*
Não se trata de viver noutro planeta, mas a verdade é que, quando estou a escrever, a minha vida muda por completo. Encontro uma razão, um motivo e uma direcção.
António Lobo Antunes, Visão, 2007
Talvez porque tenha prazer em comunicar me ponha a escrever. Muitas vezes é porque me angustiam algumas realidades; outras porque me enfeitiçam as palavras dos livros, os versos dos meus poetas de todas as horas, certas pinturas, algumas fotos, determinadas músicas (como resistir a "Mon coeur s'ouvre a ta voix" e não partilhar essa sensação?), os mistérios do teatro (a mais intensa de todas as formas artísticas), a magia da dança, os filmes de autor, as ruas, ruelas e becos quando nelas me perco, as esplanadas de Lisboa, cidade que incita a “esplanar” durante quase o ano inteiro, acantoadas nos bairros antigos, em espaços abertos ao Tejo ou como autênticos oásis no meio da capital que lateja. Tal como Jorge Silva Melo, “gosto de manter na frase o ondulado da fala, de pontuar respirações, de acrescentar adjectivos, serpentear pela semântica, que finjo fácil e queria valsejante, ou dançando breve slow.” (in TOut, 2008). Quando escrevo penso apenas em exorcizar sensações, descrevê-las, vivê-las. Simpatizo com Jean Cocteau quando diz que escrever é batermo-nos com tinta para nos fazermos compreender. Mas como confessa Lobo Antunes: [escrever] “Dá um trabalho do caraças! Despentear a prosa de maneira que aquilo seja feito como uma diarreia” (in JL, 1983).
A blog of one’s own (uma graça a propósito de Virgínia Woolf). Mas é assim que sinto este canto: um blog que seja meu. Um registo (quase) cronológico, actualizado de opiniões, emoções, episódios de vida, ou qualquer outro tipo de conteúdo que queira compartilhar. Umas vezes uma espécie de diário virtual, mas que pode ser muito mais do que isso. Depende apenas e só do que queira que ele seja. Um blog pode ser um pequeno cofre com palavras e com sabedoria que, com sorte, pode ficar com quem o lê algum tempo, permitindo sentir que as palavras adquirem uma espécie de asas. Um blogger é uma pessoa curiosa. Muitas vezes em contradição ou em contra-senso. Mas é, também, psicanalista: ouve muito. Um blogger é o desconhecido, é a noite, é pardacento, é assim. No fundo, um autor de um blogue é de certa forma um ladrão, um rapinador de sentimentos, de imagens, de citações. Um post é sempre feito de acanhados furtos com a vantagem de não sermos castigados.
Faz dois anos este Infinito Pessoal, onde gosto de rabiscar sem compromisso, em busca de quê a não ser de afecto?
António Lobo Antunes, Visão, 2007
Talvez porque tenha prazer em comunicar me ponha a escrever. Muitas vezes é porque me angustiam algumas realidades; outras porque me enfeitiçam as palavras dos livros, os versos dos meus poetas de todas as horas, certas pinturas, algumas fotos, determinadas músicas (como resistir a "Mon coeur s'ouvre a ta voix" e não partilhar essa sensação?), os mistérios do teatro (a mais intensa de todas as formas artísticas), a magia da dança, os filmes de autor, as ruas, ruelas e becos quando nelas me perco, as esplanadas de Lisboa, cidade que incita a “esplanar” durante quase o ano inteiro, acantoadas nos bairros antigos, em espaços abertos ao Tejo ou como autênticos oásis no meio da capital que lateja. Tal como Jorge Silva Melo, “gosto de manter na frase o ondulado da fala, de pontuar respirações, de acrescentar adjectivos, serpentear pela semântica, que finjo fácil e queria valsejante, ou dançando breve slow.” (in TOut, 2008). Quando escrevo penso apenas em exorcizar sensações, descrevê-las, vivê-las. Simpatizo com Jean Cocteau quando diz que escrever é batermo-nos com tinta para nos fazermos compreender. Mas como confessa Lobo Antunes: [escrever] “Dá um trabalho do caraças! Despentear a prosa de maneira que aquilo seja feito como uma diarreia” (in JL, 1983).
