Se muitos cineastas deixaram já seduzir-se pela pintura, o que acontece quando, por sua vez, são os pintores que se deixam seduzir pelo universo cinematográfico? "Sedução, Cinema & Pintura" é a exposição que inaugurou no Sintra Museu de Arte Moderna.
Foi esta a exposição que ontem tive a oportunidade de apreciar naquele belo museu e que me transporta sem querer para qualquer um dos excelentes espaços museológicos europeus de arte moderna e contemporânea. Sensação semelhante acontece-me em Serralves.
"Sedução, Cinema & Pintura" assume-se como uma resposta possível a esta questão, através da projecção de filmes realizados por artistas representados na Colecção Berardo, que também optaram pela experiência do cinema ou do vídeo, como, como Andy Warhol, Julian Schnabel, David Salle, Cindy Sherman, Robert Longo, Ernesto de Sousa, Julião Sarmento, Ângelo de Sousa, Jorge Molder, Noronha da Costa, Vítor Pomar. Interessa assim evidenciar a forma como esses objectos fílmicos acrescentam e reflectem uma identidade visual e plástica previamente construída ou como se transformam em domínios únicos de experimentação.
"Sedução, Cinema & Pintura", um óbvio pleonasmo, poderá conduzir a uma grande variedade de perspectivas e temas, susceptíveis de orientar diversos eventos, festivais, mostras, conferências. Na exposição, o conceito assume-se com um sentido preciso: a sedução é o denominador comum de obras de autor, no campo da pintura e no universo do cinema, quer com a apresentação de filmes e vídeos realizados pelos próprios artistas, quer na utilização pictórica ou fotográfica de imagens, composições ou ambientes conectados com narrativas ou aparatos cinematográficos.
A selecção apresentada começa com um nome significativo, Andy Warhol, o fazedor de imagens para uma sociedade de consumo superficial e ambígua. Fotografias suas de vedetas mediáticas e a sedutora figura do star system, Judy Garland, acompanham filmes feitos na Factory por Paul Morrissey como Flash (1968), Trash (1970), Heat (1972), Women in Revolt (1971) e a realização de Mary Harron I shot Andy Warhol (1996). Seguem-se artistas que acrescentam no cinema uma identidade plástica previamente construída, nas suas obras. David Salle, com Search and Destroy. Julian Schnabel com Before Night Falls ou Basquiat, reflexões sobre a liberdade cortada por imposições exteriores. Parasite (2003) de Julião Sarmento evidencia um olhar voyeurista sobre o erotismo, obsessivo na sua obra. Ernesto de Sousa no D. Roberto (1962) marca um teor chaplinesco ao serviço da crítica social. De Noronha da Costa, realizador e pintor da luz, O Construtor de Anjos (1978). De Cindy Sherman, apresenta-se Office’s Killer (1997). Robert Longo entra nos caminhos da ficção científica. Vitor Pomar numa aproximação Zen. Jorge Molder numa divagação da memória, em Linha do tempo (2000). Outros artistas, como Ângelo de Sousa transformam os objectos fílmicos em domínios de experimentação, numa coerência pura. No âmbito da sedução, apresentam-se, ainda, obras que traduzem o apelo do corpo, da representação social, das composições narrativas, com seus ícones e suas mitologias. Surge também o confronto inevitável entre discursos de apologia e aqueles que elaboraram a sua crítica – pela expressão da decadência e da obsessão.
Fonte: Página da Câmara Municipal de Sintra/Sintra Museu de Arte Moderna.
1 comment:
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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