Instalado em frente ao Carnegie Hall a estadia em Nova Iorque soou-me a música celestial. Mas o que rabiscar acerca de uma cidade sobre a qual já foi tudo dito? Nada de diferente. Ou tudo, pois Nova Iorque renova-se a cada momento. É uma onda de luzes, cores, odores, barulho e gente, uma metrópole multicultural e multiétnica onde tudo pode acontecer. Seria redundante averbar aqui tudo o que há para ver – guias há muitos e um único post não comporta toda a arquitectura e escultura públicas, todos os centros culturais, todos os museus e galerias de arte, todas as ruas e avenidas e todos os parques. Do elitista Upper East Side ao revigorado Theater District, passando pelo MeatPacking, o bairro da moda, aos distintos hotéis de artistas, quase todas as esquinas (e recantos) de Nova Iorque são matéria para uma curta/média/longa-metragem. Não vou dissertar acerca do tempo que passei em terras nova iorquinas, gostaria apenas de me centrar em alguns momentos e lugares: no Lincoln Center for the Performing Arts; no Museum of Modern Art (MoMA); no Metropolitan Museum of Art e nos palcos da (e off) Broadway. Ao regressar a Nova Iorque, a principal dificuldade é decidir o que fazer: dos célebres ícones da maior cidade dos Estados Unidos à diversidade e carácter de cada um dos cinco distritos da grande metrópole (Bronx, Brooklyn, Manhattan, Queens e Staten Island), a escolha é tão esmagadoramente vasta que talvez o melhor seja reconhecer que não se pode abarcar tudo e simplesmente fruir do facto de ali estar e de poder respirar a atmosfera enérgica e a surpreendente força da cidade. Nova Iorque exerce uma pujante atracção e já se me tornaram familiares os seus impressionantes museus, as artérias congestionadas, a movimentada Chinatown, a Grand Central Terminal, célebre estação de comboios que foi cenário de um beijo entre o fugitivo Gregory Peck e Ingrid Bergman no Spellbound de Hitchcock, o American Museum of Natural History, maior museu de história natural do mundo, os teatros da Broadway, da off (e da off off), os terraços com magníficas vistas sobre a cidade, a livraria Barnes & Noble, a New York Public Library, uma das principais bibliotecas públicas do mundo, os clubes de jazz de Greenwich Village ou as atracções do Central Park, entre outros lugares. Contudo, o maior prodígio da Big Apple é provavelmente a população multicultural que garante a identidade da cidade, mantendo-a viva 24 horas por dia com a sua gama de matizes, estilos de vida, costumes e tradições, assimetrias e, necessariamente, conflitualidades. Não será, pois, de estranhar que se falem perto de 170 idiomas ou que tenha sido berço de múltiplos movimentos culturais em todas as áreas. Mesmo depois do golpe desferido pelos atentados, Nova Iorque mantém uma coreografia única; a city that never sleeps oferece praticamente tudo o que eu posso imaginar nos meus sonhos mais inverosímeis. E, embora possa permanecer semanas em Nova Iorque e apenas consiga vislumbrar aspectos superficiais da metrópole, há experiências e locais que não consinto perder.
Nova Iorque é surpreendente. Porquê? Não sei, diria que é uma questão de chama e que qualquer apreciação racional viria a despropósito. Foi entusiasmado que me senti na primeira visita e repete-se a paixão quando ali regresso. Nova Iorque é um work in progress, caótica, barulhenta e poluída, não tem a imponência aristocrática de Paris, a beleza, a cor e a história de Roma, o mistério das cidades escandinavas, o civismo de Viena ou a luminosidade de Lisboa. Também não tem grandes monumentos, nem edifícios seculares e não é propriamente acolhedora. E, no entanto, a sua energia cultural seduz e vicia. Talvez sejam as luzes que ofuscam, a veemência electrizante que se vive nas suas vias, a rapidez com que tudo se passa, o turbilhão de gente, a sensação de poder, de que ali tudo pode acontecer. Tentadora, a "maçã" atrai, deixa saboreá-la e depois aprisiona. Há quem compare a cidade a uma serpente cujo olhar nos seduz. Depois, prende para sempre. Mas não será esse o segredo e fascino de uma paixão?
