"... na primeira exposição que fizemos, em 1949, resolvemos fazer uma noite dos poetas, num aposento muito engraçado, todo forrado com figuras, que era da Pathé-Baby, ali ao pé da Sé Catedral. Lemos poemas do Victor Brauner, do André Breton, do Antonin Artaud e alguns nossos. Com uma certa encenação. Estilhaçámos uma data de vidros no chão e deitamos tinta. Mas a encenação, grande ou pequena, era só para nós, porque não foi lá ninguém, nem nós queríamos que fosse. Fechámos a porta à chave. E assim continuámos. A imprensa de Lisboa não dedicou uma linha à nossa exposição, mas a do António Pedro e do então Grupo Surrealista de Lisboa causou um escarcéu desgraçado. O António Pedro tinha muitos conhecimentos, assustava muita gente, nós não assustávamos ninguém ...
Nos fizemos uma revolução. Mas acho que implodimos, não explodimos. E andámos a sempre clandestinos por aí. Clandestinos no sentido lato: fazer uma coisa num sítio e desaparecer; depois aparecer noutro e desaparecer ... Até que houve as célebres sessões na Casa do Alentejo, em que fomos dizer ao povo o que era o surrealismo. E o que era o surrealismo? Éramos nós [risos]. Lemos textos, poemas, e uma declaração chamada Afixação Proibida. A assistência gostou muito (...)"
A propósito do Livro em Serigrafia “Timothy McVeigh - O Condenado à Morte”
(...)"Não devia ser permitida, a pena de morte. Neste caso (atentado em Oklahoma, EUA) ele matou 700 pessoas, mas a sociedade não fez mais do que juntar o assassinato de mais uma. Sou contra a pena de morte, mesmo nos casos extremos. Este é um caso extremo, um tipo que mata 700 pessoas, mas depois é preciso perceber o significado da atitude dele. Porque ele é tudo menos um tonto ou um tresloucado que só sabe da sua loucura. Ele diz: ‘Não importa quão grande é o castigo. Não importa qual a porta do inferno que se abre ou não abre’. É um tipo lúcido, enlouquecido com a América do Norte."
(...)”Li na imprensa o que acontece quando matam o desgraçado e fiquei horripilado. Dizia assim: “Se tudo correr bem, a operação demora sete a oito minutos”. Se tudo correr bem… Nem que levasse meia hora, não têm nada de matar o homem. Ele também não devia ter matado 700 pessoas, mas isso já é outro caso, é outro lado. Olho por olho, dente por dente, é a selvajaria. Eu suponho que, por muitas melhoras que haja nos sistemas sociais, políticos e económicos, há-de haver sempre um item de muita escuridão. Faz parte do Homem. Ora, o que há a fazer é lidar o melhor possível com as situações extremas."
[ Não perder in Revista Tabu do Semanário Sol, 7 de Outubro de 2006, entrevista realizada ao escritor pelo jornalista Vladimiro Nunes. Penitencio-me pelo atraso...agradeço ao Blog Almovreve das Petas a lembrança]
Nos fizemos uma revolução. Mas acho que implodimos, não explodimos. E andámos a sempre clandestinos por aí. Clandestinos no sentido lato: fazer uma coisa num sítio e desaparecer; depois aparecer noutro e desaparecer ... Até que houve as célebres sessões na Casa do Alentejo, em que fomos dizer ao povo o que era o surrealismo. E o que era o surrealismo? Éramos nós [risos]. Lemos textos, poemas, e uma declaração chamada Afixação Proibida. A assistência gostou muito (...)"
A propósito do Livro em Serigrafia “Timothy McVeigh - O Condenado à Morte”
(...)"Não devia ser permitida, a pena de morte. Neste caso (atentado em Oklahoma, EUA) ele matou 700 pessoas, mas a sociedade não fez mais do que juntar o assassinato de mais uma. Sou contra a pena de morte, mesmo nos casos extremos. Este é um caso extremo, um tipo que mata 700 pessoas, mas depois é preciso perceber o significado da atitude dele. Porque ele é tudo menos um tonto ou um tresloucado que só sabe da sua loucura. Ele diz: ‘Não importa quão grande é o castigo. Não importa qual a porta do inferno que se abre ou não abre’. É um tipo lúcido, enlouquecido com a América do Norte."
(...)”Li na imprensa o que acontece quando matam o desgraçado e fiquei horripilado. Dizia assim: “Se tudo correr bem, a operação demora sete a oito minutos”. Se tudo correr bem… Nem que levasse meia hora, não têm nada de matar o homem. Ele também não devia ter matado 700 pessoas, mas isso já é outro caso, é outro lado. Olho por olho, dente por dente, é a selvajaria. Eu suponho que, por muitas melhoras que haja nos sistemas sociais, políticos e económicos, há-de haver sempre um item de muita escuridão. Faz parte do Homem. Ora, o que há a fazer é lidar o melhor possível com as situações extremas."
[ Não perder in Revista Tabu do Semanário Sol, 7 de Outubro de 2006, entrevista realizada ao escritor pelo jornalista Vladimiro Nunes. Penitencio-me pelo atraso...agradeço ao Blog Almovreve das Petas a lembrança]
1 comment:
Muito inteligente!
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