Tuesday, July 29, 2008

o livro como uma viagem…


But I who have criss-crossed the globe
being, as it were, doubly cognizant,
remain at heart a deluded peasant
whom my sufferings have not ennobled.

—From “Julga-me a gente toda por perdido”

“Collected Lyric Poems of Luís de Camões” acaba de ser publicada nos Estados Unidos, numa tradução do académico Landeg White. A obra tem carimbo da reconhecida Princeton University Press, que assinalou tratar-se da primeira colectânea em inglês da poesia lírica desta figura cimeira da língua e da literatura portuguesas. Para a editora, a lírica de Camões é bastante para o poeta ser colocado entre os grandes, mesmo se nunca tivesse escrito “Os Lusíadas”: “Luís de Camões é célebre em todo o mundo como o autor da grande épica do Renascimento, 'Os Lusíadas', mas a sua enorme e igualmente grande obra de poesia lírica é praticamente ignorada fora do seu país”; "Camões foi o primeiro grande artista europeu a atravessar o hemisfério sul e a sua poesia é marcada por quase duas décadas passadas no norte e leste de África, Golfo Pérsico, Índia e Macau. Desde uma elegia em Marrocos a um hino escrito no Cabo Guardafui na ponta norte da Somália, até aos primeiros poemas modernos de amor a uma mulher não europeia, essa lírica reflecte os encontros de Camões com lugares e povos radicalmente desconhecidos", lê-se ainda. A antologia está organizada de acordo com as viagens do poeta renascentista, “o que permite a leitura do livro como uma viagem”. A nota refere Richard Howard, editor da série Lockert Library of Poetry in Translation, como tendo afirmado que a antologia agora publicada é "a treasure! This book makes available for the first time in English a unique body of Renaissance poetry and a great classic of Western literature”.

Li a brilhante introdução de Landeg White aqui. E só posso acrescentar que venero a pena do Príncipe dos Poetas e o que escreve e sofre. Em Camões arrebata-me a ideia que passa de que o amor só vale a pena quando é complexo, e contraditório…

14 comments:

D. Maria e o Coelhinho said...

complexo, e contraditório…!


concordo plenamente, mas de que vale a minha concordância ou não!?

ora, para mim a minha opinião conta.

adeus

obrigado


coelhinho

Anonymous said...

“Amor, que o gesto humano na alma escreve (…)”
Luís Vaz de Camões
Parabéns, a ele também…, por nos ter deixado um dos maiores legados da Humanidade.
É com orgulho que tomo conhecimento desta publicação sobre lírica camoniana.
Camões, príncipe dos poetas do seu tempo, teve o triste fado de morrer só e ao abandono, como a maioria dos génios portugueses.
Está sempre presente em mim uma citação que li numa obra de José-Augusto França aquando da partida de muitos artistas para Paris, no início do século XX, dizendo qualquer coisa como: ” Vai para fora (…) e não voltes (…) morrerás de fome [em Portugal].” Estas eram as palavras de despedida proferidas na época. Todavia, no caso de Camões, o destino vai-se cumprindo.
“Em Camões arrebata-me a ideia que passa de que o amor só vale a pena quando é complexo, e contraditório…”
Um amor complexo e contraditório é “(…)fogo que arde sem se ver (…).”
Só no Amor conseguimos explicar o inexplicável, mesmo que o Amor nunca se consiga explicar. Mas , ainda assim, gostamos de o explicar!
Contraditório? Não para os amantes… eles amam-se. Traduzir contradições em vivências, simplificar o complexo, não será isso o amor?
Quanto mais contraditório mais apetecível, mais sofrido, mais sentido, mais pensado e questionado, daí mais complexo.
Só há contradição e complexidade devido à cultura que transportamos e carregamos. Ela aprisiona! Amasse e pronto! Todo o resto são coisas da vida.
Um Amor aparentemente contraditório e complexa não deixa de ser AMOR… Possivelmente, reside nesse amor, mais AMOR.

Carlos Faria said...

neste caso prefiro ler o autor na sua própria língua, mas é com orgulho que recebo a informação de que num país que muitos julgam ser o próprio mundo, alguém ali reconhece a grandeza de Camões, coloca-o ao dispor daquele império e com rasgados elogios. Ainda bem que aos poucos a nossa literatura vai sendo descoberta.

João Roque said...

Camões, sim, ele foi, é e será sempre o maior...
Abraço.

BlueVelvet said...