Ao aterrar de olhos bem abertos em Times Square julgo que estou dentro do Blade Runner, a observar a paisagem nocturna e, entre a multidão que passa, o meu olhar dirige-se em direcção às luzes e aos cartazes publicitários coloridos da Broadway. Pareço um recém-chegado tal a expressão de espanto, mas também pouco importa porque é impossível ficar indiferente ao espectáculo, como se estivesse no palco do mundo, um lugar essencial onde tudo se passa ao mesmo tempo e tudo se vê. Edifícios todo-poderosos, o glamour do néon que ilumina a noite escura, várias músicas de fundo, um cowboy sem roupa, mas de guitarra em punho, um baterista à procura do sucesso, um homem travestido de noiva, o vendedor da Gray Line New York Sightseeing em delírio por mais uma venda de bilhetes, sirenes da polícia, o ronco do metropolitano e o rumor da respiração simultânea de milhões de pessoas...
Em dia meteorologicamente ciclotimico, entre trovoadas e sol abrasador, refugio-me no Gerald Schoenfeld Theatre, curiosamente a mesma sala onde há três anos assisti a uma peça de Edward Albee, com Kathleen Turner em Who´s Afraid of Virginia Woolf? Mas é à noitinha que me delicio numa das maiores instituições de música erudita do mundo: Lincoln Center/ Avery Fisher Hall e o seu Mostly Mozart Festival. Obviamente que não posso comparar o Chorus Line ou o Gypsy (que vi com agrado e o coração apertado devido ao talento da Patti Lupone, naquela espécie de King Lear do musical) com a voz da cantora lírica alemã Christiane Oelze e a batuta de Louis Langrée. Só mesmo eu que esquizofrenicamente troco um punhado de dólares por um espectáculo em qualquer sítio, desde um vão de escada a uma sala imperial, salto de registo em registo. Psicanálise exige-se, ou talvez não, que se lixe. Sou extraordinariamente feliz numa plateia, embora cada vez mais severo…E a propósito de exigência caminho para ruas fora dos grandes holofotes onde encontro Titus Andronicus, uma peça fora de qualquer chancela comercial num teatro gerido à laia de Woody Allen chamado The Archlight Theatre. Ali o texto é sério – ao contrário do que escreveu T.S.Eliot, “One of the stupidest and most uninspired plays ever written” –, interpretações cuidadas, cadeiras rotas, palco desnudado, o vizinho do lado descalço, um homem que me pede para guardar o lugar enquanto sai por uns instantes, ainda que a sala esteja vazia, dois negros na fila da frente de mãos dadas, a senhora da bilheteira com a vozinha irritantemente fina, a visão independente do teatro em todo o seu esplendor e o público em menor número que o elenco. Não sei se melhor que a Cornucópia (refiro-me à adaptação que a Companhia de Luís Miguel Cintra fez daquela peça de Shakespeare), não, claro que não, mas decididamente diferente da maioria do que se faz cá e lá. E foi, igualmente, com chuva torrencial que fui brindado à saída deste curioso teatro da 152 West 71st Street.
Além do teatro (de algum teatro, cada vez mais off Broadway) os territórios museológicos assumem a minha preferência. Nova Iorque possui muitos tipos de museus, suportados por uma prática mecenática corrente. O Metropolitan Museum of Art é o maior museu dos Estados Unidos e exibe actualmente a maior retrospectiva dos últimos 40 anos sobre Turner, a qual se converteu num acontecimento cultural na cidade. Para a ocasião, reuniram-se cerca de 150 obras, 85 das quais procedentes da Tate Britain, onde se guarda uma grande parte do denominado Turner Bequest, um conjunto de aproximadamente 100 óleos cedidos pelo artista à Grã-Bretanha e entre os quais se encontram alguns dos seus trabalhos mais relevantes. Esta mostra que agora pude contemplar no MET, com a qual se desenha um percurso completo por toda a produção de Turner, de forma cronológica e temática, divide-se em dez deslumbrante partes e por elas inquieto me perdi …
Muitos museus especializaram-se, como o Museum of Modern Art e o controverso Guggenheim Museum, de Frank Lloyd Wright. E imperdoável seria se lá não voltasse. O MoMA mostra como Salvador Dali se intoxicou e se deixou contaminar pelo cinema: “Estou em Hollywood, onde entrei em contacto com os três surrealistas americanos, Harpo Marx, Walt Disney e Cecil B. DeMille. Acredito tê-los intoxicado e que as possibilidades para o surrealismo aqui se tornem uma realidade.” Na carta endereçada a André Breton, Dalí afirmava sua afinidade com três dos maiores ícones do cinema americano comercial. Dali que de forma brilhante interage com lagostas e línguas gigantes foi convidado pelos grandes estúdios a desenhar sequências oníricas de realizadores como Fritz Lang e Hitchcock. O pintor armazenou muito da visão vanguardista e “alucinógena” que marcou a sua pintura e a sua estreia no cinema em parceria com Luis Buñuel. Essa fertilização mútua entre cinema e pintura é o tema da interessante exposição Dali: painting and film.
