Assinala-se hoje o aniversário do nascimento em 1882, em Dublin de James Augustine Aloysius Joyce - James Joyce.
A obra-prima de Joyce, o épico Ulysses, sobre a vida em Dublin, situa-se num só dia que o escritor escolheu que fosse 16 de Junho de 1904. Chamou-lhe Bloomsday porque a personagem central da novela era um Senhor Bloom, que só aparece no quarto capítulo, intitulado Calypso, o nome da ninfa do mar filha de Atlas, o Titan. Refira-se que os 18 capítulos da obra têm todos nomes de divindades da mitologia grega. No 4º capítulo, Joyce transforma um banalíssimo pequeno-almoço em algo preocupantemente orgânico, quando descreve que o Senhor Leopold Bloom comia deleitado as entranhas de animais – ele gostava da canja grossa com moelas, de tiras de fígado fritas e panadas e, mais que tudo, de rins às fatias e salteados. Pelos vistos Bloom não tinha muito que fazer nesse 16 de Junho de 1904 e então passa-o indo pela cidade fora, vendo gente, e Joyce vai descrevendo tudo, momento a momento, de uma sandwich de queijo comida à tarde, a uma côdea atirada a uma gaivota, a um olhar lânguido a uma mulher bonita – e, página a página, a narração penetra numa série de personagens e acaba no monumental capítulo 18, num monólogo da mulher de Bloom, Molly, escrito freneticamente sem uma única virgula, ponto ou qualquer pausa minimamente redentora, de uma exigência de concentração total que Joyce exige no final da sua obra e que acaba num suspiro de uma carnalidade arrebatadora, com a Molly amante a entregar-se com abandono à luxúria do prazer físico, constantemente sugerido em todo o livro.
Ulysses levou a Joyce sete anos a escrever. Bloomsday, o 16 de Junho de 1904, tornou-se num dia tão importante para a cultura irlandesa que é hoje um feriado nacional.
Foi muito agradável ter estado hoje entre as 13 e as 15h, no Jardim de Inverno, no Teatro S. Luiz, comemorando este dia em companhia dos Lisbon Players, que leram partes significativas de Ulysses, e do The Lisbon String Quartet. Neste princípio de tarde senti-me com alma irlandesa…
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7 comments:
li ulisses. há muito.
adoro um pequeno.magnífico conto de joyce que reli pela milésima(!?) vez ontem ... o gato e o diabo. conheces? :)
quanto ao teatro s. luís está um lugar de encanto ... sem dúvida: espaço e dinâmica.
sou do porto mas estive lá algumas vezes :)
beijO
Luís, o teu blog é mesmo uma referência cultural! Pelo que ensinas e fazes (re)descobrir! Pelo menos, para mim, muitas são as novidades! Ainda bem! Obrigada!
Bom domingo!
muitas beijocas
na Irlanda a alma renasce.
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magnifica descoberta a minha.
a deste blog.
abraço.
Bela leitura, belos instantes a cheirar a página folheada de livro...
Abraço,
Fernando Manuel
Um dia lerei Ulisses. Tenho lido Faulkner, quando me sentir preparado espiritualmente pegarei o livro do Joyce para ler.
Esta é uma das minhas grandes falhas em literatura apesar de ter o livro (Ulisses) lá em casa.
Estou sempre á espera do momento ideal para o ler e vou adiando... a ver nestas férias quebro o enguiço!
Beijinho
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