Luis,
sublime este post.
Como sublime foi Camões.
Como sublime é o amor, naturalmente complexo e contraditório.
Beijinhos e veludinhos azuis

Tongzhi said...

Tomei conhecimento da Lírica de Camões já depois da "época escolar". No meu tempo só se dava na escola o Camões épico, ou seja, Lusíadas.
Ainda gostava de "saber mais" sobre essa vertente de Camões... mas o tempo não chega para tudo!!!

Special K said...

"This book makes available for the first time in English a unique body of Renaissance poetry and a great classic of Western literature”

"Pela primeira vez em inglês".

Camões foi um dos maiores, senão o maior poeta do seu tempo. Como português sinto-me tão pequenino ao ler isto. Se fosse inglês seria mais famoso que Shakespeare.
Foram precisos quase cinco séculos, mas mais vale tarde do que nunca.
Um abraço

Pena said...

Estimado e Genial Amigo:

O seu imenso interesse pela beleza dos escritores portugueses de ontem, expressa-se numa admirável pesquisa sobre o que é feito pelo mundo fora sobre eles.
Este Post é perfeito.
Se estes soberbos e valiosos poetas, como Luís de Camões, esse vulto enorme da poesia Mundial, fosse vivo coraria de gratidão pelo que faz com dedicação e poder imenso de cativar as pessoas.

Saliento um precioso trecho do seu sensível pormenor de maravilhar tudo e todos pela significação do seu poder investigativo brilhante e valioso:

"...“Luís de Camões é célebre em todo o mundo como o autor da grande épica do Renascimento, 'Os Lusíadas', mas a sua enorme e igualmente grande obra de poesia lírica é praticamente ignorada fora do seu país”; "Camões foi o primeiro grande artista europeu a atravessar o hemisfério sul e a sua poesia é marcada por quase duas décadas passadas no norte e leste de África, Golfo Pérsico, Índia e Macau. Desde uma elegia em Marrocos a um hino escrito no Cabo Guardafui na ponta norte da Somália, até aos primeiros poemas modernos de amor a uma mulher não europeia, essa lírica reflecte os encontros de Camões com lugares e povos radicalmente desconhecidos", lê-se ainda."

É um Ser Humano fantástico.

Abraço forte de amizade e estima sincera.
Vou lê-lo mais assiduamente se mo permitir e desejar.
Perfeitamente admirado pelo que "constrói" com empenho e dedicação.

pena

OBRIGADO agradecido pela simpática visita que me fez.
OBRIGADO!

sofialisboa said...

parabens pela divulgação deste nosso Poeta Luis de Camões, só mesmo um poeta para falar de amor, seu sentir, seu amar assim...sofialisboa

ivone said...

discordo

vale sempre a pena mesmo que não seja contraditório e complexo e só porque é amor

tulipa said...

Mais uma bela partilha.
OBRIGADO.


Ando tensa
grito
fujo de mim
de todos;
ignoro o mundo
fecho os olhos
tento dormir
esquecer...

Convido-te para umas férias na Isla Canela, queres vir?

Beijinhos

Wolf said...

adorei o blogue

e Camões é um porta estandarte nacional.

maravilhoso


abraço

Victor Oliveira Mateus said...

A lírica de Camões sempre me fascinou: o ideal de mulher, a noção (platónica) de amor, etc.,etc. Mas no outro dia a Amélia
Pais ( do "Ao longe barcos de flores") disse-me algo que me tem martelado a cabeça: neste momento
começo a suspeitar que não me ensinaram a Épica dele da melhor forma... É pena! Vou continuar
(apenas) agarrado à lírica. Quanto
à relação amor/complexidade, meu caro Luís, não ando em condições
para falar disso, mas tenho pena que a tese do "Fedro" não possa,
hoje, ser verdadeira e praticável... Um abraço.

com senso said...

Que magnifica notícia!
Mais uma boa surpresa que nos é passada por este excelente blog.
Eu gostaria de saber o suficiente de inglês para poder avaliar em toda a sua extensão a qualidade da tradução.
A lírica de Camões é belissima, não só pela sua conceptualidade genial, mas também pela forma como trabalhou a lingua portuguesa, dando uma musicalidade aos seus poemas que ainda hoje, apesar a evoluçáo da lingua, se mantém.
Seria magnifico que a tradução fosse representativa de toda a qualidade estética da poesia de Luís Camões.
Parabéns por este belo post!