, os ingleses têm dado testemunho do crescente descontentamento com a permanência de seus soldados no Iraque discutindo a necessidade de serem mantidas tropas no território ocupado. Seja qual for a intenção subjacente aos curadores daquele descomunal museu secular (provavelmente as duas enunciadas) o que é relevante é a oportunidade de se conhecer o importante legado de uma clássica personagem histórica cujo império ainda afecta as nossas vidas …

Hadrian Empire and Conflict (clicar para ver vídeo)

Friday, July 25, 2008

amor alquímico…

O amor comove-me. E não estou a pensar no bem-querer universal do "amai-vos uns aos outros". Falo do adormecer tendo no coração “uma prece pelo bem amado, e na boca, um canto de louvor”. E isto a propósito de “Vieira da Silva, Arpad Szenes e o Castelo Surrealista", título da exposição patente no Museu da Electricidade. Obras de Arpad que ilustram a sua mulher, acompanhadas por frases de Mário Cesariny. As palavras do surrealista guiam-nos no labirinto da relação entre o casal, uma afinidade que o poeta qualifica de "amor alquímico”. Arpad além de húngaro era também judeu, o que provocou a sua fuga à perseguição nazi, para Portugal, durante a segunda guerra e foi por este homem de cabelos ruivos que Maria Helena se apaixonou. Menina portuguesa, vulnerável e melancólica, que se deslumbra em Paris com a agitação da capital francesa num período rico na partilha de ideias por parte de artistas plásticos, escritores, músicos e bailarinos. É muito singular a história de vida dos dois, oficialmente apátridas. São comoventes os gestos de ternura que partilham, um par ainda bem que diferente. A cumplicidade de dois pintores que não cabe numa exposição mas cujas imagens nos beijam. Uma perspectiva pessoal, intimista, onde Vieira da Silva é retratada pelo seu apaixonado. São mais de 40 desenhos de diversas épocas, a pastel, grafite e guache e a maioria deles integram o ciclo "Le couple" arquitectado ao longo dos tempos pelo artista. Mas a pintura não pede autorização para entrar e são vários os trabalhos a óleo de Arpad sobre Vieira. Da pintora também irrompem duas obras, com o mesmo tema e título: Arpad. Para melhor se mergulhar na vida e na obra dos dois talentos são exibidas fotografias que se reportam aos anos entre 40 e 80 e ainda alguns objectos que estiveram arrecadados durante épocas no atelier do casal. As frases que agora estão lado a lado, com as obras, resultam de um acompanhamento amiudado que Cesariny foi fazendo ao trabalho de ambos, dando origem a um deleitoso estudo. Em Arpad e Vieira, Cesariny desvendou um exemplar caso "amour fou", fundamentando o conteúdo e o nome Castelo Surrealista que inventou para eles viverem e trabalharem.

Quando contemplo Arpad abraçando Maria Helena é de ouro a paisagem que nasce e quase dói…

Sunday, June 29, 2008

o povo das estrelas...

(foto de Valter Ventura)

“Contra a opinião pública dominante, consensualmente ciganófoba, procederemos à crítica científica da essencialização de uma «cultura nómada», supostamente imoral e parasitária, inventada para melhor marginalizar milhares de portugueses a quem continuam a ser recusadas as oportunidades que a Constituição prevê para todos os portugueses sem distinção, e preocupar-nos-emos com a falta de memória histórica e democrática de políticos, governantes, intelectuais, educadores e eclesiásticos acerca da perseguição sistemática feita a esta minoria”. In O Povo das Estrelas nas Festas de Lisboa 2008.

Em tarde de domingo quente perdi-me entre ciganos. Rotas & Rituais é um conjunto de iniciativas que se centra nesta gente. Confesso que sempre tive uma atracção (antropológica, sociológica, ou outra) por estares e sentires diferentes, sendo que incluo os ciganos neste tabuleiro de interesses. Mas o que encontro amiúde são concepções que se foram cristalizando sob a feição de estereótipos: um certo romantismo ou temor (cf. culturas ciganas). A mundividência cigana caracteriza-se pela sua "identidade de resistência", conceptualmente construída na relação com o outro (o paílho, i.é, o não cigano) mas políticas de inclusão que conhecemos insistem na assimilação. São politicamente correctas, mais eficazes, supostamente mais igualitárias e o cigano é recompensado pelo seu enfileiramento: permitem que os filhos ingressem na escola e consequentemente auferem rendimentos mínimos. Isto é, o(s) Estado(s) tende(m) a varrer os aspectos culturais e fazer emergir os ciganos como um problema social, tornando-se necessário "integrá-los". Revelam "desajustamentos sociais" quando se pretende inclui-los, razão pela qual as políticas de inclusão consideram a necessidade de os inserir no espaço social dominante e desprezar o seu território cultural e étnico. Estes artifícios tendem a construir um cigano que não o é de facto, mas como é necessário que seja. Esses portugueses com quem nos cruzamos há gerações e que continuamos a considerar diferentes e são singulares, de facto, têm ainda muito para revelar, sendo necessário haver um esforço (mútuo) para que sejam aceites “as riquezas humanas e espirituais das quais os ciganos são portadores” (in agência.ecclesia.pt/).
(foto de Renato Monteiro)

