Saturday, November 24, 2007

a mulher certa...

Uma tarde, numa elegante cafetaria de Budapeste, uma mulher relata a uma amiga como certo dia, por causa de um vulgar acidente, descobriu que o seu marido estava entregue de corpo e alma a uma paixão secreta que o consumia e como desde esse momento tentara, em vão, reconquistá-lo. Na mesma cidade, uma noite, o homem que foi seu marido confessa a um amigo como deixou a sua esposa pela mulher que desejava há anos, para depois de se casar com ela a perder para sempre.

De madrugada, numa pequena pensão romana, uma mulher conta ao seu amante como ela, de origem humilde, casou com um homem rico, e como o casamento sucumbiu ao ressentimento e à vingança. Como marionetas sem direito a exercerem a sua vontade, Marika, Péter e Judit narram a falência das suas relações com o realismo cruel de quem considera a felicidade uma ilusão inalcançável.

Sinopse

Três vozes, três sensibilidades distintas destapam uma história de paixão, enganos e impiedade. Neste romance defrontamo-nos com páginas íntimas e arrojadas, palavras sábias, palavras certas. A descrição do amor, da amizade, do ciúme, da solidão, do desejo e da morte alvejam directamente o centro da alma humana. Sentimentos que, sabemos bem, não se deixam enclausurar pelos caprichos do Tempo. A forma como doseia o levantar do pano é magistral. Até ao fim, há surpresas e revelações que nos deixam presos. A delicadeza de tudo, o discurso narrativo, singular e visceralmente autêntico. Não deixa de ser a tal literatura mainstream que todos aplaudimos e bem, como Guerra e Paz de Tolstoi ou Os Irmãos Karamazov de Dostoiévki. São aquelas pérolas universais, as prendas seguras, os best-sellers que subsistem à passagem do tempo e que continuam a desvanecer os indivíduos, a salvar almas que se poderiam consumir para sempre no inferno dos escritores fast-food. Isso não os diminui em nada, pelo contrário. Sándor Márai perturba. É sensível, corre o risco de ser algo melodramático, mas consegue não o ser com uma contenção e beleza que só está ao alcance de um punhado de eleitos.

Certo dia, acordei e senti que ela me fazia falta.
É a sensação mais aviltante. Sentir a falta de alguém. Olhas à tua volta e não compreendes. Estendes a mão, nesse gesto hesitante com que procuras um copo de água, um livro. Tudo na tua vida está em ordem, os objectos, as pessoas, as reuniões programadas, e não se alterou a tua relação com o mundo. Só que te falta qualquer coisa. Mudas as disposições dos móveis…mas não se trata disso. Não. Vais viajar. A cidade que há tanto gostavas de ver, recebe-te em todo o seu grave esplendor (…) Roçam sobre ti olhares de ternura, que observam a tua solidão, ou, numa serena superioridade, te seduzem, enviam mensagens, olhares femininos que soltam minúsculas centelhas. À noite, sobe música da margem do rio, ouvem-se canções na luz colorida de candeeiros, o vinho é doce e há pares que dançam. Nesses lugares embebidos de sons e luzes, há uma mesa que te espera e uma mulher de conversa agradável (…) se andares entre as gentes, por aqui e por ali, durante muito tempo, e se fores a certos lugares, no fim, hás-de encontrar quem te espera. Naturalmente, sabes muito bem que essa é uma esperança infantil. Só já confias, doravante, nos acasos infinitos do mundo (…).


Comovente. Como eu tenho espírito sonhador, galardoo os livros que me sensibilizam. E este é indubitavelmente um dos livros da minha existência…

33 comments:

lena said...

Luís a curiosidade traçou-me o caminho até aqui

ainda bem que o fez. sentei-me neste teu Infinito Pessoal e deixei-me levar pelas excelentes partilhas que aqui encontrei

escreves: "Sándor Márai perturba" concordo plenamente e digo: ainda perturba sim.

depois de As Velas Ardem até ao fim” e A Herança de Eszter que se pode dizer

"Em Budapeste uma mulher conta a uma amiga como descobriu o adultério do seu marido"... bem três vozes, três diferentes sensibilidades

a escolha perfeita para um fim de semana

adorei passar por aqui e estar

virei mais vezes a sensibilidade tocou-me

um abraço meu

lena

hora tardia said...

:) andamos a ler o mesmo livro.



re.digo. tudo. o que foi tão bem dito neste post.



obrigada.


_____________.

Maria said...

Anotado na lista de compras......
Obrigada.

náufrago do tempo e lugar said...

