Monday, June 04, 2007

em busca do mecenas perdido...

Não, não há banquetes, nem bailes, nem paradas, nem champanhe a rodos, não, não são precisas toilettes nem maquilhagens, nem são precisos louvores, laudas, encomendas, não há cheques nem sequer gorjetas.
São peças de teatro, são teatralizações, actores, actores e palavras. E escritores, essa gente bem vinda ao teatro.
Os tempos cruzam-se, há fantasmas, século XVII e a Corte do Rei Sol, Hollywood, as termas de Esterhazy, o fim do século XVIII, e as trombetas da liberdade a tocarem, mas também pode haver mulheres nuas, amores desencontrados, sutiãs e fala-se de dinheiro, dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. Andam uns à procura dele, outros a só querem o amor, o poder, o louvor.
São vários divertimentos uns em honra, outros troçando, saudando, imaginando as sempiternas relações desse casal para sempre dançando, o mecenas e o artista, condenados a suspeitarem um do outro, a amarem-se com ódio e admiração, unidos, desunidos na procura da vitória, vitória sempre contra a morte, pela beleza.
Imaginada beleza, criada beleza, coleccionada, possuída, fechada em cofres. São paródias, divertimentos, brincadeiras, frivolidades.
Sabendo, com Max Ophüls, que a “frivolidade só é frívola para aqueles que não são frívolos”.

Convite de Jorge Silva Melo para festa dos Clássicos na Gulbenkian

Os Clássicos chegaram ao fim numa edição dedicada aos Mecenas. Depois da Tragédia Grega, de Shakespeare, de Camões e dos Contos que a Voz Contou, a Fundação e o grupo Há4 convidaram os Artistas Unidos a projectar uma sessão Em Busca Do Mecenas Perdido. Ontem, domingo, o hall e a escadaria por onde desfilaram as várias edições dos Clássicos conheceram quatro peças inéditas e mais um mistério, “tudo à volta de fantasmas de mecenas”.

De modo informal foram lidos e interpretados textos de Almeida Faria, José Maria Vieira Mendes, Miguel Castro Caldas, Jacinto Lucas Pires e Jorge Silva Melo. De Almeida Faria subiu ao palco improvisado o mistério Vanitas, a partir da figura de Calouste Gulbenkian, um livro editado este ano com imagens do tríptico de Paula Rego que tem o mesmo nome –a escolha do tema "Mecenas, Mecenas" foi também uma forma de homenagear a figura do milionário que esteve na origem da Fundação, numa altura em que esta comemora 50 anos de existência.

Durante tarde e noite, houve lugar para outros cenários: Duas Páginas, um texto inédito de José Maria Vieira Mendes, sugere uma viagem até à corte de Luís XIV, o Rei Sol. Hollywood no seu fulgor, com a peça-radiofónica de um acto sobre a relação de Jane Russel e o milionário Howard Hughes, de Jacinto Lucas Pires; a Fala da Criada dos Noailles, a partir de Buñuel, num texto de Silva Melo; ou ainda o inédito de Castro Caldas em que músicos, escritores e bailarinos explicam o que é Levantar a Mesa. Entres estes Clássicos foi possível escutar canções de opereta e cantigas com amigos de mecenas e outros convidados. Registe-se a interessante conversa travada entre o encenador Jorge Silva Melo e o professor da faculdade de letras José Pedro Serra, à volta do tema.

Foram teatralizações, actores e palavras. E escritores, essa gente bem vinda, como muito bem diz Jorge Silva Melo; ouviam-se as gargalhadas de Maria João Seixas naquele hall, porque textos havia carregados de humor; ontem, domingo, na Avenida de Berna.

21 comments:

Serenidade said...

Foi interessante, estou a ver...

Boa semana.

Serenos sorrisos

Maria P. said...

Lisboa no seu melhor.

Beijinho e boa semana*

o Reverso said...

teatro...
nas duas últimas semanas vi, na sala estúdio mário viegas, "elas sou eu": ri, mas...

e ali ao jardim da graça, dos artistas unidos, "uma solidão demasiado ruidosa": esta gostei.
e foi de borla.

ninguém said...

