“Contra a opinião pública dominante, consensualmente ciganófoba, procederemos à crítica científica da essencialização de uma «cultura nómada», supostamente imoral e parasitária, inventada para melhor marginalizar milhares de portugueses a quem continuam a ser recusadas as oportunidades que a Constituição prevê para todos os portugueses sem distinção, e preocupar-nos-emos com a falta de memória histórica e democrática de políticos, governantes, intelectuais, educadores e eclesiásticos acerca da perseguição sistemática feita a esta minoria”. In O Povo das Estrelas nas Festas de Lisboa 2008.
Em tarde de domingo quente perdi-me entre ciganos. Rotas & Rituais é um conjunto de iniciativas que se centra nesta gente. Confesso que sempre tive uma atracção (antropológica, sociológica, ou outra) por estares e sentires diferentes, sendo que incluo os ciganos neste tabuleiro de interesses. Mas o que encontro amiúde são concepções que se foram cristalizando sob a feição de estereótipos: um certo romantismo ou temor (cf. culturas ciganas). A mundividência cigana caracteriza-se pela sua "identidade de resistência", conceptualmente construída na relação com o outro (o paílho, i.é, o não cigano) mas políticas de inclusão que conhecemos insistem na assimilação. São politicamente correctas, mais eficazes, supostamente mais igualitárias e o cigano é recompensado pelo seu enfileiramento: permitem que os filhos ingressem na escola e consequentemente auferem rendimentos mínimos. Isto é, o(s) Estado(s) tende(m) a varrer os aspectos culturais e fazer emergir os ciganos como um problema social, tornando-se necessário "integrá-los". Revelam "desajustamentos sociais" quando se pretende inclui-los, razão pela qual as políticas de inclusão consideram a necessidade de os inserir no espaço social dominante e desprezar o seu território cultural e étnico. Estes artifícios tendem a construir um cigano que não o é de facto, mas como é necessário que seja. Esses portugueses com quem nos cruzamos há gerações e que continuamos a considerar diferentes e são singulares, de facto, têm ainda muito para revelar, sendo necessário haver um esforço (mútuo) para que sejam aceites “as riquezas humanas e espirituais das quais os ciganos são portadores” (in agência.ecclesia.pt/).
Em tarde de domingo quente perdi-me entre ciganos. Rotas & Rituais é um conjunto de iniciativas que se centra nesta gente. Confesso que sempre tive uma atracção (antropológica, sociológica, ou outra) por estares e sentires diferentes, sendo que incluo os ciganos neste tabuleiro de interesses. Mas o que encontro amiúde são concepções que se foram cristalizando sob a feição de estereótipos: um certo romantismo ou temor (cf. culturas ciganas). A mundividência cigana caracteriza-se pela sua "identidade de resistência", conceptualmente construída na relação com o outro (o paílho, i.é, o não cigano) mas políticas de inclusão que conhecemos insistem na assimilação. São politicamente correctas, mais eficazes, supostamente mais igualitárias e o cigano é recompensado pelo seu enfileiramento: permitem que os filhos ingressem na escola e consequentemente auferem rendimentos mínimos. Isto é, o(s) Estado(s) tende(m) a varrer os aspectos culturais e fazer emergir os ciganos como um problema social, tornando-se necessário "integrá-los". Revelam "desajustamentos sociais" quando se pretende inclui-los, razão pela qual as políticas de inclusão consideram a necessidade de os inserir no espaço social dominante e desprezar o seu território cultural e étnico. Estes artifícios tendem a construir um cigano que não o é de facto, mas como é necessário que seja. Esses portugueses com quem nos cruzamos há gerações e que continuamos a considerar diferentes e são singulares, de facto, têm ainda muito para revelar, sendo necessário haver um esforço (mútuo) para que sejam aceites “as riquezas humanas e espirituais das quais os ciganos são portadores” (in agência.ecclesia.pt/).
