Tuesday, February 05, 2008

a filosofia segundo Woody Allen...

a AF que me brindou com este livro…

Se Deus existe, espero que Ele tenha uma boa desculpa.

Já tinha desfolhado O Que Sócrates Diria a Woody Allen, que decompõe as conexões entre as questões universais da filosofia com o cinema - partindo justamente da obra do cineasta. Agora – em vésperas de período carnavalesco - foi-me oferecido A Filosofia Segundo Woody Allen. Ensaístas e filósofos profissionais grudaram-se na filmografia do realizador e extraíram-lhe os ensinamentos para uma contextualização filosófica. Desde o início da sua carreira que o cineasta revela um peculiar interesse em examinar os grandes enigmas da vida sob o ponto de vista filosófico (amor, incomunicabilidade, morte, religião, sexo, vida). A sua veia filosófica é a de um existencialista descrente, anatematizado pelas obsessões terrenas, interrogações e receios, empregando o humor como instrumento cirúrgico para expurgar o seu espírito martirizado e repleto de neuroses comportamentais. Nos seus filmes perpassa sempre uma busca incessante pelo sentido da vida num mundo que é defectivo e carrasco. O derrotismo é propagandista e irreversível, como o de um Schopenhauer, mas no seu espírito pessimista aloja muita da sua robustez criativa. O optimismo nos filmes de Woody Allen é momentâneo, fugaz como um punhado de areia. Lembro Hannah And Her Sisters em que a personagem interpretada por Woddy a dada altura obcecada pela ideia de ter uma doença maligna recorre ao clínico que lhe afiança de que de nada padece. Sai do consultório animado porque afinal até é saudável. De repente pára e o seu entusiasmo esvaece e regressa ao estado de espírito depressivo. Aflito discorre: "mas porque raio estou tranquilo? vou morrer na mesma!". Os seus filmes para além de conterem uma dose considerável de hipocondria, de uma crença de que padece de uma doença grave, dos medos irracionais da morte, às obsessões com sintomas ou defeitos físicos irrelevantes, preocupação e auto-observação constante do corpo, o assunto mais comentado é o sentido da vida onde habitam abundantes citações filosóficas, carradas de alusões a escritores, filósofos, pensadores, poetas. Outros realizadores filósofos existem mas este cineasta, escritor e actor desenvolveu uma identidade singular, uma sensibilidade que diz tanto às mentes experimentadas como ao cidadão comum. É esta característica - para além da sua linguagem trágico-cómica e do seu talento - que faz de Woody Allen um dos génios do nosso tempo. E dessa forma instiga o espectador a uma auto-reflexão. Porque os problemas existenciais de Allen são, quer queira quer não, os mesmos que os meus, vulgar terráqueo que um dia vou expirar sem ter entendido porque razão passei por este planeta.

Woody Allen e as quinze grandes mentes que se reuniram para ensinar lições filosóficas vitais sugeridas pela obra cinematográfica do génio acompanharam-me, aos bochechos, neste fim-de-semana alargado, por terras de Zambujeira do Mar. Dias de Sol de Inverno. Uma praia deserta. Um mar transparente e revolto. Boa(s) companhia(s) …

19 comments:

avelaneiraflorida said...

Ai a minha pilha de livros a crescer...sem fim à vista!!!!
"Brigados", no entanto, por esta "dica"!!!! Valerá a pena...

E que a "Força anímica" se abasteça do mar...do sol...da natureza!!!!

TUDO DE BOM!!!!

Maria P. said...

É sempre um prazer vir aqui, sem dúvida um blogue: boa companhia...

Beijinho Luís*

Leonor said...

realmente o que é interessante nos filmes do Woody Allen é essa busca do sentido da vida, coisa que, no fundo, todos nós, com maior ou menor profundidade, fazemos.

Aliar isso ao sentido de humor com que o faz só revela mestria, símbolo, para mim, de uma pessoa que eu não desdenharia conhecer pessoalmente.

isso e o facto de se caricaturar a si próprio, deixando-nos fazer um pre-juízo da sua propria pessoa...

tufa tau said...

um apurado sentido de humor com a "desgraça"

tive pena de não conseguir aceder ao link

abraço

Outonodesconhecido said...