Em velocidade de cruzeiro revisitei a gigantesca concha branca que é o Guggenheim e dei conta que Louise Bourgeois ali habita por uns meses. A construção da artista plástica é uma triunfante afirmação da existência iluminada pela libido. Nessa obra biográfica e erotizada, transformar materiais em arte é uma conversão física. Esta destreza retira a mulher da sombra da história da arte. Depois de Bourgeois, o universo artístico já não será de mulheres no mundo dos homens, nem têm de falar aí a linguagem dos homens, mas tornar presente o seu próprio desejo. Namorei o catálogo, folhei-o atentamente e adiei a aquisição.
Nova Iorque, sexta-feira à tarde. Despeço-me da cidade com um Blackberry Lemonade bebido apressadamente num bar de hotel da 7th Avenue…
P.S - Não resisti e numa sala de cinema da Broadway assisti à adaptação da obra-prima de Evelyn Waugh: Brideshead Revisited. Não comparo com o livro, nem com a série e antes de ler qualquer critica mergulhei nos anos 20 e acompanhei Charles Ryder e Sebastian Flyte. Não obstante tudo o que se venha a ser dito a propósito e presumo que não seja pouco posso confessar que saboreei esta outra visão da obra.
Nova Iorque é surpreendente. Porquê? Não sei, diria que é uma questão de chama e que qualquer apreciação racional viria a despropósito. Foi entusiasmado que me senti na primeira visita e repete-se a paixão quando ali regresso. Nova Iorque é um work in progress, caótica, barulhenta e poluída, não tem a imponência aristocrática de Paris, a beleza, a cor e a história de Roma, o mistério das cidades escandinavas, o civismo de Viena ou a luminosidade de Lisboa. Também não tem grandes monumentos, nem edifícios seculares e não é propriamente acolhedora. E, no entanto, a sua energia cultural seduz e vicia. Talvez sejam as luzes que ofuscam, a veemência electrizante que se vive nas suas vias, a rapidez com que tudo se passa, o turbilhão de gente, a sensação de poder, de que ali tudo pode acontecer. Tentadora, a "maçã" atrai, deixa saboreá-la e depois aprisiona. Há quem compare a cidade a uma serpente cujo olhar nos seduz. Depois, prende para sempre. Mas não será esse o segredo e fascino de uma paixão?
Ao aterrar de olhos bem abertos em Times Square julgo que estou dentro do Blade Runner, a observar a paisagem nocturna e, entre a multidão que passa, o meu olhar dirige-se em direcção às luzes e aos cartazes publicitários coloridos da Broadway. Pareço um recém-chegado tal a expressão de espanto, mas também pouco importa porque é impossível ficar indiferente ao espectáculo, como se estivesse no palco do mundo, um lugar essencial onde tudo se passa ao mesmo tempo e tudo se vê. Edifícios todo-poderosos, o glamour do néon que ilumina a noite escura, várias músicas de fundo, um cowboy sem roupa, mas de guitarra em punho, um baterista à procura do sucesso, um homem travestido de noiva, o vendedor da Gray Line New York Sightseeing em delírio por mais uma venda de bilhetes, sirenes da polícia, o ronco do metropolitano e o rumor da respiração simultânea de milhões de pessoas...