A blog of one’s own (uma graça a propósito de Virgínia Woolf). Mas é assim que sinto este canto: um blog que seja meu. Um registo (quase) cronológico, actualizado de opiniões, emoções, episódios de vida, ou qualquer outro tipo de conteúdo que queira compartilhar. Umas vezes uma espécie de diário virtual, mas que pode ser muito mais do que isso. Depende apenas e só do que queira que ele seja. Um blog pode ser um pequeno cofre com palavras e com sabedoria que, com sorte, pode ficar com quem o lê algum tempo, permitindo sentir que as palavras adquirem uma espécie de asas. Um blogger é uma pessoa curiosa. Muitas vezes em contradição ou em contra-senso. Mas é, também, psicanalista: ouve muito. Um blogger é o desconhecido, é a noite, é pardacento, é assim. No fundo, um autor de um blogue é de certa forma um ladrão, um rapinador de sentimentos, de imagens, de citações. Um post é sempre feito de acanhados furtos com a vantagem de não sermos castigados.
Faz dois anos este Infinito Pessoal, onde gosto de rabiscar sem compromisso, em busca de quê a não ser de afecto?
25 comments:
Meu bom Luís
primeiro que tudo os meus parabéns pela data: dois anos de um blog é sempre lindo.
Depois porque tive o privilégio de ler o teu primeiro post (curiosa a escolha de Mª.teresa Horta...)
E principalmente porque o teu blog não é mais um blog...é o "Infinito pessoal" que melhor caracterização não poderia ter senão aquela que tu próprio fazes neste post comemorativo: a justa palavra do que é um blog com um interesse sempre presente.
Abraço muito amigo para ti, Luís.
Parabéns pelo biénio! Que venham muitos mais, escritor!
E parabéns pelo blogue teu, em que te espraias e nos deleitas, sempre e cada vez mais.
É de continuar...
Beijos
Parabéns pelo canto - de Brideshead, de ti mesmo, e, especialmente, dos Outros!
Que se mantenha por muitos mais anos (Que coluna lateral interminável, Sr. LG!)
Um grande abraço (já foi o aniversário, portanto...)
tudo o que estás a contar... e não só.
São coisas da magia.
Um forte abraço, parabéns (sabes que o teu é um dos meus blogues favoritos) e ânimo
E porque a tua escrita flui é fácil passares a mensagem resultante das tuas vivências. Continua a "blogar", os teu leitores aguardam, com expectativa, cada um dos teus post.
Parabéns ao infinitopessoal, parabéns a ti.
Boa semana!
E não é de afectos que todos precisamos? Parabéns por estes dois anos de partilha de vivências.
Um abraço.
Querido Luis,
não posso agora ler com a merecida atenção este post.
Voltarei mais tarde.
Agora só quero dar os parabéns pelo 2º aniversário do blog com mais qualidade que conheço.
Qualidade essa que advém da qualidade humana de quem o escreve.
Beijinhos e veludinhos azuis
Parabens pelos dois anos, e também era para dizer que tenho lido o teu blogue mesmo que não tenha comentádo há já um bocadinho, simplesmente sinto-me um lerdo perante tanta cultura e o meu Portugues sendo o que é, sinto me por vezes envergonhado para comentar alguma coisa.
Abraço
muitos parabéns pela data. gostio muito do infinito pessoal, e revejo-me nele, nalgumas coisas, apesar de não ter a tua erudição.
um abraço,
miguel
Uma boa justificação para dizer o quão bom é ler e reler este blogue. Se é só teu, isso já não sei...
Acho que um pedaço dele já o tenho em mim!
Abraço
Descobri tão tarde o teu blog...
Ora, não descobri nada - vou sempre a tempo de me deliciar com o que escreves. O que me leva a vir aqui é que traças uma linha oblíqua de sugestões, pensamentos e comentários que me refrescam o pensamento. Nos tempos que correm, isso vale incenso (para mim, o teu blog é também um turíbulo cultural com que me perfumo periodicamente).
Venham mais muitos. :)
Parabéns Luís!
O teu blog é uma referência e uma visita obrigatória sempe que navego, ainda que comente pouco.
Abraço
Os meus parabéns, sabes como gosto do teu blogue.
