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Saturday, July 28, 2007

nonsenses...

(foto por Carlinhos Muller)

Pura Anarquia/(tit. original)Mere Anarchy

«Sinto-me profundamente aliviado pelo facto de o Universo ser finalmente explicável. Começava a convencer-me de que o problema estava em mim.» Começa assim «A física do físico», o singular exercício empreendido por Woody Allen de aplicação das leis do Universo à vida quotidiana.

Pura Anarquia transmite-nos a perspectiva pessoal de Woody Allen sobre temas que vão de amas delatoras («Querida ama») a roupas que cheiram a carne de porco cozinhada duas vezes («Sam, fizeste as calças demasiado bem-cheirosas»), passando por campos de férias de cinema («Calistenia, hera venenosa, montagem final») ou uma visão desapaixonada acerca de uma senhora muito atraente e uma trufa valiosíssima («Que letal se tornou o seu sabor, minha doce amiga»). E ainda fornece uma cunha que se adapta perfeitamente à perna de uma mesa coxa.

Pura Anarquia é clássico Woody Allen – perspicaz, espirituoso, inteligente e irresistível. Com esta colecção de dezoito contos inimitáveis, oito dos quais inéditos e dez publicados originalmente na revista New Yorker, Woody Allen, imaginativo e inventivo como nunca nem ninguém, volta a surpreender-nos.
Texto da Gradiva.

O non sense em toda a sua magnificência. As obsessões mantêm-se. Neuroses comportamentais do dia-a-dia, sempre com uma crítica mordaz. Dos disparates a dar para o surrealista, onde descobrimos vestígios de Buster Keaton ou de Groucho Marx, à paixão pelos russos ou pela “pulp fiction” dos anos 40, passando pelas troças à filosofia, à cientologia ou aos grotescos nova-iorquinos. As histórias de Allen são divertidas e bem conseguidas, onde não faltam empregadas de limpeza wagnerianas. Histórias argutas que satirizam a sociedade contemporânea num estilo que é caracteristicamente de tirar o fôlego. Está lá tudo, com vivacidade idêntica a obras anteriores que líamos com prazer, como Para Acabar de Vez com a Cultura. O sexo, a comida, o amor, a arte e outros temas incontornáveis em dezoito histórias imperdíveis de um criador genial! Neste verão quente é um companheiro de cabeceira ideal, onde se pode mergulhar para rápidos golpes de riso. Explosivamente divertido.

Uma pequena amostra, a propósito de uma Rejeição (um dos contos, talvez o meu preferido), retirado deste Site:

Perhaps the funniest sketch is “The Rejection,” spawned when 3-year-old Misha is rejected from the “very best nursery school in Manhattan.” Boris Ivanovitch cannot face his peers; a dead hare is left on his desk at work; restaurants refuse to serve him and his wife. He hears the ominous tale of another unlucky child, years before — that child’s fate: he had to go to public school, leading inevitably to becoming a murderer. “At the hanging, the boy attributed it all to failing to get into the correct nursery school.

Só mesmo Allan Stewart Königsberg (isto é, Woody Allen)…

P.S Ainda a propósito de non sense, ontem à hora que todas as Cátias Vanessas vão para a praia, fui com o J. ver os Simpsons no grande ecrã. Deparámo-nos com o nu frontal de Bart e uma estranha afinidade de Homer com o universo suíno. The Simpsons é a série de desenho animado mais longa na história da televisão: são 18 anos de gargalhadas! Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie detonam o estilo de vida americano. Não há como ficar indiferente a eles: não há ninguém que não se compare a algum membro da família ou a algum morador de Springfield (por exemplo as irmãs da Marge fazem-me lembrar duas personagens reais que não posso revelar). A vertente masculina daquela família é um autêntico “nojo”; assim qualquer um vira feminista, e sem remorsos… Um pai e um filho completamente dementes e subversivos numa família que, apesar das constantes brigas, subsiste porque é unida. Material sociológico muito curioso para avaliar a sociedade americana. Continuam em grande forma e desta vez num filme que valeu a pena. Ver trailer aqui.

Tuesday, June 19, 2007

rir a bandeiras despregadas...

