Espanha, 1792. Francisco de Goya, conceituado pintor, conhecido tanto pelos seus quadros coloridos da corte como pela implacável representação da brutalidade da guerra e da vida espanhola, assiste à prisão da sua musa, Inês, acusada, injustamente, de heresia pela Inquisição espanhola. Para salvá-la, Goya vê-se envolto numa série de acontecimentos que põem em risco a sua sanidade mental.
Sinopse
Sinopse
Estamos perante um filme centrado nos anos que abalaram o mundo ocidental. Uma trágica história passada numa Espanha retrógrada, que embora já na agonia do antigo regime, ainda consegue reavivar a Inquisição, entre os destroços do Império e as ameaças da Revolução Francesa, numa época em que o intolerância religiosa entra em colisão com o ateísmo, o despotismo com a democracia e o desejo com a morte. Durante o reinado de Carlos IV, a Espanha é ainda um vasto império e a Inquisição, embora enfraquecida, trata de abafar as ideias que chegam da Europa iluminada e, sobretudo, da França Revolucionária. Mas os reis franceses vão ser guilhotinados e os monarcas espanhóis põem-se em fuga. O plebiscitado Napoleão estende o seu império e entrega a coroa ao seu irmão, altura em que a insatisfação do povo contra os franceses invasores assume contornos irreversíveis. E depois de tudo isto, nova obstinação da história: os ingleses chefiados por Wellington restauram a monarquia opressiva e a própria inquisição. É neste período conturbado, em que “perseguidores se tornam perseguidos, e presas se tornam lobos”, que Goya criou as suas obras mais notáveis. Mas é, também, neste mundo obtuso que Goya se torna pintor da corte.
Entre os clientes de Goya encontram-se Lorenzo Casamares, influente dominicano do Santo Ofício, e Inês de Bilbatua, a sua musa, filha de um comerciante basco amigo. Quando Inês é acusada de heresia e julgada, Goya tenta salvar-lhe a vida apelando a Lorenzo, que, sedento de poder, lidera o ressurgimento da Inquisição. Mas Inês é detida, torturada e abandonada à sua sorte, acusada sem saber de quê. Não é uma bruxa, não cometeu qualquer injúria, ainda assim é acusada. Assim acontecia na Espanha do século XVIII. Acusações como “a ilustre senhora não comeu porco, logo pertence à herege classe dos judeus” eram o prato do dia e pareciam fazer todo o sentido para os responsáveis eclesiásticos.
Milos Forman dá vida ao universo pictórico de Goya com personagens marcadas pela luz e sombra, que começa a esboçar-se logo nas primeiras cenas, quando os padres da inquisição se interrogam perante as gravuras de Goya: “É então assim que somos vistos em todo o mundo?”. Atente-se ao temor quase reverencial com que o inquisidor e a rainha se aproximam pela primeira vez dos seus retratos; eles vão descobrir como é que são na realidade, ou seja, como são vistos pelos outros. A família real espanhola, num célebre quadro de Goya, e os olhares inquisidores dos detentores do poder político e militar representa uma imagem que sintetiza bem o que está em questão: a relação sempre difícil entre a criação artística e os que, directa ou simbolicamente, fiscalizam as condições dessa mesma criação e a sua circulação pública. Daí que o filme seja menos sobre Goya e mais sobre uma teia de figuras dilaceradas pelos valores da época. O pintor é um instrumento e é curioso ver um general Napoleónico dizer aos seus homens que os espanhóis os vão receber de braços abertos quando, pela invasão, os libertarem do abominado rei. Exactamente o que foi dito aos soldados americanos que invadiram o Iraque. No todo, esta obra até pode ser considerada desequilibrada, mas não deixa de constituir um retrato interessante da arte e do pensamento de Goya, com acesso a uma viagem que põe visível um país indeciso e hipócrita que se vendia ao que se lhe oferecia como lucrativo.
Ver trailer aqui.
Entre os clientes de Goya encontram-se Lorenzo Casamares, influente dominicano do Santo Ofício, e Inês de Bilbatua, a sua musa, filha de um comerciante basco amigo. Quando Inês é acusada de heresia e julgada, Goya tenta salvar-lhe a vida apelando a Lorenzo, que, sedento de poder, lidera o ressurgimento da Inquisição. Mas Inês é detida, torturada e abandonada à sua sorte, acusada sem saber de quê. Não é uma bruxa, não cometeu qualquer injúria, ainda assim é acusada. Assim acontecia na Espanha do século XVIII. Acusações como “a ilustre senhora não comeu porco, logo pertence à herege classe dos judeus” eram o prato do dia e pareciam fazer todo o sentido para os responsáveis eclesiásticos.
