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Jorge Silva Melo
Fim de tarde na Avenida João XXI. A propósito de O que resta do dia, antologia de poesia e prosa de Judith Herzberg, Jorge Silva Melo leu no Pequeno Auditório da Culturgest poemas da autora neerlandesa na sua presença. A escritora que começou a publicar nos anos sessenta é considerada uma das vozes mais representativas da poesia contemporânea europeia. Afirmou uma vez: “Evito afirmações moralistas (…). Tento que o público experimente a mesma confusão que eu, quando observo a realidade.” O pós leitura esteve a mais. Onde há poesia com esta peculiaridade, qualquer ruído — especialmente se tolo, como fatal é quando se estimula a plateia a manifestar, é inútil. Ainda assim, o essencial perdura e é muito confortante.
Coragem
A noite deixou-me outra vez transtornada
lentamente a manhã se enche
de palavras que eu sei de certeza
que significavam alguma coisa, mas o quê?
que ontem significava alguma coisa.
Andar é balançar sobre os pés,
vejo na rua os seres de sangue quente
que tiveram também a inexplicável coragem
de se levantarem
em vez de ficarem deitados.
Nunca ninguém tem a certeza de nada,
de ser amado, de ser abandonado
tudo é possível e tudo é permitido
tudo sucede em alternância.
Agora me lembro o que queria dizer:
enquanto isso não trouxer infelicidade
é uma sensação agradável. Mas no fundo
somos doces como Turkish delight
numa lata cheia de pregos.
Judith Herzberg
Trad. Ana Maria Carvalho Lemmens
7 comments:
Este blog é um desafio à inteligência!...
Bem haja!
:)
(Ai que inBeja!!! lol)
gostei muito de ler, luís!
e tanta gente vive a infelicidade como um karma... e eu sei que há altura em que nos punimos por sermos felizes, como se não tivessemos esse direito.
agora, sei que temos... sei que tenho!
a felicidade é uma sensação muito agradável.
abraço
luísa
Coragem.
o que nos falta.
a muitos.
a outros sobra.
a Si Luis sobra a capacidade de nos fazer sair.evadir. deste lado do chão.
beijo.
_____________encantado.
EXCELENTE, caro LUÌS!!!!!
"Brigados" por mais este post!!!
Magnífico.
Um beijinho*
a noite!
por um lado leva-nos a coragem... por outro, traz-nos o aconchego de estar a salvo, longe do mundo...
gostei muito
abraço
As coisas que por aquis e disseram na minha atarefada ausência. Gsotei do poema e do resto também, como sempre!
Boa semana.
Ah! gostei do filme "Expiação". por mais que queiramos nunca se expia algo que pesa na consciência, há uma tentaiva, alivia-se o fardo mas bem lá no sótão existe a dor de não se ser nobre, acho!
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