Em dia meteorologicamente ciclotimico, entre trovoadas e sol abrasador, refugio-me no Gerald Schoenfeld Theatre, curiosamente a mesma sala onde há três anos assisti a uma peça de Edward Albee, com Kathleen Turner em Who´s Afraid of Virginia Woolf? Mas é à noitinha que me delicio numa das maiores instituições de música erudita do mundo: Lincoln Center/ Avery Fisher Hall e o seu Mostly Mozart Festival. Obviamente que não posso comparar o Chorus Line ou o Gypsy (que vi com agrado e o coração apertado devido ao talento da Patti Lupone, naquela espécie de King Lear do musical) com a voz da cantora lírica alemã Christiane Oelze e a batuta de Louis Langrée. Só mesmo eu que esquizofrenicamente troco um punhado de dólares por um espectáculo em qualquer sítio, desde um vão de escada a uma sala imperial, salto de registo em registo. Psicanálise exige-se, ou talvez não, que se lixe. Sou extraordinariamente feliz numa plateia, embora cada vez mais severo…E a propósito de exigência caminho para ruas fora dos grandes holofotes onde encontro Titus Andronicus, uma peça fora de qualquer chancela comercial num teatro gerido à laia de Woody Allen chamado The Archlight Theatre. Ali o texto é sério – ao contrário do que escreveu T.S.Eliot, “One of the stupidest and most uninspired plays ever written” –, interpretações cuidadas, cadeiras rotas, palco desnudado, o vizinho do lado descalço, um homem que me pede para guardar o lugar enquanto sai por uns instantes, ainda que a sala esteja vazia, dois negros na fila da frente de mãos dadas, a senhora da bilheteira com a vozinha irritantemente fina, a visão independente do teatro em todo o seu esplendor e o público em menor número que o elenco. Não sei se melhor que a Cornucópia (refiro-me à adaptação que a Companhia de Luís Miguel Cintra fez daquela peça de Shakespeare), não, claro que não, mas decididamente diferente da maioria do que se faz cá e lá. E foi, igualmente, com chuva torrencial que fui brindado à saída deste curioso teatro da 152 West 71st Street.
Além do teatro (de algum teatro, cada vez mais off Broadway) os territórios museológicos assumem a minha preferência. Nova Iorque possui muitos tipos de museus, suportados por uma prática mecenática corrente. O Metropolitan Museum of Art é o maior museu dos Estados Unidos e exibe actualmente a maior retrospectiva dos últimos 40 anos sobre Turner, a qual se converteu num acontecimento cultural na cidade. Para a ocasião, reuniram-se cerca de 150 obras, 85 das quais procedentes da Tate Britain, onde se guarda uma grande parte do denominado Turner Bequest, um conjunto de aproximadamente 100 óleos cedidos pelo artista à Grã-Bretanha e entre os quais se encontram alguns dos seus trabalhos mais relevantes. Esta mostra que agora pude contemplar no MET, com a qual se desenha um percurso completo por toda a produção de Turner, de forma cronológica e temática, divide-se em dez deslumbrante partes e por elas inquieto me perdi …
Muitos museus especializaram-se, como o Museum of Modern Art e o controverso Guggenheim Museum, de Frank Lloyd Wright. E imperdoável seria se lá não voltasse. O MoMA mostra como Salvador Dali se intoxicou e se deixou contaminar pelo cinema: “Estou em Hollywood, onde entrei em contacto com os três surrealistas americanos, Harpo Marx, Walt Disney e Cecil B. DeMille. Acredito tê-los intoxicado e que as possibilidades para o surrealismo aqui se tornem uma realidade.” Na carta endereçada a André Breton, Dalí afirmava sua afinidade com três dos maiores ícones do cinema americano comercial. Dali que de forma brilhante interage com lagostas e línguas gigantes foi convidado pelos grandes estúdios a desenhar sequências oníricas de realizadores como Fritz Lang e Hitchcock. O pintor armazenou muito da visão vanguardista e “alucinógena” que marcou a sua pintura e a sua estreia no cinema em parceria com Luis Buñuel. Essa fertilização mútua entre cinema e pintura é o tema da interessante exposição Dali: painting and film.
Em velocidade de cruzeiro revisitei a gigantesca concha branca que é o Guggenheim e dei conta que Louise Bourgeois ali habita por uns meses. A construção da artista plástica é uma triunfante afirmação da existência iluminada pela libido. Nessa obra biográfica e erotizada, transformar materiais em arte é uma conversão física. Esta destreza retira a mulher da sombra da história da arte. Depois de Bourgeois, o universo artístico já não será de mulheres no mundo dos homens, nem têm de falar aí a linguagem dos homens, mas tornar presente o seu próprio desejo. Namorei o catálogo, folhei-o atentamente e adiei a aquisição.
Nova Iorque, sexta-feira à tarde. Despeço-me da cidade com um Blackberry Lemonade bebido apressadamente num bar de hotel da 7th Avenue…
P.S - Não resisti e numa sala de cinema da Broadway assisti à adaptação da obra-prima de Evelyn Waugh: Brideshead Revisited. Não comparo com o livro, nem com a série e antes de ler qualquer critica mergulhei nos anos 20 e acompanhei Charles Ryder e Sebastian Flyte. Não obstante tudo o que se venha a ser dito a propósito e presumo que não seja pouco posso confessar que saboreei esta outra visão da obra.
47 comments:
N.Y.
Esta cidade esmaga-me.
Não a conheço mas sempre que leio sobre ela um estado algo depressivo se instala em mim.