Milos Forman dá vida ao universo pictórico de Goya com personagens marcadas pela luz e sombra, que começa a esboçar-se logo nas primeiras cenas, quando os padres da inquisição se interrogam perante as gravuras de Goya: “É então assim que somos vistos em todo o mundo?”. Atente-se ao temor quase reverencial com que o inquisidor e a rainha se aproximam pela primeira vez dos seus retratos; eles vão descobrir como é que são na realidade, ou seja, como são vistos pelos outros. A família real espanhola, num célebre quadro de Goya, e os olhares inquisidores dos detentores do poder político e militar representa uma imagem que sintetiza bem o que está em questão: a relação sempre difícil entre a criação artística e os que, directa ou simbolicamente, fiscalizam as condições dessa mesma criação e a sua circulação pública. Daí que o filme seja menos sobre Goya e mais sobre uma teia de figuras dilaceradas pelos valores da época. O pintor é um instrumento e é curioso ver um general Napoleónico dizer aos seus homens que os espanhóis os vão receber de braços abertos quando, pela invasão, os libertarem do abominado rei. Exactamente o que foi dito aos soldados americanos que invadiram o Iraque. No todo, esta obra até pode ser considerada desequilibrada, mas não deixa de constituir um retrato interessante da arte e do pensamento de Goya, com acesso a uma viagem que põe visível um país indeciso e hipócrita que se vendia ao que se lhe oferecia como lucrativo.
Ver trailer aqui.
17 comments:
Mestre luis, dá calafrios só de ler seu texto. Gosto demais de Milos Forman, Um Estranho no Ninho e Hair são filmes para sempre. Imagino esse.
bj
Luis, belo post! gostei do texto e das telas.
Boa semana!
Beijos
há menos de dois meses aconteceu aqui em Porto Alegre uma grande exposição de gravuras de Goya. Coisas maravilhosas.
Este filme ainda não passou por aqui, mas, sendo de Milos Forman, com certeza vou assisti-lo.
Tentei de ir vê-lo quando esteve nos cinemas, mas no fim não fui. Os críticos disseram que não fora muito interessante e também algum amigo que foi... Se calhar devia procurá-lo em dvd.
Já inscrevi para o quarto nível de português... espero poder escrever melhor a partir deste ano letivo :-)
Beijos.
A Sétima Arte estimula o conhecimento melhorado de outras Artes e seus autores quando sobre elas se debruça.
Mais uma certa fora de ecfrasis. Que o Belo tome conta do Século, agora que o Bélico reina.
Abraço
Caro Luís,
Li o livro! Não foi fácil, porque acontece , para mim, algo que não gosto neste tipo de escrita: a História "metida a metro" dentro da narrativa...
Apetece-me arrancar metade das páginas e passar depois a ler a relação de Goya com os personagens, os quadros... aí sim, vale a pena!!!
Portanto, não sei se irei ver o filme!!!!
Um Bom resto de noite!!!!!
Adorei o filme. Um relato cuel e dorido como o foi a relaidade da Espanha daqueles tempos. Uma Natalie Portman que vestiu mágoas arrancadas do ser mais profundo e um Javier Barden que expôs o Homem em todas as suas fraquezas e glórias (vãs?).
Um filme de referência a meu ver!
Há dois nomes que implicam a visão imprescindível deste filme, para mim: o do realizador, Milos Forman e o do principal intérprete, esse fabuloso Javier Bardem.
Ainda não li! Nem vi o filme1
Mas é uma boa aquisição para o meu Cineliterário!
CSD
ainda nao vi, já tinha curiosidade não só pelo realizador como pelos actores... mas agora ainda fiquei com mais vontade de ir ver...
Obrigada!
beijinhos
Gosto de Goya e do nome Inês (o nome da minha filhota). Vou ver o filme.
Abraço
Mal vi algumas das imagens, logo o coloquei em lista. A ver brevemente.
Olá LUÍS
penso que não és da minha geração; mas, já ouviste falar dos Eagles?
The Eagles - uma das mais famosas bandas de Country Rock, tendo seus LP'S em primeiro lugar nos Estados Unidos da América(EUA), durante quatro anos seguidos (1972 / 1976). Seu hit mais famoso é "Hotel California" gravado no Criteria Studios, Miami & The Record Plant, Los Angeles, March - October - 1976. Os Eagles são das bandas mais rentáveis da indústria musical dos EUA.
É destaque no kalinka, pois no meu alfabeto da Vida cheguei à letra E.
Sobre o filme a que te referes, não é o meu género de cinema...
Abraços.
Oie meu amigo! Bom fim de semana!
Beijos
luis, vim aqui especialmente para te desejar uma linda entrada de nova estação neste domingo.
bj
Um filme que vou querer ver, sem dúvida alguma!
Obrigado...
Abraço
magnificamente num cinema perto de si!
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