Sunday, September 23, 2007

beleza sem palavras...



"A mímica, assim como a música, não conhece fronteiras nem nacionalidades”, dizia Marcel Marceau. “Se a gargalhada e as lágrimas são características da humanidade, todas as culturas estão mergulhadas nesta disciplina”.

O mimo francês Marcel Marceau, conhecido como o Charlie Chaplin do universo da mímica, morreu ontem à noite. Nascido em 1923 em Estrasburgo, o artista elevou a arte da mímica ao seu mais alto nível, nomeadamente através da sua personagem Bip (criada em 1947), que o tornou célebre. Influenciado pela Commedia dell'Arte, Marceau fez renascer o género da pantomima a partir de 1945, tendo percorrido os palcos de todo o mundo, sendo muito popular nos Estados Unidos, Japão e China. O Mimo maravilhava o público com a sua apresentação cheia de intensas emoções, sem proferir uma só palavra. O que não terá sofrido o jovem Marcel quando o pai foi levado para o campo de Auschwitz, onde morreu! O terror nazi que o levou a mudar de nome, de apelido, para esconder as origens judaicas. Com quinze anos, tinha já consciência de que o nome poderia trair os sonhos de viver. Ainda assim possuía uma vitalidade incomum, este homem que com casaco a menos e calças a mais, exactamente porque o sonho nunca tem medida certa, correu mundos e atravessou gerações. Transmitiu essa arte e converteu o invisível em visível. Vestido com o seu tradicional traje branco de saltimbanco, o rosto maquilhado de branco, com realce em vermelho e negro dos lábios e olhos a sua arte era a do silêncio. Insaciável, o mímico de 84 anos dizia que não pensava em se reformar. “Se deixo de trabalhar, perderia a motivação e nem sequer poderia andar”. Um adeus ao mimo de cara branca que falava sem palavras, chorava e ria sem sons. Era o mestre da pantomina e uma figura incontornável da arte. Os seus gestos expressavam a essência mais secreta da alma humana – "Para mimar o vento, temos de nos transformar em tempestade. Para mimar um peixe, temos de mergulhar no mar".

“Será que não é verdade que todos os momentos mais belos nos deixam sem palavras?"
Marcel Marceau

23 comments:

pin gente said...

emoção sem palavras
amor sem palavras
... sem palavras


se quiseres dá uma espreitadela. dediquei este pots a um amigo.
http://pin-gente.blogspot.com/2007/01/no-vai-passar-de-um-grande-susto-h.html

abraço
luísa

pin gente said...

desculpa parece que não verás nada. removeram o video.

pin gente said...

tanto comentário! não há 2 sem 3.
já refiz o post, podes ver se quiseres.
luísa

Jasmim said...

olá luís
Este ano tem morrido muita gente que muito fez pela cultura.
Mas Marcel Marceau era efectivamente um ser especial.
Tanta emoção e expressão, tudo sem palavras, apenas ao nível do sentimento.
O mundo fica mais pobre.
Boa semana

Maria said...

Sabia que viria encontrar, aqui, palavras que provavelmente me iriam deixar sem palavras...
Obrigada

Maria P. said...

Por vezes as palavras (até) estão a mais.

Beijinho e boa semana*

kiduchinha said...

Bonita homenagem amigo! Boa semana! mtas beijocas
"O que se faz de grande faz-se em silêncio" (Erik Geijer)

Gena said...

Lembro-me de o ver e o rever mais tarde encarnado num jovem que encontrei aquando da minha passagem pelo IPJ. Pintava admiravelmente (tenho em minha casa "A Feira da Ladra" que fez questão de me oferecer e que faz a inveja dos meus amigos) e era a cópia fiel do Marcel Marceau que ele considerava seu mestre, seu "guru". Tive o previlégio de promover várias exposições suas que sempre iniciavam com um espectáculo de mímica em que se desdobrava em personagens de uma beleza única. Aos poucos, apercebi-me que as pessoas iam mais pelo mimo do que pelo pintor, embora vendesse sempre os seus quadros todos. Hoje terá trintas e tais e espero ainda ouvir falar muito dele. De seu nome Carlos Farinha, é luso-descendente, bonito, humilde q.b. mas não tem padrinho...
Obrigada Luís, por me teres feito relembrar esta época feliz do meu percurso profissional.
Um beijo.
Gena

BlueVelvet said...