É a cidade que mais ambiciono conhecer.
Mas por onde começar a sua conquista?
Tenho que tomar coragem e partir.
Que fosse já amanhã.
GRITOMUDO
Luís
estou sem fôlego...
É um retrato sintético, quanto possível, de uma cidade que ambiciono visitar, mas que ao mesmo tempo quase me amedronta com tamanha oferta de todos os níveis de tudo o que há; fazer opções é fundamental e receio optar pelo óbvio em detrimento do "necessário".
O teu texto é notável, e se um dia for a N.Y., serias decerto a companhia ideal.
Abraço.
Uma semana na «the'apple would» deixa qualquer um maravilhado...
Bem-vindo, beijinho*
e assim revejo NY através de tuas palavras.
Cumprimentos
“ (…) Nova Iorque é um work in progress, caótica, barulhenta e poluída, não tem a imponência aristocrática de Paris, a beleza, a cor e a história de Roma, o mistério das cidades escandinavas, o civismo de Viena ou a luminosidade de Lisboa (…)”
"Não há segunda oportunidade para uma primeira impressão" dizem os especialistas de turismo da Universidade de Cornell.
Quando estive em NY senti falta de todo o espírito europeu.
Sinto-me em casa com o "glamour" de Paris.
Vivi em solo americano um mês consecutivo, Julho de 2004, e foi com enorme dificuldade que sobrevivi… Só me senti enquadrada nos locais onde se respirava cultura, porque a linguagem e sentimento são entendíveis.
Estive indecisa entre Inglaterra e E.U.A., mas o desejo de conhecer outra realidade, o novo centro de cultura, impunha-se.
Sobrevivi porque estava integrada num grupo de estudo na Cornell University. O objectivo era desenvolver o domínio da língua inglesa (em solo americano). Entre nipónicos, libaneses, espanhóis, chineses, indonésios, peruanos, suecos, apaixonei-me pelo Médio Oriente, mais propriamente, pelo Líbano. No Líbano, desde tenra idade, aprende-se o árabe, seguido do francês e, posteriormente, o inglês. O árabe, língua materna; o francês, língua colonial; o inglês, língua de negócios. Ouro sobre azul! (Ainda estou em dívida para com “Beirute”…) Passei o tempo na língua colonial. Entendi que o meu enorme investimento em Latim e Grego me havia distanciado, em demasia, da língua do actual mundo. As ordens mundiais mudam…
O que me atrai na América (se é que me atrai alguma coisa!) é o progresso, no fundo, o seu poderio económico, pois é disso que se trata. O poder económico movimenta as forças artísticas… Argan, num dos seus livros, questiona-se sobre o futuro da obra de arte… Será que a sua não existência poderá vir a ser entendida como uma nova existência? Vivemos num tempo onde tudo é cultura! Onde tudo é histórico, quando raras são as situações onde o valor histórico está implícito. Crasso erro a tentativa de remediar a falta de sensibilidade histórico-cultural de anteriores décadas. Este progresso assemelha-se, em muitas situações, a um enorme retrocesso.
Os artistas são os senhores que ousam exprimir e sentir por nós, que ousam viver. Mas viver, em muitos casos, pagou-se caro, muito caro.
Nada inocente a foto de abertura do "post".
Um país de progresso, devia cuidar mais da miséria humana anónima… a velocidade é gigante e um simples intervalo para almoço faz-se em suspensão.
...
caro luis,
é por estas e por outras que o teu blogue está entre os meus 5 blogues favoritos!!!
tu já sabias que eu era teu fiel leitor, mas hoje sabes mais este pormenor.
OBRIGADO!
gosto muito da tua forma de escrever e sobretudo da maneira discreta, sóbria e inteligente como narras acontecimentos, factos ou histórias.
parabéns...
um abraço e a minha estima!
aprende se mt aqui:)
já cá tinha vindo, ver se tinhas voltado, hoje voltei a viajar contigo, pelas tuas palavras, pela energia que escreves cada momento vivido, é bom ver pessoas assim. gosto de te ter de volta mas quero mais palavras também. sofialisboa
NY foi a última grande cidade que visitei, estão a completar-se agora 8 meses sobre os 8 dias que ali passei, devorando musicais na broadway (nomeadamente Chorus line), indo à ópera, subjugado por museus, galerias, livrarias, discoteca do Lincoln Center, esmagado por néons, arranha céus, trânsito caótico e pessoas a correr, confuso pelo luxo e miséria lado a lado exibido por rosto de todas as etnias e línguas conhecidas... bem, que dizer de NY, uma cidade que admiro e tão diferente da quase minha Toronto, NY é o ponto de encontro em equilíbrio de tudo o que de bom e mau a civilização humana construiu nos últimos séculos.
