Uma tarde, numa elegante cafetaria de Budapeste, uma mulher relata a uma amiga como certo dia, por causa de um vulgar acidente, descobriu que o seu marido estava entregue de corpo e alma a uma paixão secreta que o consumia e como desde esse momento tentara, em vão, reconquistá-lo. Na mesma cidade, uma noite, o homem que foi seu marido confessa a um amigo como deixou a sua esposa pela mulher que desejava há anos, para depois de se casar com ela a perder para sempre.
De madrugada, numa pequena pensão romana, uma mulher conta ao seu amante como ela, de origem humilde, casou com um homem rico, e como o casamento sucumbiu ao ressentimento e à vingança. Como marionetas sem direito a exercerem a sua vontade, Marika, Péter e Judit narram a falência das suas relações com o realismo cruel de quem considera a felicidade uma ilusão inalcançável.
Sinopse
Três vozes, três sensibilidades distintas destapam uma história de paixão, enganos e impiedade. Neste romance defrontamo-nos com páginas íntimas e arrojadas, palavras sábias, palavras certas. A descrição do amor, da amizade, do ciúme, da solidão, do desejo e da morte alvejam directamente o centro da alma humana. Sentimentos que, sabemos bem, não se deixam enclausurar pelos caprichos do Tempo. A forma como doseia o levantar do pano é magistral. Até ao fim, há surpresas e revelações que nos deixam presos. A delicadeza de tudo, o discurso narrativo, singular e visceralmente autêntico. Não deixa de ser a tal literatura mainstream que todos aplaudimos e bem, como Guerra e Paz de Tolstoi ou Os Irmãos Karamazov de Dostoiévki. São aquelas pérolas universais, as prendas seguras, os best-sellers que subsistem à passagem do tempo e que continuam a desvanecer os indivíduos, a salvar almas que se poderiam consumir para sempre no inferno dos escritores fast-food. Isso não os diminui em nada, pelo contrário. Sándor Márai perturba. É sensível, corre o risco de ser algo melodramático, mas consegue não o ser com uma contenção e beleza que só está ao alcance de um punhado de eleitos.
Certo dia, acordei e senti que ela me fazia falta.
É a sensação mais aviltante. Sentir a falta de alguém. Olhas à tua volta e não compreendes. Estendes a mão, nesse gesto hesitante com que procuras um copo de água, um livro. Tudo na tua vida está em ordem, os objectos, as pessoas, as reuniões programadas, e não se alterou a tua relação com o mundo. Só que te falta qualquer coisa. Mudas as disposições dos móveis…mas não se trata disso. Não. Vais viajar. A cidade que há tanto gostavas de ver, recebe-te em todo o seu grave esplendor (…) Roçam sobre ti olhares de ternura, que observam a tua solidão, ou, numa serena superioridade, te seduzem, enviam mensagens, olhares femininos que soltam minúsculas centelhas. À noite, sobe música da margem do rio, ouvem-se canções na luz colorida de candeeiros, o vinho é doce e há pares que dançam. Nesses lugares embebidos de sons e luzes, há uma mesa que te espera e uma mulher de conversa agradável (…) se andares entre as gentes, por aqui e por ali, durante muito tempo, e se fores a certos lugares, no fim, hás-de encontrar quem te espera. Naturalmente, sabes muito bem que essa é uma esperança infantil. Só já confias, doravante, nos acasos infinitos do mundo (…).
Comovente. Como eu tenho espírito sonhador, galardoo os livros que me sensibilizam. E este é indubitavelmente um dos livros da minha existência…
De madrugada, numa pequena pensão romana, uma mulher conta ao seu amante como ela, de origem humilde, casou com um homem rico, e como o casamento sucumbiu ao ressentimento e à vingança. Como marionetas sem direito a exercerem a sua vontade, Marika, Péter e Judit narram a falência das suas relações com o realismo cruel de quem considera a felicidade uma ilusão inalcançável.