O que é que deixamos de fazer para assistir a mais um episódio de 24, CSI ou de Lost? O que é que transformou em nós O Sexo e a Cidade ou as Donas de Casa Desesperadas? Não olhamos para o nosso clínico de maneira diferente desde que nos viciamos em dramas médicos tais como Serviço de Urgência, Dr. House ou Anatomia de Gray? E o mafioso italo-americano Tony Soprano, é ou não um indivíduo fascinante? O melhor da ficção para adultos está a acontecer na televisão, não no cinema, sustentam os críticos e os especialistas. Até o meu filho quer ser um CSIs (Crime Scene Investigators). Foram estes alguns dos exemplos apresentados pela jornalista do Câmara Clara de domingo passado, um dos poucos magazines televisivos onde se discute e bem arte e cultura. Mas podíamos reflectir igualmente acerca do que mudou no nosso quotidiano e nas nossas vidas por termos acompanhado sofregamente séries de culto como a belíssima Reviver o Passado em Brideshead (Brideshead Revisited) – uma das obras mais marcantes da televisão britânica, best-seller do autor Evelyn Waugh –, a Família Bellamy (Upstairs, Downstairs), O Império de Carson (Carsons’s Law), Eu, Claúdio (I, Claudius), A Jóia da Coroa (The Jewel in the Crown), Sete Palmos de Terra (Six Feet Under), Anjos na América (Angels in América) embora todas estas séries num registo bem diferente daquela que adiante vou abordar. E outros clássicos, que, apesar de tudo, nunca se desactualizam, nomeadamente Sherlock Holmes (em pleno exercício cerebral nas aventuras televisivas que celebrizaram Peter Cushing e Nigel Stock), as personagens do belga Hercule Poirot e da velha senhora Miss Marple e a colecção de Jane Austen. Mais recuado no tempo a minha mãe deliciava-se com o Bonanza e o Dr. Kildare e enchia a casa com vizinhos para assistirem a mais um episódio (programas que faziam parar as pessoas de um país à volta de uma televisão) e mais tarde até eu trocava o Dallas, o Espaço 1999, Holocausto, Raízes, Balada de Hill Street por algumas matérias do secundário. E que dizer do estilo do Inspector Maigret ou do Columbo, uma série de televisão interpretada pelo actor Peter Falk, que revolucionou as histórias de detectives? Também “dancei” com o Fame e em miúdo vibrei com os Pequenos Vagabundos (Les Galapiats) e o seu espírito de aventura, mistério, tesouros, ladrões, túneis, castelos e muito perigo, era a essência transmitida a uma geração que pela primeira vez começava a ver televisão a cores (todos os rapazes se apaixonaram por Marion e as raparigas faziam beicinho por Jean-Loup) e muitos se emocionaram com o final de Verão Azul (Verano Azul marcou a juventude da Península Ibérica no início dos anos 80, a série da televisão espanhola que narrava as aventuras e desventuras de um grupo que se conhece durante as férias grandes na cidade de Nerja, em Málaga). Está tudo aí numa FNAC perto de nós…

Todo este arrazoado para aportar noutro registo, em Little Britain – passou na RPT 2, logo após o Câmara Clara – uma série da BBC, escrita e representada por Matt Lucas e David Walliams, em que os numerosos sketches humorísticos decorrem em cidades fictícias com nomes como Flange, Herby City, Llanddewi Brefi ou Scoffage. Little Britain leva-nos a uma volta surrealista por diversos locais das ilhas britânicas onde vamos conhecer toda a espécie de gente, excêntricos, lunáticos, socialmente desajustados. Os sketches são ligados entre si por comentários inacreditáveis, com conteúdo frequentemente disparatado sobre a Grã-Bretanha (por exemplo, "temos água corrente há mais de dez anos, um túnel que nos liga ao Perú, e inventámos o gato" ou "o destino favorito para passar férias, depois da Sibéria, é a Escócia"). Personagens hilariantes tais como Andy, um falso paralítico na sua cadeira-de-rodas, Daffyd, um homossexual assumido numa pequena vila do País de Gales, que acredita piamente ser "o único gay da vila" e recusa aceitar que possam existir outros, Majorie e o seu grupo de terapia colectiva anti-banhas, Sebastian Love, assessor do Primeiro-Ministro, com forte pancada por este, Bubbles DeVereGorda do Spa, uma mulher com obesidade mórbida que já passou vários meses numas termas sem pagar um tostão, fugindo repetidamente ao gerente que a persegue, Harvey Pincher, um homem que ainda não foi desmamado, Linda Flint, uma funcionária escolar que insulta os estudantes, Gary, o adolescente com uma estranha atracção pela avó do seu melhor amigo…