Vamos por partes: concordo com o comentário da Sílvia, apesar de
que essa ideia de que os States são
um poderio económico é hoje apenas um mito. Alguns economistas e politólogos chamam-lhe: "a nação predadora",aquela que sobrevive através de remendos feitos com o que suga
nas outras (Emanuel Todd, René Passet, etc.), exceptuando o Jean
François Revel, já ninguém acredi-
ta na ideia de "um império", nem os
economistas mais neoliberais - Roma cai a partir do seu interior!
Um espectro que sobrevive a si pró-
prio. Mas o que me impressionou no
post do Luis foi: a qualidade e a rique
za da escrita, aforma como recupera
a tão desacreditada literatura de
viagens, a forma como retrata todo
o fervilhar cultural (para mim aqueles momentos intensos que todos
os moribundos têm)... tudo isso é
feito como uma qualidade
essencial:a AUTENTICIDADE. Não há
verdade em arte, há autenticidade!
O autor do post não só escreve, mas
escreve-se, acredita (coisa tão boa
ainda!), leva-nos pela mão, aponta,
encantado dá-nos nomes, empolgamo-
nos com ele... Até eu, que nunca fui a N.Y. nem penso lá ir, que não troco Londres, Paris, etc. por nada deste mundo... até eu, dizia,
depois de ler, fiquei feliz por ter
estado em N.Y. (?) e afinal até conseguir ter gostado. Gostei tb do
excerto: "exige-se Psicanálise, ou talvez não(...)sou feliz". É lindo!
Para quê a Psicanálise se gostamos
do que gostamos de forma genuína,
quase infantil, AUTÊNTICA? Temos
direito a isso, não?! Muitos prefe-
rem retirar-se para os seus montes alentejanos... é por a diferença
ser boa, que sempre aqui venho beber o que a minha sede mitiga...
E saio daqui feliz, como se tivesse vivido algo através de ou-
trém, que, tão diferente de mim, me
sabe dar a ver...
P.S. comentário longo, mas precisa-
va de ser escrito! Abraço.
Oie lindinho! Gosto muito de suas resenhas! É fantástico seu modo de descrever e nos aguça a curiosidade de cada passo da jornada reviver.
Beijos
Olá Luís! Durante algum tempo pensei que os EUA seriam, da minha lista, um dos países que não teria vontade de visitar, mas acontece que o primo Sérgio está a trabalhar em N.Y. E agora sim, irei, sem dúvida nenhuma, assim que tiver oportunidade!! Tenho ficado curiosa por conhecer este cidade do mundo mas, confesso, os afectos estão em 1º lugar e adoro o meu Sérgio - a minha grande razão de ir a N.Y. mais depressa do que pensava... vou tentar no próximo ano ;) Beijocas!!! Mto obrigada pelo teu roteiro!!!
lovely
AMIGO
De certeza que já sabes que para completar um look o mais importante são os acessórios, hoje em dia cada vez mais usados por homens e mulheres.
Agradeço que dês a tua opinião,p.f.
LUÍS
tens razão: o que rabiscar acerca de uma cidade sobre a qual já foi tudo dito? Nova Iorque renova-se a cada momento. É uma onda de luzes, cores, odores, barulho e gente, uma metrópole multicultural e multiétnica onde tudo pode acontecer. Seria redundante averbar aqui tudo o que há para ver – guias há muitos e...
UM ÚNICO POST...que pena, devias falar em mais posts a tua opinião, acredito que tenhas muito o que contar, eu sei pois também lá estive, conheço e há sempre tanta coisa para dizer.
Beijos e abraços.
Boas férias.
Fantástico. Mesmo para quem pouco "conhece" de NY,parece que se está lá!!!
Fantástico. Mesmo para quem pouco "conhece" de NY,parece que se está lá!!!
Caro Victor
Recordo que os E.U.A.lideram os 20 países mais ricos do mundo, de acordo com os números do Produto Bruto Interno do Banco Mundial...
Mas entendo a sua observação :)
Sílvia
Namorar esta cidade a partir do teu olhar é um sentimento único... Obrigado!
Abraço,
FMOP
É de louvar todo este teu trabalho aqui apresentado no blog. Refiro-me a todos os posts, mas especialmente a este, que me cativou, pela forma minuciosa como foi descrita a Big Apple e pela água que nos fica na boca! Este texto prende-nos desde "Instalado em..." até "...outra visão da obra." Isto para não mencionar a imagem, que já fala por si!