As exposições que percorri entre o Padrão dos Descobrimentos e o Cinema S. Jorge contribuem para a produção de um "discurso" que valoriza um olhar acerca da etnicidade cigana: “Ciganos na Cidade”, de Valter Ventura [como ponto de partida desta “amostra” vivencial, cabe perguntar: Será que as reminiscências de um passado, com experiência de organização espacial em tenda, se repercutem na vida de hoje? Será que o facto de algumas famílias ciganas se terem, em parte, constituído temporariamente como habitantes de bairros de barracas veio a produzir marcas que se verificam, são reais e perduram? Como aproveita e organiza o cigano o novo espaço em que se insere? (…) /Fernanda Reis], e uma mostra de trajes femininos ciganos [lenço na cabeça, xaile, saia comprida, rodada ou de pregas finas, saiotes brancos com rendas na ponta e um grande bolso para guardar dinheiro ou outros pertences, são características dos trajes típicos das mulheres ciganas. Por sua vez, o homem cigano opta por tons escuros, onde o fato e o chapéu preto e as longas barbas estão associadas ao sofrimento e à sabedoria] e “Ciganos do Sul”, mostra de fotografia de Renato Monteiro. Uma interessante viagem neste final de tarde lisboeta…

Tuesday, April 22, 2008

gosto "à Grega"...

Li algures que apreciar uma exposição onde reinam as artes decorativas é como experimentar um prazer envergonhado. Afinal estas acariciam algo de certa forma reprovado por alguns puristas dado o seu carácter funcional. Não obstante incitam a um certo deleite estético e prolongam o olhar. Para alem disso com elas é afiançada a ausência de gigantescas paixões ou decepções. É o que sucede em O Gosto “à Grega” onde a alguns exemplos de escultura e pintura se acrescenta porcelanas, peças de mobiliário e de ourivesaria, para dar a conhecer a influência dos cânones da beleza grega em 25 anos do século XVIII francês. Este estilo foi perfilhado por toda a Europa mas a exposição centra-se na produção francesa e nos efeitos que teve na época - o "gosto à grega" que acabou por se manifestar igualmente no vestuário, nos penteados, na decoração de lojas e na temática das festas de sociedade da altura. As obras um exemplo perfeito desta nova gramática decorativa, cedidas pelo Louvre, a que se associam também peças provenientes do Património Espanhol e do próprio Museu Calouste Gulbenkian. Esta apresentação, que destaca o papel relevante de uma elite social e intelectual, enquanto precursora da implantação do gosto "à grega", anteriormente exposta no Palácio Real em Madrid, vem dar sequência à exposição "Os Gregos Tesouros do Museu Benaki, Atenas".

Um refúgio estimável para se passar uns instantes em distinta companhia. Distante e próximo da Grécia, longe e perto da outra arte, esta foi uma escapatória para, uma vez mais, trocar a hora de almoço por um mergulho na galeria de exposições temporárias da Fundação…

Ver vídeo sobre a exposição aqui.

Friday, April 11, 2008

a educação do príncipe...

Almoço desmarcado. Abril algo chuvoso. Só, enfio-me na galeria de exposições temporárias da Calouste Gulbenkian. A Educação do Príncipe. Preciosidades da colecção Aga Khan, precedentemente exposta em Parma, Londres e Paris e que agrupa obras de arte do acervo do futuro Museu Aga Khan. Os atentados de 11 de Setembro que deixaram os mundos islâmico e Ocidental de costas voltadas, estão na origem da construção daquele museu dedicado à arte do Islão pela Fundação Aga Khan. Depoimento da enorme diversidade do património cultural das civilizações muçulmanas abrangendo uma área geográfica que se estende da Península Ibérica à China, num período de cerca de mil anos, do século IX ao XIX. A mostra organiza-se em dois recônditos temas: «A palavra de Deus» e «O Poder do Soberano», agregando um conjunto de miniaturas iluminadas, manuscritos, joalharia, cerâmicas, objectos de madeira e metal entre outros. Notável exibição. Estojos de escrita, uma bússola em ouro, álbuns de caligrafia, peças de cerâmica e objectos de metal. O que mais me magnetizou foi a forma de representação figurativa que testemunhei, a opulência dos detalhes, a formosura dos estampados, os motivos vegetais, astúcia milimétrica da representação, o deslumbramento das cores. Para lá da beleza formal, é a laboração que cada uma delas exigiu que ali se celebra.

príncipe fosse eu…

Friday, March 23, 2007

lavar os olhos com o brilho das imagens...

Brilho das Imagens. Pintura e Escultura Medieval do Museu Nacional de Varsóvia/ Políptico do Convento de Clarissas de Wroclaw, 1350-1360

O Museu Nacional de Arte Antiga tem patente uma belíssima exposição intitulada "O Brilho das Imagens". O título escolhido deve-se ao recurso insistente dos fundos em ouro trabalhado, nas obras de pintura. A mostra reúne aproximadamente 50 obras entre pintura e escultura do período medieval (séculos XII a XVI) e tem como peça mais antiga " A Virgem no trono com o Menino".

Reunindo grandes retábulos de altar, pinturas, relevos e esculturas polícromas em madeira ou preciosas peças devocionais, esta exposição apresenta um fascinante conjunto de obras pertencentes à colecção de arte medieval do Museu Nacional de Varsóvia. A selecção de peças é bem demonstrativa da evolução das principais expressões criativas e das declinações formais da Arte Gótica num vasto espaço territorial centro-europeu, surpreendendo não só pela escala e magnificência visual de muitas das pinturas e esculturas que integram este percurso expositivo, como também pela complexidade dos seus referentes plásticos face a modelos e centros polarizadores (Itália e Flandres) da arte ocidental europeia durante a Baixa Idade Média.

A possibilidade de ver um tão relevante conjunto de obras medievais temporariamente retiradas, pela primeira vez, da notável exposição permanente do principal museu da Polónia, constitui uma oportunidade rara. A não perder esta exposição com obras de raríssima qualidade que nunca foram vistas em Portugal.