Sinopse
Três vozes, três sensibilidades distintas destapam uma história de paixão, enganos e impiedade. Neste romance defrontamo-nos com páginas íntimas e arrojadas, palavras sábias, palavras certas. A descrição do amor, da amizade, do ciúme, da solidão, do desejo e da morte alvejam directamente o centro da alma humana. Sentimentos que, sabemos bem, não se deixam enclausurar pelos caprichos do Tempo. A forma como doseia o levantar do pano é magistral. Até ao fim, há surpresas e revelações que nos deixam presos. A delicadeza de tudo, o discurso narrativo, singular e visceralmente autêntico. Não deixa de ser a tal literatura mainstream que todos aplaudimos e bem, como Guerra e Paz de Tolstoi ou Os Irmãos Karamazov de Dostoiévki. São aquelas pérolas universais, as prendas seguras, os best-sellers que subsistem à passagem do tempo e que continuam a desvanecer os indivíduos, a salvar almas que se poderiam consumir para sempre no inferno dos escritores fast-food. Isso não os diminui em nada, pelo contrário. Sándor Márai perturba. É sensível, corre o risco de ser algo melodramático, mas consegue não o ser com uma contenção e beleza que só está ao alcance de um punhado de eleitos.
Certo dia, acordei e senti que ela me fazia falta.
É a sensação mais aviltante. Sentir a falta de alguém. Olhas à tua volta e não compreendes. Estendes a mão, nesse gesto hesitante com que procuras um copo de água, um livro. Tudo na tua vida está em ordem, os objectos, as pessoas, as reuniões programadas, e não se alterou a tua relação com o mundo. Só que te falta qualquer coisa. Mudas as disposições dos móveis…mas não se trata disso. Não. Vais viajar. A cidade que há tanto gostavas de ver, recebe-te em todo o seu grave esplendor (…) Roçam sobre ti olhares de ternura, que observam a tua solidão, ou, numa serena superioridade, te seduzem, enviam mensagens, olhares femininos que soltam minúsculas centelhas. À noite, sobe música da margem do rio, ouvem-se canções na luz colorida de candeeiros, o vinho é doce e há pares que dançam. Nesses lugares embebidos de sons e luzes, há uma mesa que te espera e uma mulher de conversa agradável (…) se andares entre as gentes, por aqui e por ali, durante muito tempo, e se fores a certos lugares, no fim, hás-de encontrar quem te espera. Naturalmente, sabes muito bem que essa é uma esperança infantil. Só já confias, doravante, nos acasos infinitos do mundo (…).
Comovente. Como eu tenho espírito sonhador, galardoo os livros que me sensibilizam. E este é indubitavelmente um dos livros da minha existência…
33 comments:
Luís a curiosidade traçou-me o caminho até aqui
ainda bem que o fez. sentei-me neste teu Infinito Pessoal e deixei-me levar pelas excelentes partilhas que aqui encontrei
escreves: "Sándor Márai perturba" concordo plenamente e digo: ainda perturba sim.
depois de As Velas Ardem até ao fim” e A Herança de Eszter que se pode dizer
"Em Budapeste uma mulher conta a uma amiga como descobriu o adultério do seu marido"... bem três vozes, três diferentes sensibilidades
a escolha perfeita para um fim de semana
adorei passar por aqui e estar
virei mais vezes a sensibilidade tocou-me
um abraço meu
lena
:) andamos a ler o mesmo livro.
re.digo. tudo. o que foi tão bem dito neste post.
obrigada.
_____________.
Anotado na lista de compras......
Obrigada.
Título muito convidativo. Mais apetecível depois de tão preclara quão concisa descrição.
Nem que tenha de devorar livros como a traça, porquanto são já tantos os que se encontram em lista de espera – de leitura - , adquirirei a obra. :)
Blogue mais que escorreito. De leitura obrigatória.
Obrigado.
Abraço.
Caro Luís,
tive o prazer de ler as obras publicadas de Sandór Márai. Indiscutivelmente que me seduziu " As velas ardem até ao fim"...depois, foi mais dificil com " A herança de Eszter" ( culpa minha, não do autor),já que nem sempre a nossa predisposição está do lado de quem escreve...