Parabéns! Amei o post!
Beijinhos
depois de ler isto vou repensar o meu conceito de NY.
voltarei para reler algmas partes com mais calma.
bjs
Oie lindo! Passei pra saber de você e desejar um bom fim de semana!
Beijos
Chegar a um blog pela primeira vez e ouvir o tema de Brideshead Revisited assim, sem aviso, é o que eu chamo uma dádiva quase divina, um daqueles momentos especiais para todos os sentidos. Sim, eu Brideshead-maníaco me confesso... Quanto ao filme em questão, tenho que confessar os meus temores sobre a forma como se passou a história de Waugh ao grande écran. Já li perspectivas capazes de me encher do mais profundo terror, tendo em vista que existe "a" outra adaptação, e Jeremy Irons, Laurence Olivier, Claire Bloom e tutti quanti. E a música, naturalmente. Mas vou esperar para ver. No que diz respeito ao sacrilégio dos lugares, posso dizer que quando visitei Castle Howard (Brideshead no TV e agora no cinema), não consegui dissociar o local da ficção do local real e o que vi e senti e absorvi foi a residência da família Flyte, não essoutra verdadeira dos Howards do mundo de cá. Mas não me arrependi. Já agora, para não me alongar em demasia, muito bom blog. Um abraço.
Caro Luis Galego
Nova Iorque fascina-me! Estive lá uma única vez em 1996 e a primeira impressão foi de estranheza geral! Pela cidade e por mim próprio. Senti-me minúsculo! Mas depois fui-me sentindo em casa, com os museus, com os teatros, com a beleza de alguns dos edifícios, com os excelentes restaurantes, com a forma de viver dos nova-iorquinos, de que gostei muito!
Por isso, fico sempre com alguma nostalgia quando oiço ou leio os relatos de viagens a esta espantosa cidade.
Mas aqui neste blog, mais do que a nostalgia, o que me tomou de assalto, de imediato, foi o imenso prazer pela leitura da sua escrita.
Nova Iorque hoje ganhou mais luz, mais arte, mais vida!
Obrigado por partilhar de forma tão soberba as suas experiências na Big Apple!
um abraço!
Aiiiiiiiiii que vergonha... nunca lá fui... tenho andado perdido por outros lados...falta imperdoável, sei...:(((
Abraço!
Silvia,
Não me referiu isto no meu blog
(Luis, desculpe estar a tomar-lhe de assalto o blog!), é evidente
que o Banco Mundial considera...
e se considera ... mas também pode
tentar saber como funcionam essas
instituições e quem as compõe
(B.M., O.M.C., F.M.I., etc.) há
uma vasta bibliografia sobre o assunto. Apenas um exemplo: se
os judeus mais ricos da Europa, se os Árabes mais ricos do mundo, se
os chineses mais prósperos deposi-
tassem e investissem todos em meu
nome eu também era o "mais rico de "... Oh, minha cara Silvia,
agora lembrei-me de um filme antigo
onde havia um homem riquíssimo que
tinha um cheque de tal modo avultado que ninguém conseguia tro-
car... à custa desse cheque viveu
sempre bem, o problema é que um
dia perdeu o cheque. Juro que este
filme existe mesmo! Vi-o em miúdo.
Luis, perdão, mas a culpa é da Silvia que se esfuma e só a consigo
encontrar aqui neste aconchego de
palavras...Assim não vale, Silvia,
tem de lá ir falar à minha casita!
Obrigada pela visita, através das palavras, de um país que anseio visitar! Bom momento de partilha!
Boas férias Luís, se for caso disso.
Olá Victor
Eis-me aqui... o tempo é limitadíssimo, acredite!
Não interessa quem investe! o que interessa é que há quem invista... e faça do local onde se investe um padrão de cultura. O dinheiro impõe comportamentos, atitudes, valores, novas visões de ver e sentir o mundo, infelizmente ou não, depende. Não ter é quase sinónimo de não se, felizes do que têm...
Tal como a criatura do "cheque", não interessa se o perdeu ou não, mas enquanto o teve, em sua posse, fez história! Os E.U.A. escrevem-na e fazem-na escrever aos outros, segundo as suas regras.
Desculpe, mas não estou com sensibilidade para comentar a poesia escolhida do seu post, nem sempre o consigo fazer.
" ... se esfuma...", gostei da palavra.
