Sunday, November 05, 2006

love letters...

A peça do dramaturgo norte americano A. R. Gurney, Love Letters, em cena no Teatro-Estúdio Mário Viegas, conta-nos duas histórias– Andy (Alberto Vilar) e Melissa (Alina Vaz) - mostrando leituras e escritas distintas.
Andy é a representação do homem americano: tecnocrata, sério, cioso do seu dever de homem de sucesso e de pater famílias, mas que acalenta o tímido sonho de viver alguns instantes de felicidade.
Melissa é a imagem da mulher intelectual, consciente da sua importância na sociedade, inteligente e ousada, mas que assume a sua vulnerabilidade apesar de não desistir da liberdade de ser quem é.
Amigos, namorados, amantes e cúmplices, Andy e Melissa alimentaram ao longo de mais de 50 anos uma relação forte e densa, mantida maioritariamente por carta. Ligação feita de encontros e de desencontros grafados no coração e na correspondência trocada entre os dois protagonistas. Devido às diferenças temperamentais e também por causa do tempo e das circunstâncias, eles nunca conseguiram ser um casal. Por isso construíram vidas paralelas, casaram, descasaram, tiveram filhos. Mas, simultaneamente e secretamente, trocaram cartas e juras. E escreveram beijos e sonhos. E amaram. E mentiram. E cresceram. E um dia, Melissa partiu…
Love Letters é um texto tocante e com sentido de humor que aposta na escrita cénica de uma aparentemente simples leitura de cartas trocadas durante anos entre uma mulher e um homem que atravessaram várias etapas das suas vidas, desde a juventude até ao alcance da maturidade. A peça escrita em 1989 por A. R. Gurney foca questões determinantes e actuais designadamente, o amor, o dinheiro, a profissão, o prazer, o dever, a política, a família, a imagem social, a mentira, a dor, o cinismo, a falsidade, a paixão, etc. Torrentes de palavras. Grafias de duas vidas.

Teatro-Estúdio Mário Viegas hoje à tardinha, ambiente cinzento, cenário exterior atraente – a espreitar para o Teatro S. Carlos –, boa companhia, pouco público (espectadores apenas nas três primeiras filas e decerto por convite, pareceu-me), os aplausos possíveis para dois actores que merecem no mínimo sala cheia. Foi bom ter atravessado a ponte…

[A saudade que tenho de receber cartas – cartas mesmo – não e-mails; quando era criança e mesmo já adolescente esperava o carteiro para aferir da correspondência que me era dirigida (?) …o contentamento de ver os selos colados em cartas que vinham de longe e de muito longe, enfim, agora entregue pelo profissional dos CTT só as contas do telefone, bancos ou qualquer reembolso de aviso de recepção…]

Fonte: http://www.companhiateatraldochiado.pt/

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