Título muito convidativo. Mais apetecível depois de tão preclara quão concisa descrição.
Nem que tenha de devorar livros como a traça, porquanto são já tantos os que se encontram em lista de espera – de leitura - , adquirirei a obra. :)

Blogue mais que escorreito. De leitura obrigatória.

Obrigado.

Abraço.

avelaneiraflorida said...

Caro Luís,

tive o prazer de ler as obras publicadas de Sandór Márai. Indiscutivelmente que me seduziu " As velas ardem até ao fim"...depois, foi mais dificil com " A herança de Eszter" ( culpa minha, não do autor),já que nem sempre a nossa predisposição está do lado de quem escreve...
Agora, fico curiosa! Sinceramente! Acho, que depois desta bela sinopse, vou anotá-lo na minha lista de compras!!!
"BRIGADOS"
UM EXCELENTE FIM DE SEMANA!!!!

BlueVelvet said...

Luis,
Já li As Velas Ardem até ao Fim, que adorei.
Este nem conhecia o título, mas por este andar, em vez de falida vou à bancarrota, porque não resisto a comprar os livros que aconselha.
Sobretudo porque nos aguça o apetite com os seus comentários.
Este deve ser fascinante com a quantidade de sentimentos que nele se entrecruzam.
Obrigada pelo fabuloso comentário onde perpassa não só a qualidade do livro, mas também a sua sensibilidade. ( a do Luis :) )

PS: Que bom que também gosta do amor à moda antiga. Porque não de " Une Valse à Mille Temps ?"
Beijinhos

João Roque said...

Amigo Luís
como sabes, tenho um part-time que me liga aos livros e como gosto de saber o que propagandeio tomei conhecimento com Sándor Márai, quando há 2 meses atrás pusemos à venda "As velas ardem até ao fim" que até nem "saíu" mal.
"A mulher certa" está nesta revista...vamos ver!
Mas li a crítica no "Y" e fiquei entusiasmado com este escritor húngaro, salvo erro naturalizado americano, e principalmente com este livro.
Abraço.

Outonodesconhecido said...

E eu estive com este livro na mão ontem à tarde na Fnac. Comprei outro que nada tem a ver mas que vou levar de oferta para o Brasil.
"Eternidade e Desejo" da Inês Pedrosa.
Voltarei hoje à Fnac para o comprar.
Obrigada como sempre.

teresamaremar said...

Só já confias, doravante, nos acasos infinitos do mundo a mim, que levo o tempo a dizer de nada adiantar fazer projectos de futuro, já que o inesperado espera ao virar da esquina, a sinopse logo me seduziu.

Cafetaria em Budapeste... esse teu detalhe dito da delicadeza e beleza... e as emoções e essência humana... tema sedutor, sim.

Direi mais, tema em acordo com noites longas e frias.

Descartes bem que sustentou a Razão, mas Damásio desmontou a certeza, mostrando que, se alguma coisa se sobrepõe a outra coisa, é a emoção sobre a razão.

Bom domingo.

Jonice said...

O modo como escreves sobre os livros que te sensibilizam, sensibilizam-me.

Have a sweet nice week, Luís.

Beijinho

Isabel Victor said...

Muito sedutor ...


_______

abraço

Vulcano Lover said...

Eu li o ano passado (ou mesmo este, não me lembro) e adorei... Sempre adoro Marái. É verdade que muitas vezes está a ponto de cair no melodramático, mas fica sempre na fronteira, e mesmo nesse exercício é insuperável. É um românce que faz que a pessoa viva nele quando está a ler, e que esta chei de reflexões e revelações que nos turbam e nos emocionam (como dizes) de uma maneria que só os grandes podem.
Eu já copiei um fragmento no meu blogue há uns meses.
http://elamantedelvolcan.blogspot.com/search?q=la+mujer+justa

Beijos.

Red Light Special said...

Fiquei com uma vontade louca de ler este livro...
Pela sinopse, pelo excerto que aqui colocaste, pelas tuas palavras... porque retrata muito do que estou a viver, porque me identifiquei...
Vou procura-lo ainda hoje. Terminei anteontem a minha leitura de "mesa de cabeceira"... este é sem dúvida um bom "substituto".
beijos , boa semana e obrigada pela dica!

Lúcia Laborda said...

Luis, mais uma leitura recomendada que aguça a curiosidade... Obrigada por dividir, viu?
Que sua semana seja de realizações!
Beijos

Fernando Pinto said...

Mais um título a levar em conta...

Abraço

Shelyak said...

Mais um para ler... perco-me aqui e saio sempre com a boca a saber a pouco...
:)

Isabel Victor said...