Agora, fico curiosa! Sinceramente! Acho, que depois desta bela sinopse, vou anotá-lo na minha lista de compras!!!
"BRIGADOS"
UM EXCELENTE FIM DE SEMANA!!!!
Luis,
Já li As Velas Ardem até ao Fim, que adorei.
Este nem conhecia o título, mas por este andar, em vez de falida vou à bancarrota, porque não resisto a comprar os livros que aconselha.
Sobretudo porque nos aguça o apetite com os seus comentários.
Este deve ser fascinante com a quantidade de sentimentos que nele se entrecruzam.
Obrigada pelo fabuloso comentário onde perpassa não só a qualidade do livro, mas também a sua sensibilidade. ( a do Luis :) )
PS: Que bom que também gosta do amor à moda antiga. Porque não de " Une Valse à Mille Temps ?"
Beijinhos
Amigo Luís
como sabes, tenho um part-time que me liga aos livros e como gosto de saber o que propagandeio tomei conhecimento com Sándor Márai, quando há 2 meses atrás pusemos à venda "As velas ardem até ao fim" que até nem "saíu" mal.
"A mulher certa" está nesta revista...vamos ver!
Mas li a crítica no "Y" e fiquei entusiasmado com este escritor húngaro, salvo erro naturalizado americano, e principalmente com este livro.
Abraço.
E eu estive com este livro na mão ontem à tarde na Fnac. Comprei outro que nada tem a ver mas que vou levar de oferta para o Brasil.
"Eternidade e Desejo" da Inês Pedrosa.
Voltarei hoje à Fnac para o comprar.
Obrigada como sempre.
Só já confias, doravante, nos acasos infinitos do mundo a mim, que levo o tempo a dizer de nada adiantar fazer projectos de futuro, já que o inesperado espera ao virar da esquina, a sinopse logo me seduziu.
Cafetaria em Budapeste... esse teu detalhe dito da delicadeza e beleza... e as emoções e essência humana... tema sedutor, sim.
Direi mais, tema em acordo com noites longas e frias.
Descartes bem que sustentou a Razão, mas Damásio desmontou a certeza, mostrando que, se alguma coisa se sobrepõe a outra coisa, é a emoção sobre a razão.
Bom domingo.
O modo como escreves sobre os livros que te sensibilizam, sensibilizam-me.
Have a sweet nice week, Luís.
Beijinho
Muito sedutor ...
_______
abraço
Eu li o ano passado (ou mesmo este, não me lembro) e adorei... Sempre adoro Marái. É verdade que muitas vezes está a ponto de cair no melodramático, mas fica sempre na fronteira, e mesmo nesse exercício é insuperável. É um românce que faz que a pessoa viva nele quando está a ler, e que esta chei de reflexões e revelações que nos turbam e nos emocionam (como dizes) de uma maneria que só os grandes podem.
Eu já copiei um fragmento no meu blogue há uns meses.
http://elamantedelvolcan.blogspot.com/search?q=la+mujer+justa
Beijos.
Fiquei com uma vontade louca de ler este livro...
Pela sinopse, pelo excerto que aqui colocaste, pelas tuas palavras... porque retrata muito do que estou a viver, porque me identifiquei...
Vou procura-lo ainda hoje. Terminei anteontem a minha leitura de "mesa de cabeceira"... este é sem dúvida um bom "substituto".
beijos , boa semana e obrigada pela dica!
Luis, mais uma leitura recomendada que aguça a curiosidade... Obrigada por dividir, viu?
Que sua semana seja de realizações!
Beijos
Mais um título a levar em conta...
Abraço
Mais um para ler... perco-me aqui e saio sempre com a boca a saber a pouco...
:)
Na fila dos livros já comprados ...
suspirando pelas férias do Natal ... tempo e ... uma lareira. a Norte. rodeada de boas memórias.
um bj* de agradecimento pela visita
Olá, Luís. Ainda não li nada deste autor mas só tenho tido boas referências dele. Lamento não ter tempo para tudo. O tempo que há é sempre menos do que o das obrigações e das devoções. :(
Passei para deixar ficar saudações bloguistas. :) Até para visitar os blogues me tem faltado tempo.