Embora seja igualmente fã de séries de humor como The Office (com o irritante e patético chefe Michael Scott), Keeping up the Appearances (com a snobissima Hyacinth Bucket e os seus famosos candle light dinners) ou o inolvidável Allo Allo (com o seu René Artois, digno proprietário de um café muito especial, onde as mulheres querem o seu corpo, a Resistência o seu cérebro e os alemães... algo que ele não quer dar por nada deste mundo; sem esquecer a famosa frase “Listen very carefully... I shall say this only vance!”), mais umas quantas, tais como Black Adder, Fawlty Towers, Yes Minister, A Vigária de Dibley, Mr. Bean, Absolutely Fabulous…, rebolo-me com as perspicazes piadas da maldosamente divertida Little Britain e tenho que reconhecer que algumas tiradas desta série, ao jeito de "sketch show", de humor muito especial e corrosivo, politicamente incorrecta, são brilhantes. Uma mistura de alta comédia, com graças absurdas e referências às bizarrices quotidianas da vida na terra da Queen Elisabeth e da sua nora Duchess of Cornwall. Pegam na essência da tragédia (comédia?) britânica: um provincianismo riquíssimo, com iguais doses de conversadorismo e hiper modernindade, num complexo de superioridade – o sentimento de que são o centro do universo, os "outros" são apenas figuras curiosas e peculiares e esse tal de multiculturalismo é tão só algo momentâneo. Essa atitude pode ser uma espécie de resposta anglo-saxônica das ilhas: rir de si mesmo, ridicularizar o modus vivendi chauvinista e cosmocêntrico.

Esta série caustica é uma desconstrução atípica do Reino Unido, do seu antigo império e sobretudo das gentes da Grã-Bretanha. Assenta no tal vasto leque de personagens, perfeitamente insanes, interpretadas na maioria pelos próprios criadores, grotescos e caricaturados ao extremo. Little Britain coloca o dedo na ferida ao fazer repetidas alusões a tabus que assolam as sociedades actuais, tentando uma reformulação social ainda que fictícia. O facto de não se importarem em levar ao limite a caricatura e de se exporem ao ridículo mostram que ainda se consegue criar, escrever e interpretar com enorme qualidade. Os autores pegam nas abundantes pequenas idiossincrasias da sociedade de forma tal que as elevam ao patamar de gags. Não é por acaso que a televisão pública polaca censurou um episódio devido a uma cena na qual um pastor homossexual beija um amigo. A cena eliminada além do beijo, contém imagens do pastor e do seu amigo a discutirem frente a um stand de produtos eróticos num mercado ao ar livre.

Quem não gosta de humor inglês faz parte da administração da TV pública polaca, encontra-se desprovido de senso ou anda muito abespinhado com a vida. Little Britan não foi arquitectada a pensar nos que não gostam de humor inteligente. Para os que não prescindem de rir, sem complexos ou tabus, esta é a série indicada.

Estamos perante o humor britânico no seu melhor …

Vou ter que adquirir a série em DVD e nem que me veja forçado a levantar às 6 da manhã de um sábado qualquer, pregar-me junto ao leitor de vídeo e deliciar-me horas a fio com estes apontamentos humorísticos que me fazem rir a bandeiras despregadas…

Humor do latim humore é uma forma de entretenimento e de comunicação humana, para fazer com que as pessoas riam e se sintam felizes. As origens da palavra "humor" assentam-se na medicina humoral dos antigos Gregos, que é uma mistura de fluidos, ou humores, controlados pela saúde e emoção humanos (pt.wikipedia.org/wiki/Humor)