As exposições que percorri entre o Padrão dos Descobrimentos e o Cinema S. Jorge contribuem para a produção de um "discurso" que valoriza um olhar acerca da etnicidade cigana: “Ciganos na Cidade”, de Valter Ventura [como ponto de partida desta “amostra” vivencial, cabe perguntar: Será que as reminiscências de um passado, com experiência de organização espacial em tenda, se repercutem na vida de hoje? Será que o facto de algumas famílias ciganas se terem, em parte, constituído temporariamente como habitantes de bairros de barracas veio a produzir marcas que se verificam, são reais e perduram? Como aproveita e organiza o cigano o novo espaço em que se insere? (…) /Fernanda Reis], e uma mostra de trajes femininos ciganos [lenço na cabeça, xaile, saia comprida, rodada ou de pregas finas, saiotes brancos com rendas na ponta e um grande bolso para guardar dinheiro ou outros pertences, são características dos trajes típicos das mulheres ciganas. Por sua vez, o homem cigano opta por tons escuros, onde o fato e o chapéu preto e as longas barbas estão associadas ao sofrimento e à sabedoria] e “Ciganos do Sul”, mostra de fotografia de Renato Monteiro. Uma interessante viagem neste final de tarde lisboeta…
16 comments:
Claro que a partir daqui fica-me vedada a possibilidade de visitar a exposição, mas fica-me também a dúvida: a inclusão, nos moldes que a sociedade moderna ocidental pretende, é ou não uma forma de lentamente apagar a cultura e o modo de vida daqueles que para nós(os da maioria) são diferentes?...
valeu a pena, não valeu? O filme de sábado foi espectacular, diferente do de 6ª, mas a viagem através da música pelo percurso dos ciganos foi divinal.
Boa semana
é um assunto que eu gostaria de me debruçar um pouco mais. como tantos outros. nunca fecho a mente a novas aprendizagens.
obrigada pela informação aqui transmitida e pelo amável comentário no meu blog.
:)
beijinho
As fotos são excelentes.
Um abraço.
Uma exposição que certamente vale a pena ser visitada. Um texto justo.
E uma dica de leitura que aqui deixo: ROMANCERO GITANO de Lorca.
L.C.
mutatis mutandis...
pois é, o direito à diferença (à igualdade) por enquanto é ainda uma cantiga.
joão
Nunca me dei mal/tive medo/problemas ou o que quer que fosse com ciganos. Conheço pessoalmente dois ou três e sei que são excelentes pessoas (além de fugirem ao lugar comum do feio, porco e mau).
Os ciganos (como quaisquer outros grupos/minorias), têm sempre um problema à perna: tenta-se sempre integrá-los "à nossa maneira" - a da maioria - tenta-se sempre protegê-los, fazendo deles os desgraçadinhos ou os inadaptados. Quando a vivência em comum parte destes pressupostos é mau sinal...
muito bom blog
muuuuito bom post.
ps: tu es galego como tu ou...
galego como eu? :)
os galegos querem juntar a galiza ao minho e descer até coimbra. dizem q vao ficar... que ja nao voltam para castela :)
dizem que vao continuar a cantar codax.
Um tema muito interessante, a tua abordagem exclente!
Beijinho*
é um privilégio ler-vos.
e é também um privilégio ter, como vós tendes, a capacidade de vos interessardes por tantos assuntos e também a capacidade de gerir o tempo de maneira a poderdes usufruir daquilo de que gostais.
: a inclusão, tal como é usada hoje em dia, nomeadamente nas nossas escolas, visa apagar a cultura e os costumes da diversidade de povos que hoje coabitam connosco. Confesso que não sei como se poderia fazer de outra forma...
Salvé Luis
Parabéns pelo Post.
Mas também passei por aqui para o convidar a ir até ao blog do Pinguim e ler algo que penso poderá começar a pensar melhor sobre o assunto, lidando melhor com ele. Os medos atrapalham a vida das pessoas...
Fique bem
Abraço
Mariz
ESPAVO!
Amigo Luís,
"o povo das estrelas" que merece ser estrela para o nosso olhar!
Também por aqui decorreu um pequeno espectáculo, trazido por amigos de Europas mais interiores, e interpretado por jovens desconhecidos...mas , também eles, estrelas a ganharem luz!!!
Apesar de não nutri especial curiosidade pela cultura cigana, gosto de conhecer e reconhecer os seus traços que respeito, mas há muita falta de diálogo da nossa parte e da deles. Os modelos são inquestionavelmente diferentes e parece-me que pouco se faz para mudar as coisas. Ontem, na rtp1, foi focada uma associação (a AMUCIP) e uma das suas mentoras pareceu-nos uma mulher sensacional, cheia de uma coragem poética e muito realista do problema. Outras mulheres ciganas foram focadas, mas a Olga Natália é uma mulher grande. E é com pessoas assim, carismáticas, que as coisas vão mudando e as estrelas deixam de ser tão longínquas.
Abraço
Excelente abordagem do problema, se problema é ou for! Subescrevo e convido-os a visitirem a minha página (http://myrna.com.sapo.pt, que, de alguma forma, aborda a "questão cigana", uma vez que desde há pelos menos 16 anos lido com eles, trabalho com e para eles.E eles, que no fundo e bem vista as coisas, somos TODOS nós!
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