Ai que prazer infito me deu ler este Blog!
Nem sei como vim cá parar, mas que bom que vim.
Tanta coisa de que fala, e quem tanto tanto a ver comigo.
Mas é isso, enquanto as Kátias Vanessas vão para a praia eu fiquei-me por aqui a lê-lo.
De tantas coisas q conheço e de que fala.
De Woody Allen que tive o prazer de ouvir tocar no "seu barzinho" em Nova Iorque.
Do livro de citações dele que são de um non sense que faz todo o sentido.
Da Sophia de Mello Breyner que conheci quando tinha os meus 10 anos, porque era amiga dos filhos.
Tive até um namorico de adolescente com o Miguel, já que sou bem mais nova que ele.
De Marcel Marceau, da dança que amo, não tivesse o curso superior de dança do Conservatório, tanto que li.
Só uma pequena correcção, se me permite: a canção João e Joana cuja autoria atribui ao grande Ary, que também tive a sorte de conhecer, foi escrita pelo Fernando Tordo, meu amigo pessoal, aquando do nascimento dos seus 3 gémeos com a Isabel Branco.Um, morreu à nascença, e o João e a Joana foram transportados numa caixa de sapatos para a Alfredo da Costa, onde os salvaram.
Vou continuar a passar por aqui, e fica o convite para me visitar.
Até lá!
Blue Velvet

o Reverso said...

não sabia que ele tinha morrido.
lembro-me de o ter visto, somente em programas de televisão, uma ou duas vezes.
era na verdade grande.

um abraço para ti pela homenagem.

Lúcia Laborda said...

Oie Luis! Que linda homenagem, viu?
Que sua semana seja cheia de realizações! Beijos

isabel said...

"O sonho sem medida certa"

Tenho uma dúvida: sophie marceau é filha dele? porque também é da mesma área, mimo, mesmo. Mas agora li algures que não são parentes. Fiquei baralhada.

Também, por alguma razão, fiz um post sobre Auschwitz. E tenho saudades dos teus comentários Luis.

Abraço

Ka said...

Deixei aqui comentário ontem mas não ficou gravado...

Mais uma bela homenagem que tu aqui prestas.
Este ano está longo de mais no que se refere a perda de pessoas que marcaram a diferença.

Beijo e boa semana

ps - Estive para fazer um post sobre ele mas sabia que a devia homenagem seria feita aqui por isso nem me atrevi :)

Anonymous said...

el que ha cambiado el mundo con lo que ha creado nunca muere, tanto a gran como a pequeña escala, no morir para los demás ni para uno mismo

amor

joshua said...

Mais uma vez o silêncio enquanto ousadia, Arte e essencialidade.

Talvez esta morte nos acorde do ruído em que consiste a nossa vida.

Chawca said...

Mímica é uma arte que poucos dominam....
E que encanta todo mundo...
UM abraço

papagueno said...

Mais um gigante que partiu. Um ano terrível para a cultura do nosso mundo.
Um abraço.

ivone said...

“Será que não é verdade que todos os momentos mais belos nos deixam sem palavras?"

sem comentário possível porque não há palavras.

João Roque said...

O melhor comentário que posso fazer a este excelente post é dar toda a razão ao belìssimo título que lhe deste.
Não morreu só um grande nome da mímica, mas também um grande Senhor do mundo artístico, que tão pobre tem ficado este ano.
Abraço.

D. Maria e o Coelhinho said...

todos iremos...

what if I was gay?


coelhinho

Amaral said...

Mais uma voltinha por estes sitios, que nada esquece, muito menos as coisas importantes.
A beleza e o talento!!!
Marcel Marceau recordado aqui, como nao podia deixar de ser!!!

un dress said...

e de novo

e mais do que nunca

a perfeita

justificação

do silêncio



...

ninguém said...

Vi, na televisão, um dos especiais sobre Marceau em que ele analisava sua comporação recorrente com Chaplin. Com tal humildade e, ao mesmo tempo, orgulho de ser o criador de toda uma escola que inspirou e inspira tanta gente. Continuo achando que homens como ele não deveriam morrer e sim ficar encantados.
abraços