Sílvia
Oie lindinho! Vim lhe desejar um bom final de semana! Beijos
Olá!
estou overwelmed com aquilo que li e vi neste blog. fiquei de repente muda e queda de espanto! já vivitei mtos blogs mas este deixo-me mesmo de rasto pela sua excelência!
eu sempre disse que tinha um blog para e divertir e por isso ele é light ( que pena eu tb não ser...).
já fui a NY e senti tudo aquilo que aqui escreveste e "bebi" tudo o que vi e ainda hoje quando "viajo" em pensamento é uma das primeiras cidades que visitei à qual regresso...
Mto obg pelo teu blog!
1 sorriso mto luminoso e até breve
Lana
(são as ausências que nos aproximam) Obrigado por me trazeres neste flash_back dos meus dez dias aí no último outubro. E por me guiarem até aqui, de novo!
E por ser tão bom ler-te!
Felicidades e Até Já!
Belo postal
Os povos tantas vezes
merecem mais que os seus
mandantes
gostei muito de vir aqui.
Boas viagens...
bem regressado!!! parece que foi um estoiro, como não poderia deixar de ser!...
beijosssssss
Nova Iorque continua na minha agenda de sítios a visitar. Já tive para ir lá por duas vezes, mas enguiçou... Enquanto tal, vou-me voltando para outras paragens, bem diferentes mas também muito aliciantes.
Bjs
Saudades!!!
Olá! Eu estava realizando uma pesquisa e acabei por encontrar teu blog, que adorei...
Por um acaso teu blog é que toca uma música maravilhosa? Pode me dizer qual é?
Vi teu perfil e amo o filme As Pontes de Madison County (The Bridges of Madison County) é um dos meus favoritos. A parte em que ela está ao lado do marido na picape antiga, mergulhada no sofrimento e na angustia sobre o que fazer, desce ou não do carro, eu choro toda vez, como se fosse eu...
Roberta Vieira
www.robertavieira.com.br
Brilhante Amigo:
Nova York faz parte dos meus sonhos em conhecer.
O seu Post dá-me sugestões imensas quanto à sua imensa beleza e encanto.
Um texto narrado com uma genialidade poderosa e incrível de conhecimento e talento que ninguém pode ignorar ou "permanecer" indiferente.
Da sua narração "ficou-me":
"...Não será, pois, de estranhar que se falem perto de 170 idiomas ou que tenha sido berço de múltiplos movimentos culturais em todas as áreas. Mesmo depois do golpe desferido pelos atentados, Nova Iorque mantém uma coreografia única; a city that never sleeps oferece praticamente tudo o que eu posso imaginar nos meus sonhos mais inverosímeis..."
Olhe, deve ser um sonho irreal esta metrópole plena de emoções e deslumbrantes gentes de diferentes e várias etnias no seu pleno e imenso valor precioso de agradar e deslumbrar.
Sensacional, amigo.
Ainda me cimentou mais a ânsia de visitar esta cidade que é mítica e uma preciosidade grandiosa digna dos "céus" que ficou registada em mim e no que sou.
Expectacular, o "sonho americano".
Talvez, para o ano dê lá um salto.
Fascinado pelo que refere agradavelmente e com simpatia merecida por este lugar divino e ímpar.
Abraço amigo que o respeita imenso e o estima pela soberba descrição que efectuou com genialidade através de uma escrita poderosa e soberba de beleza.
Sempre a considerá-lo
pena
NOva York, um sonho, amigo!
Há muito pouco tempo que entrei neste Infinito Pessoal, desculpem-me todos os "proprietários" dos restantes blg's, mas sinto saudade de ler mais e mais..., seria bom que regressasse...todavia, por vezes é necessáro retemperar as forças! Ficamos a aguardar, de forma a animar todo este marasmo...
Sílvia
Luis,
gostava muito de vê-lo hoje, no Bluevelvet.
Beijinhos
Nunca mais acabam estas ferias????
Olá. Obrigado pela visita. Sempre quis ir a Nova Iorque. Não o fiz ainda não sei bem porquê, mas o certo não fiz. Ao ler este texto, deu-me vontade de ir já. De conhecer a cidade mais cosmopolita do mundo, as suas obras de arte, ruas e gentes.
Abraço
Oie lindo! Passando para lhe ver e desejar um bom fim de semana! Saudade, viu? Beijos
UMa viagem serena ao lado bom da América e um passeio pela selva de betão com se fosse pela floresta tropical.
Abraço
Que giro, esta foi a imagem que uma amiga me trouxe de lá em Maio.
Nova Iorque, que sorte!
Abraço,
IO
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