
Brevíssimos highlights com sublinhados meus e outros emprestados (sem autorização) a Eduardo Pitta (cf. daliteratura.blogspot.com)
[os seus livros] «Ainda agora estava em Estocolmo a falar com um homem da Academia e ele dizia isso: Dizem que os seus livros são polifónicos, mas é sempre a mesma voz.»
«Se tivesse que escolher um escritor só, a seguir a mim, escolhia o Quevedo.»
«Honestamente, se tivesse que escolher um escritor escolhia-me a mim.»
« São dois corpos. Eu um, o livro outro. Dois organismos vivos. O livro começa a correr bem na escrita quando eles se começam a fundir.»
«Eu devia ter começado a publicar só a partir de O Esplendor de Portugal.» [o 12.º romance] ... Porque nos últimos livros tenho vindo a descobrir coisas que não sabia que existiam dentro de mim. Estou cada vez mais autista.»
«A minha cabeça não vai tão fundo como nos livros. E não é a cabeça. É o livro que fica inteligente.»
«Há alturas em que escrevo a chorar, por exemplo. Isto nunca me tinha acontecido nos primeiros livros. E não é de tristeza, é uma alegria enorme. Nunca tinha tido um sentimento assim. Muito mais intenso que um orgasmo. Não acontece todos os dias, mas acontece por momentos, com uma força tremenda. É uma coisa recente, dos últimos três ou quatro livros.»
«Ler, leio. Leio imenso. O problema é que leio cada vez menos ficção, começo logo com vontade de corrigir. E acho muito fraco. No século XIX havia trinta génios a escrever — agora se houver três ou quatro é muito... — Tolstoi, Turgueniev... [...] Podemos continuar, Púshkin... Depois, em Inglaterra, só as Brontë eram três. E se eu tivesse que escolher um romance só, escolhia O Monte dos Vendavais, aquilo não é romance nenhum, é uma coisa... Continuo apaixonado por ela, é uma coisa extraordinária. Depois o Lewis Carroll, e o Dickens, e o Thackeray e o Wilkie Collins, o Hawthorne, o Mellville, o Whitman, a George Elliot, etc, etc. Agora não há, não é?»
«Mas tenho a sensação de que ando a negociar com a morte. Só mais um livro, só mais um livro...»
«Em Jerusalém, a minha sensação era: Afinal é só isto? O Calvário é uma coisa debaixo de uma placa de vidro.»
«Porque descobri [...] que a escolha política é a mesma coisa que a escolha de um clube, é muito mais afectiva do que racional. Se fosse racional, toda a gente pensava da mesma maneira politicamente. Da mesma maneira que se a escolha de um clube fosse racional toda a gente era de um clube [...] Há um homem, por exemplo, do CDS, de quem sou muito amigo. Não o vejo há muitos anos mas continuo a ter por ele a mesma ternura e o mesmo amor, o Ribeiro e Castro. É muito inteligente, muito sensível, profundamente tolerante, ao contrário do que parece, democrata no mais nobre sentido da palavra, um homem que tive o privilégio de conhecer e de quem fiquei a gostar muito até hoje. Aquilo que ele pensa politicamente não é o que eu penso, mas essas escolhas não são racionais. Uma pessoa não é de direita porque chegou à conclusão que. É como os comunistas, aí entramos na matéria de fé. Não entendo como é que se pode ser comunista. Racionalmente, não entendo como é que se pode pertencer àquele fóssil que ainda continua a respirar de vez em quando. Mas isso é inevitável em qualquer partido. Todos os partidos são obviamente reaccionários, no sentido em que têm de ser conservadores, se não deixavam de existir.»
«Conheço o Mário Soares, obviamente, que é talvez o homem com mais charme que já vi na vida.»
«O problema do nosso sindicalismo é que, ao contrário do americano, está muito ligado aos partidos. A CGTP está demasiado ligada ao partido comunista, e aquilo é tão ingénuo, tão primário. E depois não oferecem alternativas. Eu se fosse dirigente sindical nunca reagiria assim. Porque os argumentos não colhem. Continuar a ouvir falar nas conquistas de Abril? Por amor de Deus...»
«É de uma ambição desmedida — pôr um autista a falar. Como é que vou fazer? Até porque não quero repetir a primeira parte de O Som e a Fúria [de William Faulkner].»
«... fui falar com travestis e não me serviu para nada. Nunca entrei numa discoteca. Os mundos do travestismo, da droga, são-me completamente desconhecidos. Inventei tudo.»
[o próximo livro] «O Meu Nome É Legião é ocupado por um bando de miúdos delinquentes entre os 13 e os 18 anos, daqueles miúdos negros que nasceram em Portugal, que não são bem portugueses nem africanos. A voz é essa, são eles. Foi completamente inesperado. Nunca pensei escrever um livro com um bando de miúdos que roubam carros, roubam pessoas...»

Ontem não te vi em Babilónia, 2006
1 comment:
A primeira ( e única) vez que tomei consciência da existência/li algo sobre Antônio Lobo foi numa revista literária brasileira, num artigo sobre Saramago e outros grandes autores da língua. Minha ignorância sobre o autor continua cavalar, mas este post já é um bom remédio. Gostei do que li.
Abraço!
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