Ái que inveja de toda essa pujança!E que saudades dos meus tempos de "crítica" de teatro, duas a três montagens de teatro, dança, circo, por semana, festivais de teatro de bonecos em Canela (tens de vir conhecer essa linda e singela cidade serrana), quando se tomava um copo de vinho com Jordi e sua trupe espanhola!´Mexeste com minhas memórias e meus afetos.
beijos
maristela

Vulcano Lover said...

“a frivolidade só é frívola para aqueles que não são frívolos” sempre adorei Max Ophüls... A frase esta muito acertada.
Saudades.

-_- said...

good work

have a nice day ..

jguerra said...

Deve ter sido batsnte interessante. levantaste uma pequena questão que me deixou a pensar... mecenas. Porque hoje todos queremos mecenas para poder criar, representar? A vida económica está realmente a deturpar tudo.
Abraço

Ka said...

Deve ter sido interessante.
Pena que aqui na invicta não exista agenda cultural na área da literatura e teatro.
A agenda que existe resume-se quase á Casa da música, mas até essa, no que se refere a concertos para crianças por expl já tem um "esquema" organizado em que nunca há bilhetes.

Beijinho e boa semana

mixtu said...

muito interessante e como dia a Maria, Lisboa no seu melhor...
tertúlias... e porque elas quase desapareceram?

abraço

un dress said...

fico sempre com vontade de estar.
a imaginar tudo o que teria (a)prendido...



beijO.luís :)

Alexandre said...

Gostava de ter ido também! Mas no sábado estive numa comunidade de leitores e como sempre foi muito interessante!

Um abraço!!!

Kalinka said...

LUÍS

Logo cedo te visito.
Venho em busca de algo.
Preciso urgentemente de afecto,
sinto-me a desfalecer,
não sei onde me encostar,
um porto de abrigo,
um ombro amigo,
quem sabe, dar-te a mão...
sentir o toque, o calor
um brilho nos olhos,
quem me ajuda? Preciso.

Votos de Bom Feriado.
Beijitos com carinho.

Jonice said...

Escritores, essa gente bem vinda.
Tu és!

Maria said...

Deve ter sido interessante, sim.
Por aqui vou tendo Quim Barreiros e marchas populares....

Beijo

Fernando Pinto said...

O teatro começa sempre na plateia...

Abraço,
FM

P. S. Quando puderes passa pelo meu «Labirinto de Olhares" e diz-me se gostaste das ninfas...
Obrigado pela atenção!

Moinante said...

Haja quem escreva ,porque outros representarão , para que outros se deslumbrem .

Um grande abraço .

Anonymous said...

É... deve ter sido um brinde à cultura!!! =)

D. Maria e o Coelhinho said...

A VINGANÇA AGORA É MINHA.


D.MARIA

Anonymous said...

À PROCURA DO MECENAS OU O SNOBISMO CAPITALISTA

Nos tempos antigos, como por exemplo no tempo da Florença do Renascimento dos Medice, os mecenas eram pessoas que, embora sendo negociantes e mesmo seres dúbios, tinham no entanto respeito e um amor espiritual pela arte – amavam e sabiam o que era a arte.
Os mecenas de hoje, ou antes, os novos ricos, por sua vez, talvez também amem a arte, mas eles amam-na – ah isso sim ! acima de tudo por uma questão de investimento e imagem. É que, por exemplo, patrocinar um evento sobre arte, ou comprar um quadro de um artista famoso, é uma boa táctica publicitária, pode ser um grande investimento, pode ter benificios fiscais, e dá direito a aparecer-se na primeira página dos jornais e das revistas VIP .

A arte que deveria ser, sobretudo, um símbolo de revolta contra a pobreza espiritual e contra um sistema cada vez mais capitalista, interesseiro e corrupto, está-se a tornar cada vez mais parte desse mesmo sistema, ou seja, está a perder todo o espírito poético de que nasceu: o sentimento estético que é puramente contemplativo e destituído de interesses de ordem material.

Eli said...

O êxtase não vai beber na palavra acreditar, mas o sonho sofre a sua dependência.

:)

Anonymous said...
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