Na fila dos livros já comprados ...

suspirando pelas férias do Natal ... tempo e ... uma lareira. a Norte. rodeada de boas memórias.

um bj* de agradecimento pela visita

Ana Paula Sena said...

Olá, Luís. Ainda não li nada deste autor mas só tenho tido boas referências dele. Lamento não ter tempo para tudo. O tempo que há é sempre menos do que o das obrigações e das devoções. :(
Passei para deixar ficar saudações bloguistas. :) Até para visitar os blogues me tem faltado tempo.

P.S. - Agradeço a atenção dispensada ao Marcador Somático.

Ruy Ventura said...

Sándor Márai é um dos meus autores preferidos em toda a ficção europeia do século XX. Pelo destino e pela aproximação humanista aos destinos do mundo, é um primo literário de Stefan Zweig, outro dos grandes. Para compreendermos melhor o nosso mundo, sugiro a leitura das suas "Memórias da Hungria" ("Fold, fold... no original). Levamos um murro no corpo, mas vale a pena.

Frioleiras said...

escolha perfeita...!

Anonymous said...

Socorro!!!
Alguem pode me dizer se "As Velas Ardem até ao fim" no Brasil é "As Brasas"???
Bjs
Dulce

isabel said...

anotado!

deixo uma sugestão para quem não se importa de "libertar" livros ou não quer gastar tanto dinheiro:

www.bookcrossing.com

boa noite Luís.

Kalinka said...

AMIGO LUÍS

É IMPERDOÁVEL a minha ausência do seu blog...
Não sei explicar o motivo, desânimo pela Vida, será? ando arredada dos blogs amigos...sem explicação plausível, peço desculpas.
Sei que se inicia em breve um mês que me deixa muito deprimida - Dezembro.
Não sei se leu as minhas desventuras pelo Egipto, tudo isto faz alhear-me do que é bom...acabo por ser eu quem mais perde, que fazer?

POR CÁ...cada dia que passa, as pessoas não têm tempo para NADA...no entanto, estamos a chegar a uma época do ano, a mais hipócrita do ano - parece que todos se vão lembrar de todos...rrssssssss, que raiva!!!

Eu nunca me esquecerei do País que me viu nascer:
"Cahora Bassa é nossa" foi a célebre frase que mais se ouviu ONTEM em Moçambique!!!

Beijitos.

Kalinka said...

Sobre o post, as suas sugestões são sempre MAGNÍFICAS.

Muito obrigado pela partilha.

Oliver Pickwick said...

Mais um texto preciso, Luís, que praticamente "fala" nas entrelinhas da sua paixão pela literatura. Nada como escrever a respeito do se gosta, não é?
É um prazer estar aqui. Continue este bom trabalho!
Um abraço, e tenha a melhor das semanas!

Maria Faia said...

Estimado amigo Luis,

Não li e, para dizer a verdade, não conhecia sequer o livro.
Abriu-me o apetite e seguramente, na primeira livraria em que passar procurarei "A Mulher ceta...".
Você tem o condão de nos aguçar o apetite e verdade se diga, a mim ainda não enganou.

Beijo amigo,

Maria Faia

Lúcia Laborda said...

Oie meu amigo! Sou como você também. Sonhadora demais! Experiência própria; acho que pode demorar, mas quem realmente esperamos, um dia encontramos.
Beijos

Anonymous said...

Olá. Bom dia
Hoje, no percurso de casa para o serviço,dei por mim a pensar nesta quadra natalícia e em alguns amigos a quem não sabia o que havia de dar.
Abri o seu blog, ainda bem que o fiz,fiquei sensibilizada com o seu comentário.
Obrigada, por tudo o que escreve, tudo que me diz, e porque me ajudou a resolver um problema, já sei o que vou oferecer e até o que vou ler... " A Mulher Certa".
Um beijo

pin gente said...

também penso assim... os livros que gosto e que me dizem algo, são os meus premiados.
mas acontece-me tantas vezes não conseguir acabar obras badaladas... nomes sonantes.
devo dizer que não insisto... se não me toca, fecho o livro e geralmente não volto a abri-lo.
ultimanente aconteceu três vezes. premiados, fantásticos...
vou escrever o que disseste no post de cima "cismo se não estarei a sofrer de ausência de sensibilidade artística".
um abraço
luísa

Anonymous said...

é um grande escritor.

Cleopatra said...

Pedi-o este Natal ao menino Jesus.
Vou lê-lo.
Ainda fiquei, depois de o ler a si com mais vontade de ler o livro.
Por ora estou a ler- Lição de Tango"
Lei-a Acho que também ía gostar.

Cleopatra said...

Afinal conhecia

Cleopatra said...

Ainda não li o livro. Ando a lê-lo.