Friday, June 08, 2007

shortbus


Tobias, the Mayor: New York is where everyone comes to get fucked. (...) New York is where everyone comes to be forgiven.

SHORTBUS dá-nos a conhecer a vida de várias personagens com algo em comum: uma vida emocional e sexual insatisfatória. Uma viagem, ao mesmo tempo trágica e cómica, pelos meandros de um clube. Uma terapeuta sexual que nunca teve um orgasmo, depois de muitos anos a fingi-los com o marido, uma dominatrix que não consegue manter relacionamentos, um casal gay que tenta decidir se pretende introduzir terceiras pessoas na relação, e as pessoas que entram e saem nas suas vidas. O realizador junta-os a todos numa festa semanal chamada Shortbus, uma louca mistura de diversos desejos e fantasias sexuais. Clube "underground" onde se misturam música, política e sexo. Acontece numa Nova Iorque onde os ritmos se aceleram a cada segundo que passa. Um filme que aborda, com frontalidade, novas formas de conciliar o racional com os prazeres da carne e as necessidades imperativas do coração.

Estamos perante conflitos que, se já não são assombrados pela Sida, não deixam de conviver com outro fantasma: o 11 de Setembro. O atentado está presente, seja insinuado nas falhas constantes de electricidade, que afectam toda a cidade. Ou na tristeza, vazio e solidão que levam as suas personagens a frequentar o Shortbus, misto de clube de sexo e cabaré, onde tudo é permitido. Gerido pela drag queen Justin Bond, que o descreve como "just like the 60s, only with less hope", o clube é um refúgio onde cada um tem espaço para resolver as suas neuroses; ali observar é também participar e a par do sexo, em grupo ou nem tanto, existem discussões sobre literatura e arte. Não só se despem corpos como almas. Ambos são inteiramente explícitos. E o sexo, mais do que uma fuga à realidade deste conjunto de pessoas, é um caminho para se descobrirem a si mesmas, o que, em última instância, significa descobrirem o amor.

A extravagância deste enredo depressa se ultrapassa quando o pano cai, e revela que todo o individuo procura novas experiências, algo de novo, algo que signifique algo, uma solução onde tudo faça mais sentido, e onde os medos mais profundos sejam superados...

Shortbus fez-me sorrir e pensar sobre vários aspectos do quotidiano que tomamos por adquirido e certo. Para conseguirmos seguir o interior de cada personagem, temos de olhar para estas pessoas sem preconceitos. Estamos perante uma interessante e cruel abordagem à psique humana no contexto das grandes cidades. Tudo isto no meio de uma banda sonora a cargo dos Yo La Tengo; a voz final pertence a Scott Matthew com [We All Get It] "In the End". Afinal sempre há alguma esperança...

13 comments:

Anonymous said...

achei que você estava falando de um livro, estava interessado em comprar. gostei da história e do jeito que vc se referiu a ela.

filme é mais barato, mas é mais difícil que chegue aos cinemas por aqui...

relatosdeumruivo said...

Sem dúvida, uma história interessante, concordo. No final de ver, estava sem palavras e andei imenso tempo a pensar nisso. Enfim, é como se fosse a nossa própria aparição. Obrigado pela passagem no meu espaço.

Maria P. said...

De facto eu estava a ler o teu post e a pensar também no dia-a-dia, as várias faces que o Homem mostra e... as que não mostra.

Bjos*

Páginas Soltas said...

Ler os teus posts,, e o que eles contém...é um regalo para para os sentidos!

Sinceramente...eu já estava com saudades de te ler.

Sempre que o faço...fico a meditar... quer seja na sugestão de um livro ou filme!


Bom fim de semana.

Beijo da

Maria

Ka said...

"todo o individuo procura novas experiências, algo de novo, algo que signifique algo, uma solução onde tudo faça mais sentido, e onde os medos mais profundos sejam superados..." -muito verdadeira esta frase...então a parte dos medos superados nem se fala!

Fiquei curiosa! Até porque ainda ontem um amigo que prezo muito também me falou deste filme.

Beijinho e bom fim-de-semana

o Reverso said...

parece com muito interesse.
fica-se com pena de não ver.

D. Maria e o Coelhinho said...

O Coelhinho nunca me levava ao cinema.


D. MARIA

M&S said...

É, a psique humana no contexto das grandes cidades é uma viagem, ao mesmo tempo trágica e cómica...
:)
Podia ter vindo aqui mais cedo... mas vim agora.

Luís said...

Poucos filmes me fizeram sentir um vazio tão grande dentro de mim como esse... Foi estranho sair do cinema depois de o ter visto.

Luís said...

Eu explico: o vazio que sentimos quando verificamos que as relações que temos vindo a estabelecer têm o seu "quê" de esterilidade...

Zeze said...

Olá
Linda foto, parabéns, eu adoro fotos, fotos com gosto e com sentimento...

Um Abraço

Anonymous said...
This comment has been removed by a blog administrator.
Wellvis said...

Lembrei-me de uma frase do filme citada por uma personagem "..I used to want to change the world. Now I just want to leave the room with a little dignity".