Com palavras não sei bem expressar sentimentos, se pudesse deixava aqui uma imagem com todo o prazer.
De afectos, claro.
Beijinho, Luís.
afectuosamente. grata. pela companhia ao longo do tempo.
nunca pardacento. antes com asas. de uma liberdade sentida e re.escrita.
beijo.
Salvé e PARA-BENS! - já que este blog é um dos seus BENS...maiores, segundo de constou.
Vim pela mão de 2 "amigos", comuns: Pinguim e In-Senso e que bom foi, chegar aqui e apreciar o que nos pretende revelar.
Boa escolha a de Caravaggio e o clip musical, para além de tantas outras coisas...
BRAVOOOOOO! - este é o som que eu ouvia em todas as representações, por esta nesta terra de Descobridores - agora por demais descobertos...até ao "acento ortográfico"!
Mas quanto a este post, não posso estar mais em desacordo consigo e peço desculpa pela deselegância desta primeira abordagem. É que li coisas tão excepcionalmente boas e cativantes...que não vejo ou sinto unidade nestas palavras que nos conta de:
afectos!
É que por vezes o desenfreado querer de sensações...aefctivas, não passam de jogos de separatividade que servem apenas a nossa mente. O coração..esse não! Esse é manso, não é egoísta, não é falso, não trai, não desune...não mente...é por isso a maioria anda enganada.
Deixo a questão: prefere amar, ou gostar mentalmente e nunca se dar por satisfeito? a escolha é sua. - a vida é feita delas e por elas, portanto.
Mariz
ESPAVO! - como em MU
Podias ter aproveitado o aniversário... Também tu velha carcaça!
Embora nem sempre tenha oportunidade de vir aqui, é sempre com imenso prazer que te leio, mesmo que não comente. :)
Espero sinceramente que que andes por aqui mais alguns anos pois senão ficaria sem as dicas culturais (nomeadamente as de cinema e livros).
Beijinho de parabéns
E ainda bem que o faz caro Luís, porque é um prazer visitar um blog com a qualidade do seu. Espero que continue por muitos mais
boa semana
Parabéns pelo aniversário!
Quem acompanha de perto, sabe da tua sensibilidade, criatividade e gosto pela escrita.
É bom poder partilhar algumas vivências e vê-las tão bem expressas neste espaço.
Obrigada por seres assim!
LL
o
Parabéns, Luís! Pelos dois anos de Infinito Pessoal e pelos bons posts que ele contém!
Tomara que continue e sempre disposto a mostrar-nos os seus "apontamentos"!
Concordo: há um quê de furtivo nesta actividade. Que só se redime pela partilha! :)
Só hoje vi este post porque tenho andado por fora, mas hoje vim visitar os amigos e não quero deixar de dar os devidos parabéns pela data, embora atrasados.
Que a estes dois se somem muitos mais.
um abraço
Luís
Muitos Parabéns
um pouco atrasados
peço desculpa, só hoje o pude visitar. Gostei de ler o que escreve sobre o blog, o seu e os outros todos...
Passo a citar:
..."Um post é sempre feito de acanhados furtos com a vantagem de não sermos castigados..."
Não entendi, mas se o diz, o Luís é que sabe!!!
Belos dois anos passei neste Infinito Pessoal.
Continue a rabiscar sem compromisso...
Gostei de saber que aqui está em busca de quê a não ser de afecto?
Bom fim de semana.
Bons banhos de praia ou de rio.
raisparta o meu atraso, mas não podia deixar de te dar os parabéns por estes dois anos de partilha, mais: de injecções de cultura, que até me fazem sentir pequeno. mas gosto da tua pergunta retórica: o afecto; e gosto também da definição de blog e de blogger. só espero ter tempo e paciência para pôr mãos à obra para ouvir os outros que ultimamente só me tenho ouvido a mim próprio e esquecido os outros. acho que o tempo faz de nós grandes ególatras.
Um grande abraço e obrigado pelo teu afecto!
Uma sugestão amiga trouxe-me a este espaço.
Belíssimo! Pertinente e enriquecedor!
Obrigado, pela parte que me toca.
Voltarei.
Post a Comment