Humm!! fiqui com curiosidade. vamos ver quando terei tempo. A lista de espera na minhamesa de cabeceira é grandeeeeeeeeeeeeeeeeee...
bjocas e feliz dia
jasmim

BlueVelvet said...

Olá Luis,
fiquei feliz por saber que andou perdido pelo meu blog.
É tão raro agora vê-lo por lá:(

Tenho este livro e já o li, mas fiquei encantada com a sua frase:- Porque os problemas existenciais de Allen são, quer queira quer não, os mesmos que os meus, vulgar terráqueo que um dia vou expirar sem ter entendido porque razão passei por este planeta.
É que eu sinto exacatmente a mesma coisa, embora ele seja um génio e eu não.
Fico contente por saber que você sente o mesmo.
Beijinhos
Bluevelvet

ANTONIO DELGADO said...

´´E a primeira vez que visito o seu espaço e pelo que vi parece que temos muita coisa em comum...mesmo muita! Neste momento não tenho possibilidade de estar muito tempo a comentar dado ter um trabalho importante entre mãos, mas prometo que voltarei e farei um link no meu espaço para o seu.

Um cordial abraço e obrigado pela visita.
António Delgado
António Delgado

João Roque said...

Caro Luís
nada melhor do que o mar no Inverno em boa companhia para partilhar a leitura acerca desse individuo, cpmpletamente especial que é Woody Allen; mesmo quando é "menor" nunca se lhe fica indiferente...
Abraço.

Gi said...

Já ontem passei por aqui, a porta estava aberta e fui entrando, lendo o que por aqui deixas e sorrindo ao ver a quantidade de leituras preferidas que temos em comum (no teu perfil). Hoje repeti a dose para te agradecer a visita e as palavras deixadas no meu canto.

Sobre o Woddy Allen , gosto. Gosto dele como músico (o jazz dá conta de mim :) ) , como actor, como cineasta, à sua crítica cosntrutiva, mordaz e por vezes desconcertante. Aos seus paradoxos , ao seu humor. Da escrita acho piada a uma série de citações soltas que vou lendo por aqui e por ali mas nunca li nada "a sério dele". Como pessoa tenho com ele uma daquelas embirrações inexpicáveis (ou talvez não) que felizmente em nada influi o julgamento sobre a sua obra. E é com o humor dele que me despeço

Sexo é a coisa mais divertida que eu já fiz sem rir."

Um beijinho

david santos said...
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david santos said...

Olá, Luís.
Woody Allen e os seus filmes andam em redor da nossa relidade: em busca de sentido para esta nossa tão longa vida. Embora haja quem pense o contrário.
Parabéns.
Bom texto. Adorei

isabel mendes ferreira said...

:) também li....já faz tempo. e sorrir.


ouvi-o em terras do tio sam "musicar"...a filosofia universal da música.


homem do terrível ofício de tentar "viver".


beijo. Luis.

Abssinto said...

E, além disso, toca saxofone (e bem, dizem-me). Um tipo desconcertante na sua racionalidade.

Paula Crespo said...

Sou fã do Mestre. É genial.
Tenho dito!

isabel said...

como estou numa biblioteca vou aproveitar para o requisitar.

excelente o texto, Luís.

Anonymous said...

Uma palavrinha da outra AF que nunca foi brindada com nada...
Ass. AF, a Calimero portuguesa

Jonice said...

Sou uma sua fã!

Bom fim de semana para ti, Luís.

Beijinho

Lúcia Laborda said...

Oie lindinho! Gosto muito dele. Seus filmes, trazem sempre, um tom de humor, que faz o diferencial.
Obrigada pela boa dica!
Bom fim de semana!
Beijos

ninguém said...

oi luis. andei relendo o Sem Plumas, sempre vejo alguma coisa nova neste livro do WA. As vezes, ele me irrita, porque acerta no ponto que a gente nao queria. Mas esse é um dos caras que, com elegância, mais esculacharam este mundo e suas falsidades. E que olhar cênico ele tem sobre nossas pequenezas.
abração