P.S. - Agradeço a atenção dispensada ao Marcador Somático.
Sándor Márai é um dos meus autores preferidos em toda a ficção europeia do século XX. Pelo destino e pela aproximação humanista aos destinos do mundo, é um primo literário de Stefan Zweig, outro dos grandes. Para compreendermos melhor o nosso mundo, sugiro a leitura das suas "Memórias da Hungria" ("Fold, fold... no original). Levamos um murro no corpo, mas vale a pena.
escolha perfeita...!
Socorro!!!
Alguem pode me dizer se "As Velas Ardem até ao fim" no Brasil é "As Brasas"???
Bjs
Dulce
anotado!
deixo uma sugestão para quem não se importa de "libertar" livros ou não quer gastar tanto dinheiro:
www.bookcrossing.com
boa noite Luís.
AMIGO LUÍS
É IMPERDOÁVEL a minha ausência do seu blog...
Não sei explicar o motivo, desânimo pela Vida, será? ando arredada dos blogs amigos...sem explicação plausível, peço desculpas.
Sei que se inicia em breve um mês que me deixa muito deprimida - Dezembro.
Não sei se leu as minhas desventuras pelo Egipto, tudo isto faz alhear-me do que é bom...acabo por ser eu quem mais perde, que fazer?
POR CÁ...cada dia que passa, as pessoas não têm tempo para NADA...no entanto, estamos a chegar a uma época do ano, a mais hipócrita do ano - parece que todos se vão lembrar de todos...rrssssssss, que raiva!!!
Eu nunca me esquecerei do País que me viu nascer:
"Cahora Bassa é nossa" foi a célebre frase que mais se ouviu ONTEM em Moçambique!!!
Beijitos.
Sobre o post, as suas sugestões são sempre MAGNÍFICAS.
Muito obrigado pela partilha.
Mais um texto preciso, Luís, que praticamente "fala" nas entrelinhas da sua paixão pela literatura. Nada como escrever a respeito do se gosta, não é?
É um prazer estar aqui. Continue este bom trabalho!
Um abraço, e tenha a melhor das semanas!
Estimado amigo Luis,
Não li e, para dizer a verdade, não conhecia sequer o livro.
Abriu-me o apetite e seguramente, na primeira livraria em que passar procurarei "A Mulher ceta...".
Você tem o condão de nos aguçar o apetite e verdade se diga, a mim ainda não enganou.
Beijo amigo,
Maria Faia
Oie meu amigo! Sou como você também. Sonhadora demais! Experiência própria; acho que pode demorar, mas quem realmente esperamos, um dia encontramos.
Beijos
Olá. Bom dia
Hoje, no percurso de casa para o serviço,dei por mim a pensar nesta quadra natalícia e em alguns amigos a quem não sabia o que havia de dar.
Abri o seu blog, ainda bem que o fiz,fiquei sensibilizada com o seu comentário.
Obrigada, por tudo o que escreve, tudo que me diz, e porque me ajudou a resolver um problema, já sei o que vou oferecer e até o que vou ler... " A Mulher Certa".
Um beijo
também penso assim... os livros que gosto e que me dizem algo, são os meus premiados.
mas acontece-me tantas vezes não conseguir acabar obras badaladas... nomes sonantes.
devo dizer que não insisto... se não me toca, fecho o livro e geralmente não volto a abri-lo.
ultimanente aconteceu três vezes. premiados, fantásticos...
vou escrever o que disseste no post de cima "cismo se não estarei a sofrer de ausência de sensibilidade artística".
um abraço
luísa
é um grande escritor.
Pedi-o este Natal ao menino Jesus.
Vou lê-lo.
Ainda fiquei, depois de o ler a si com mais vontade de ler o livro.
Por ora estou a ler- Lição de Tango"
Lei-a Acho que também ía gostar.
Afinal conhecia
Ainda não li o livro. Ando a lê-lo.
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